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As duas primeiras décadas do século 20 foram marcadas por uma revolução sem precedentes no mundo das artes em geral. Simultaneamente surgiram inúmeros movimentos, novas linguagens e, num período tão restrito, tudo mudou. Era a arte moderna, diversa e abundante, aberta e indefinível diante de tantas definições.

Já nas primeiras décadas do século atual, fomos brindados com uma renovação estética mais volátil: a do gosto, no sentido stricto sensu da palavra. Dentro do universo do gosto, o vinho é quem mais enfaticamente desenha novos caminhos. Em tão curto tempo surgem múltiplos vinhos, novas re­giões, métodos, estilos, numa velocidade das mais espantosas ­— e, para além do novo propriamente dito, a renovação da tradição, reforçando-a ainda mais.

É a diversidade que gere os novos tempos, um mundo que se amplifica através da interação entre várias culturas, criando, na valorização do que é local, um cenário mais plural.

No final dos anos 1980 do século passado já se esboçava um novo cenário mundial na área vitivinícola, com a busca de mais originalidade, em resposta à conformidade da tradição e, ainda, da uniformização, que seguia uma cartilha pregando a “cabernização” e a “chardonização”, e equívocos no que tocava o envelhecimento em barricas e outras práticas. É claro que vinhos barricados a partir de cabernet e chardonnay podem ser maravilhosos, mas a mesmice, contrária à diversidade, era quem bradava com mais força.

Voltando à atualidade, o resgate das uvas autóctones foi um fator fundamental para a transformação, e vou dar apenas dois exemplos. A região de Manchuela, na Espanha, incentivava a substituição da local bobal pela francesa cabernet sauvignon, quando então a Bodegas Ponce, onde predominava a uva bobal, que até então produzia vinhos diluídos, começou a produzir vinhos de alta qualidade.

A questão da qualidade não estava ligada à uva, mas ao cuidado com as vinhas e à maneira de fazer o vinho. Num antigo dicionário de castas, a celebrada crítica Jancis Robinson escreve que a grolot noir (uva do Vale do Loire) produz vinhos muito ásperos e que, felizmente, essas vinhas estavam sendo erradicadas, dando lugar ao plantio de outras. Anos mais tarde, num encontro em São Paulo, eu a encontrei. Quando toquei nesse assunto, ela se desculpou dizendo que essa colocação era coisa do passado. Mesmo Jancis, com todo o seu estofo, colaborava com a padronização. Era uma maneira de pensar, um erro histórico.

Hoje, há um resgate de uvas e métodos esquecidos, junto com novos procedimentos técnicos, a reestruturação de regiões tradicionais e o aparecimento de outras. Assim, a cada ano, surgem inúmeros novos vinhos. Os clássicos, claro, ainda encantam, mas um novo mapa vitivinícola se desenha.

Bom para os produtores, bom para os consumidores.


(Arte/Exame)

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