Revista Exame

Com pandemia, fugir para as montanhas vira opção para quem quer se isolar

A região de Petrópolis, no Rio de Janeiro, ganha hotel e condomínio butique para quem quer se isolar em meio à natureza — tendência que segue em alta na pandemia

Lobby da Casa Marambaia: o antigo casarão de dois andares com cômodos enormes e pé-direito alto foi adaptado para o novo modelo de negócios  (Denilson Machado/MCA Estudio/Divulgação)

Lobby da Casa Marambaia: o antigo casarão de dois andares com cômodos enormes e pé-direito alto foi adaptado para o novo modelo de negócios (Denilson Machado/MCA Estudio/Divulgação)

DS

Daniel Salles

Publicado em 15 de abril de 2021 às 05h39.

Uma joia imobiliária nos arredores de Petrópolis, na Serra Fluminense, desfrutada até aqui por um número reduzido de pessoas, está de portas abertas desde dezembro passado. Falamos da Fazenda Marambaia, que se espalha por 2,5 milhões de metros quadrados e foi concebida na década de 1940 por Odette Monteiro.

Rodeada por montanhas aparentemente intocadas pelo ser humano — uma delas remete ao Pão de Açúcar —, a propriedade deve sua fama principalmente a um jardim assinado por Roberto Burle Marx, que se espalha pela enorme área que separa a sede da fazenda das encostas vizinhas, dando a impressão de que até as montanhas — o céu, inclusive — integram o projeto paisagístico.

Burle Marx, por sinal, teria incluído o lago, hoje dominado por um casal de cisnes-negros, para dar fim a um problema de drenagem e para refletir o céu e a vegetação próxima. “Da casa não dá para dizer onde o jardim termina. Gosto dele principalmente por isso”, disse Monteiro numa entrevista antiquíssima (como é de imaginar, ela faleceu faz tempo).

A sede, um casarão de dois andares com cômodos enormes, todos com pé-direito alto, foi transformada em um hotel butique. A Casa Marambaia dispõe apenas de sete suítes, cujas diárias partem de 2.000 reais, só com café da manhã. A parte interna do casarão foi repaginada pelo escritório de arquitetura Projeto Mix, que elegeu cores quentes para as paredes, além de móveis e lustres chamativos. Claudia Aguiar, dona da loja de móveis e roupas Maria Maria, em Itaipava, foi incumbida da escolha dos objetos que decoram os ambientes. Os jardins foram recuperados pelo escritório de paisagismo ­Arteiro, também de Itaipava.

De mármore travertino, a piscina ladeia uma academia de respeito. A propriedade dispõe de quadras de tênis, cachoeiras e tri­lhas para passeios a pé, de bicicleta ou a cavalo. Observação guiada de pássaros e aula de ioga ao ar livre são outras atividades ofertadas. “Não é um hotel que tem um jardim — é o contrário”, diz Emir Penna, que dirige a rede responsável pela gestão, a Promenade. “Em razão do contexto em que vivemos, somos procurados principalmente por pessoas que querem se reconectar com a natureza depois de meses e meses trancadas em casa.”

(Arte/Exame)

O menu do restaurante, aberto também a não hóspedes, foi concebido por dois chefs franceses, Roland Villard e David Mansaud, e um carioca, Bruno Hamad. Lista pratos como peito de pato defumado com beterraba assada e queijo fresco (48 reais) e polvo com ragu de batata, alho confitado, aspargos e cogumelos (98 reais). Instalado em outro ambiente, domi­nado por uma mesa de sinuca, o bar expede drinques clássicos e alguns mais inventivos.

Registre-se que a Casa Marambaia poderia ter saído das pranchetas de dois arquitetos que lhe dariam ainda mais fama, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Reza a lenda que Burle Marx sugeriu aos primeiros donos da fazenda o nome dos dois para projetar a casa. As exi­gências apresentadas, porém, fizeram com que ambos pulassem do barco (a propriedade também pertenceu a Luiz Cezar Fernandes, um dos fundadores do Garantia e do Pactual, atual BTG Pactual, que controla a EXAME).

Não é só com seu hotel e restaurante que a Fazenda Marambaia pretende faturar — o nome do atual proprietário, assim como a cifra investida por ele, é mantido em sigilo. A propriedade está ganhando também um condomínio, capitaneado pela incorporadora ­Pilar. As fases iniciais preveem casas com metragens que partem de 109 metros quadrados. As menores se resumem a quarto, sala integrada à cozinha, banheiro e varanda, e todas dispõem de amplos janelões, do chão ao teto, que emolduram a exuberante vegetação ao redor.

As primeiras 42 já foram vendidas — as que estão à venda custam a partir de 700.000 reais, com entrega prometida para 2022. Terrenos para quem almeja construir por conta própria também estão previstos no projeto. Seu sucesso espelha a alta, registrada desde que a pandemia se instalou no país, de condomínios afastados das cidades e em meio à natureza, como casa no campo ou para fazer as vezes de segunda residência.

A JHSF que o diga. Com sua Fazenda Boa Vista, no interior de São Paulo, um dos mais bem-sucedidos condomínios do tipo, no qual funciona um hotel Fasano, a incorporadora embolsou 848,7 milhões de reais no ano passado. Com o Boa Vista Village, um empreendimento vizinho lançado em dezembro de 2019, amealhou outros 297,7 milhões de reais. A vida em meio à natureza é doce. E, para alguns empreendedores, pode ser lucrativa.

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