Revista Exame

Entenda como a inteligência artificial pode ser aplicada aos vinhos

Sim, tem robô fazendo as vezes de sommelier. E de agrônomo. E até de enólogo

 (Catarina Bessell/Exame)

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Rodrigo Lanari
Rodrigo Lanari

Empresário

Publicado em 28 de julho de 2023 às 06h00.

Última atualização em 18 de agosto de 2023 às 16h48.

Sabe aquele vinho fantástico que você garimpou no site da importadora? Desculpe dizer, mas foi um robô que escolheu e convenceu você a comprar.

A inteligência artificial já influencia a tomada de decisões a respeito de qualquer coisa. Pense nos aplicativos de encontro: tem lá um programinha que analisa preferências para apresentar a você o possível amor da sua vida. Por que seria diferente com o vinho, tão mais corriqueiro? Sim, tem robô fazendo as vezes de sommelier. E de agrônomo. E até de enólogo.

Dois négociants do Languedoc, no sudoeste francês, puseram o ­Chat­GPT para criar um corte à base de grenache e syrah. O robô sugeriu a proporção de cada variedade, o envase em garrafa borgonhesa (de forma afunilada) e um preço ao consumidor entre 50 e 100 euros. “Esse é o único ponto em que não seguimos a recomendação”, disse Anthony Aubert, com inteligência natural de comerciante, ao site Vitisphere. No canal oficial da Aubert & Mathieu, cada garrafa do The End é vendida por 29,90 euros, com a promessa de entregar um vinho feito em colaboração com “um dos modelos de linguagem mais avançados do mundo”.

No campo, a inteligência artificial ajuda a determinar datas de plantio, poda e colheita, sugere correções de solo e de irrigação, mapeia vinhedos e indica as melhores parcelas para cada perfil de vinho. As respostas da máquina são fruto de análise e cruzamento de informações geológicas, meteorológicas, físico-químicas e botânicas. Um volume de dados que o cérebro humano é incapaz de processar numa vida inteira.

Para quem não trabalha com vinho, importa ainda mais a ação dos robôs nos hábitos de compra. Tem IA no aplicativo Vivino, por exemplo. A plataforma é um gigantesco coletor de informações dos usuários que a alimentam com impressões pessoais e que se tornam padrões computacionais. O mesmo se passa com os clubes de vinho, sites de compra e aplicativos de supermercado. A máquina detecta hábitos de consumo e sugere mais do mesmo, exaustivamente, até uma mudança de hábito reordenar as indicações robóticas.

Isso não condena os sommeliers à aposentadoria compulsória. De posse das informações obtidas por inteligência artificial, um bom profissional é capaz até de antecipar uma evolução no gosto do comprador, ou mesmo induzi-la. Nada substitui a conversa olho no olho.

Não haverá apocalipse robô, muito menos um paraíso de máquinas oniscientes. A inteligência artificial é limitada pela inteligência humana, que, como se sabe, é falha. O vinho está sujeito ao imponderável, à intempérie, à natureza. Algoritmo é ciência exata, vinho não é.

Assim como o Tinder nunca vai forçar o casamento de duas pessoas que ele julga 100% compatíveis, nenhum robô enófilo é capaz de impor escolhas somente com base em parâmetros matemáticos.

A máquina apenas sugere. Quem decide no fim é você.

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