Revista Exame

Porto seguro para investimentos

Com a economia estabilizada, país avança com reformas e conquista avaliação positiva nas agências de rating

Mercado consumidor: com mais de 203 milhões de habitantes, Brasil atrai investidores estrangeiros (Germano Lüders/Exame)

Mercado consumidor: com mais de 203 milhões de habitantes, Brasil atrai investidores estrangeiros (Germano Lüders/Exame)

Marcus Lopes
Marcus Lopes

Jornalista colaborador

Publicado em 10 de novembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 13 de novembro de 2023 às 14h10.

Em meio às turbulências políticas e econômicas que ocorrem ao redor do planeta, agravadas por situações de guerra na Ucrânia e no Oriente Médio, o Brasil desponta como porto seguro confiável e de oportunidades para novos negócios e investimentos estrangeiros. Após um período desafiador com os efeitos da pandemia de covid-19, o país busca retomar o leme do desenvolvimento sustentável e apresenta melhoria no desempenho de seus índices econômicos, tais como: controle da inflação, queda de juros, aumento do consumo por parte da população, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e plano de médio prazo para a redução do déficit público.

“O cenário macroeconômico apresenta um pouco mais de previsibilidade e estabilidade. São fatores que trazem mais confiança para o investidor estrangeiro, tanto o especulativo, que traz capital para investir em ativos financeiros no Brasil, como também os grandes agentes econômicos que investem realmente no desenvolvimento da indústria, do agronegócio e na área de serviços”, avalia o consultor Acilio Marinello, coordenador de MBA na Trevisan Escola de Negócios.

Parte desse reconhecimento do potencial brasileiro veio em recente declaração do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que o país deve retornar ao ranking das dez maiores economias do mundo ainda em 2023, encerrando o ano na nona posição. “Há uma política econômica clara, um Banco Central independente que tem atuado de maneira firme para evitar a hiperinflação e, mesmo com todos os programas sociais, existe um projeto para reduzir o déficit do governo. Isso é muito importante para os agentes econômicos”, afirma Marinello.

Em 2022, a economia brasileira cresceu 2,9%, e o Produto Interno Bruto (PIB) fechou em 1,6 trilhão de dólares, segundo dados do IBGE. Para 2023, a projeção do Ministério da Fazenda aponta para um crescimento de 3,2% do PIB — o mercado estima 2,9%. No início do ano, os agentes econômicos projetavam crescimento de 0,8% do PIB. O Brasil também se destaca como destino global para investimentos estrangeiros diretos (IED), e somou 86 bilhões de dólares de IED em 2022, o quinto maior beneficiário mundial, segundo dados da  Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

Com mais de 203 milhões de habitantes, segundo o último Censo do IBGE, o país tem registrado aumento do mercado de consumo — apesar das persistentes desigualdades sociais. No primeiro semestre de 2023, as vendas registradas nos supermercados brasileiros aumentaram 2,47%, segundo levantamento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Apenas no mês de junho, o aumento foi de 0,5% em relação a maio e quase 7% em relação a junho do ano passado. “É uma população economicamente ativa. Apesar da grande desigualdade social, mesmo as camadas mais baixas consomem produtos e serviços. Logo, é um mercado consumidor que atrai os investidores estrangeiros”, diz Marinello.

Congresso Nacional: em tramitação, reforma tributária promete simplificar a cobrança de impostos (Lula Marques/Agência Brasil)

O avanço das reformas

No Congresso Nacional, o governo federal acelera com uma agenda de reformas estruturantes, com destaque para a reforma tributária, que promete simplificar o complexo sistema de tributos brasileiros, um dos entraves para o desenvolvimento do país. Depois de ter sido aprovada pela Câmara dos Deputados em julho deste ano, o texto seguiu para o Senado Federal. A expectativa é de aprovação definitiva ainda neste ano.

Com ventos favoráveis, em poucos meses o país voltou ao radar dos investidores, e as agências de classificação de risco elevaram as notas do Brasil. O movimento começou em junho deste ano, quando a Standard & Poor’s Global Ratings (S&P) revisou a nota do Brasil de “estável” para “positiva”. Segundo a agência, uma das três maiores de classificação de risco do mundo, a mudança foi motivada pelos resultados econômicos obtidos no primeiro semestre, como o crescimento contínuo do PIB, e o que a agência chamou de “organização da política fiscal” por parte da equipe econômica do governo.

Um mês depois, em julho, outra importante agência de classificação de risco, a Fitch Ratings, elevou a nota de crédito soberano do Brasil de “BB-" para “BB”, com perspectiva estável. Além dos argumentos já citados pela S&P, a Fitch destacou o avanço das reformas tributária e da Previdência, que foi aprovada em 2019 e prevê economia de até 1 trilhão de reais em dez anos, e a independência do Banco Central.

“O Brasil alcançou progresso em importantes reformas para enfrentar os desafios econômicos e fiscais”, diz trecho do relatório da Fitch, que também destacou o fato de a polarização política não ter contaminado a agenda econômica. “As tensões políticas persistem, mas não culminaram em resultados econômicos ou políticos adversos e refletem o funcionamento eficaz dos freios e contrapesos.”

Outra integrante do seleto grupo das grandes agências de classificação de risco, a Moody's, prefere adotar a cautela e, por enquanto, manteve a nota do Brasil Ba2, com perspectiva estável. Em declarações à imprensa, porém, a vice-presidente e analista sênior de riscos soberanos da Moody's, Samar Maziad, demonstrou otimismo e afirmou que a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal propostos pelo governo abrem perspectivas positivas ao país.

“É sempre importante para os fundamentos econômicos o reconhecimento de uma agência de rating ao trabalho de reformas implementadas, como o novo arcabouço fiscal e a primeira fase da reforma tributária. Isso repercute na atratividade do país e seus inúmeros projetos de investimento”, avalia Ricardo Martins, economista-chefe da Planner Corretora.

Para Mara Limonge, diretora de Relações com Empresas e Eventos da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec Brasil), à medida que outras agências de classificação de risco revejam essas notas — desde que mantidas as tendências de melhora —, o investimento estrangeiro passa a ser direcionado para o país. Ela destaca que os maiores investidores internacionais, como endowments e fundos de previdências têm em suas políticas de investimento a restrição a países que não sejam bem classificados em ratings internacionais. “Ao atingir o grau de investimento novamente, o Brasil passará a ter um volume expressivo de recursos autorizados a investir”, diz.

Inflação sob controle

Diferentemente de países vizinhos, como a Argentina, o Brasil tem conseguido controlar a inflação e mantê-la dentro das metas estabelecidas. O Banco Central (BC) revisou suas projeções em outubro, e a estimativa é que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação brasileira, encerre 2023 em 4,65% ao ano. Caso as projeções do BC sejam concretizadas, o país vai encerrar o ano dentro das metas inflacionárias estabelecidas pelo governo no início do ano: 3,25%, com tolerância de 1,5% para mais ou para menos.

Para 2024, a projeção do BC aponta para inflação de 3,88%, também com margem de tolerância de 1,5% para cima ou para baixo. A meta do governo para o IPCA em 2024 é de 3%, podendo chegar a 4,5% com a margem de tolerância. A cotação do dólar, que sofreu em 2022 com as oscilações decorrentes do cenário internacional, como a guerra na Ucrânia, voltou a patamares aceitáveis e deve encerrar o ano praticamente estável, na casa dos 5 reais por 1 dólar, o que também é um fator que aponta para maior estabilidade da economia brasileira.

Os efeitos da inflação provocam reflexos nas taxas básicas de juros (Selic), que devem permanecer altas em 2024, mas com clara tendência de baixa. Segundo o Banco Central, as taxas básicas de juros devem chegar a 11,75%, em um ciclo de cortes que começou em agosto, quando a Selic estava em 13,75% ao ano. O governo federal defende a redução das taxas de juros para incentivar o crescimento do país.

Sede da S&P, em Nova York: agência de classificação de risco revisou rating do Brasil neste ano (Cem Ozdel/Anadolu Agency/Getty Images)

O BC, por sua vez, avalia que a queda nos juros depende diretamente do comportamento da inflação. “O Banco Central manteve taxas bastante elevadas e muitas vezes foi questionado pelos próprios agentes do governo e grandes empresários, mas o resultado provou que, apesar do remédio amargo, o efeito foi positivo. A inflação tem desacelerado mês a mês”, diz Marinello, da Trevisan.

Para o próximo ano, os especialistas alertam que o país deve continuar com atenção especial às reformas, controle da inflação e dos gastos públicos. Ainda mais em um cenário de grandes conflitos internacionais na Ucrânia e no Oriente Médio. “O momento global de tensão pode ter reflexos no país. A questão fiscal segue como ponto de atenção. Mas não nos níveis de preocupação que o mercado inicialmente previu, dado que a regra fiscal tem gatilhos para evitar disparo da dívida pública”, diz Mara Limonge, da Apimec.

Para Marinello, da Trevisan, as atenções devem estar voltadas para uma possível escalada no conflito no Oriente Médio, que poderia ter impactos no mercado mundial de petróleo. “Talvez o Brasil tenha um pouco mais de resiliência por ser uma economia diversificada, possuir uma planta energética também diversificada e ter ainda reservas internacionais que lhe dão certa proteção para passar um momento de turbulência global, caso esse conflito se estenda”, avalia o consultor.

De mais a mais, após um longo período de incerteza econômica, o cenário é de estabilidade e crescimento. Ótimos sinais para investidores internacionais.


Brasil entre as economias mais aquecidas

Ranking das Nações Unidas classifica país entre os cinco polos mais atraentes para investimentos

O Brasil é atualmente o quinto maior destino global para Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). No ano passado, o país somou 86 bilhões de dólares de IED, ficando atrás apenas de Estados Unidos, China, Singapura e Hong Kong — e à frente de países como Austrália, Canadá e França. Em comparação a 2021, o Brasil galgou uma posição no ranking geral de IED. Naquele ano, os investimentos estrangeiros em território nacional somaram 51 bilhões de dólares. Os dados constam da edição 2023 do Relatório de Investimento Mundial, elaborado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). O documento aponta que, após uma forte recuperação em 2021, o IED global caiu 12% em 2022, somando 1,3 trilhão de dólares, ante os 1,5 trilhão de dólares em 2021. A queda, motivada por fatores como a guerra na Ucrânia e a elevação nos preços dos alimentos e da energia, foi sentida principalmente nas economias desenvolvidas, onde o IED caiu 37% entre 2021 e 2022. Por outro lado, os fluxos de investimentos para países em desenvolvimento saltaram 4%.


10 motivos para acreditar (e investir) no Brasil

1. Maior economia da América Latina, o país se reposicionou nas principais agências de classificação de risco do planeta, como Fitch e S&P.

2. Amplo mercado de consumo e fornecimento de mão de obra.

3. Abundância de diversidade energética e sustentabilidade ambiental. Mais de 85% da matriz elétrica brasileira é composta de fontes renováveis e consideradas limpas, como hidrelétrica, eólica e solar.

4. Equilíbrio nas contas públicas: inflação sob controle, avanço de grandes reformas estruturais, como a tributária, e planos de redução do déficit público.

5. Economia altamente diversificada, com destaque para o agronegócio, que contribui com 24,8% do PIB brasileiro. Um dos maiores fornecedores mundiais de commodities, como grãos e minérios.

6. O país é o quinto maior beneficiário mundial de investimentos estrangeiros diretos.

7. Crescimento de investimentos comprometidos com redução de emissão de carbono, em projetos como energia eólica e solar, hidrogênio verde e biomassa. Ao todo, 7% da produção mundial de energia renovável vem do Brasil.

8. Mercado de capitais seguro e regulação equivalente à das grandes economias.

9. Bom relacionamento do país com as demais economias.

10. Protagonismo e comprometimento do Brasil com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

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