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Foco na firma: empresas limam reuniões e investem em rituais para enjagar uma geração hiperconectada

Em meio ao avanço do trabalho presencial, empresas estão às voltas com funcionários distraídos num mundo cheio de telas — e querem a atenção deles de volta

Beatriz Olivares, da Suzano: 'Regras de Ouro' para reuniões mais concisas e durante o expediente (Suzano/Divulgação)

Beatriz Olivares, da Suzano: 'Regras de Ouro' para reuniões mais concisas e durante o expediente (Suzano/Divulgação)

Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 16h58.

Executivos ao redor do planeta estarão unidos num só grito de guerra em 2024: de volta aos escritórios — já! A pressão pelo trabalho presencial está ligada a uma percepção de maior produtividade.

De acordo com um estudo da consultoria global Gartner com 70 executivos de recursos humanos das principais economias, incluindo o Brasil, seis de cada dez entrevistados relacionam o aumento no número de dias obrigatórios no escritório com a melhoria do desempenho dos funcionários.

“Em vez de só dois dias presenciais, o número tem subido para três ou quatro dias”, diz Nelson Kavatoko, diretor de negócios da Gartner. “Muitos processos estão sendo alterados para colocar mais pessoas nos escritórios.”

Excesso de trabalho para fazer trabalho

Não é ainda o retorno ao trabalho 100% presencial: o híbrido, com um ou dois dias remotos, é o padrão para 47% das empresas da América Latina, de acordo com a Gartner.

Daqui para a frente, a questão será adaptar uma porção de rotinas corporativas adquiridas nos anos de pandemia para novos tempos, com mais trabalho presencial. O home office abriu as portas para uma agenda repleta de reuniões pelo Zoom.

Não raro agendados um na sequência do outro, sem intervalos, esses encontros ficaram marcados pela distração. Muita gente sem abrir a câmera do computador estava no encontro apenas de corpo presente. A atenção estava em qualquer outro lugar — até mesmo no trabalho para um concorrente.

Na volta ao batente presencial, essa mesma mão de obra sofre com os cacoetes adquiridos no home office cujos efeitos nocivos podem ser ampliados no escritório. A começar pela batelada de reu­niões. A maioria delas terá alguém participando de maneira remota.

Aí, haja paciência dos times de TI para dar conta de problemas de tecnologia, como o mau contato entre os cabos que conectam laptops às câmeras e telões. Entre quem está participando de maneira presencial, o desafio é fazer  as pessoas voltarem a olhar umas para as outras — e não nas telas de laptops, celulares, smartwat­ches e outros tantos gadgets que ganharam peso na vida das pessoas durante a pandemia.

Um estudo da Gartner com 2.280 funcionários mostra que 53% deles experimentam um excesso “de trabalho para fazer trabalho”. Ou seja, gastam tempo significativo em tarefas que não fazem parte de suas responsabilidades, como configurar softwares para realizar uma reunião híbrida, por exemplo.

Os dias de trabalho perdidos por causa da falta de foco e por problemas de saúde mental levam a um prejuízo global de 9% do PIB global em função da falta de engajamento dos funcionários, de acordo com estimativa do instituto Gallup.

As regras da reunião

Devido a isso tudo, muitas empresas estão criando rituais para recuperar o foco de seus funcionários. No gigante de papel e celulose Suzano, a saída foi baixar uma regra disciplinando os horários para reuniões.

Chamadas por ali de Regras de Ouro, elas estipulam que os encontros devem ocorrer em horário comercial. É uma maneira de coibir a tentação de marcar papos em horários inconvenientes, como na madrugada.

Reuniões de trabalho no almoço também estão vetadas. “Enfrentamos um aumento no número de reuniões no home office”, diz Beatriz Olivares, diretora de gente e gestão da Suzano. “As regras servem para incentivar encontros mais concisos e eficientes."

Há ainda quem aposte em reformas do ambiente de trabalho para abrir espaço a mais cabines individuais a quem busca mais concentração. A presença desse tipo de estrutura é a comodidade preferida para a volta ao escritório por 76% das lideranças de RH ouvidas no estudo da Gartner.

A atenção das empresas ao foco dos funcionários já está, inclusive, abrindo espaço para novos negócios. Em breve, a startup mineira Way Minder lançará uma função na qual um robô virtual usará inteligência artificial para, por meio de conversas, medir o grau de atenção de um funcionário às tarefas a serem cumpridas.

“No serviço, a inteligência artificial fará perguntas distintas para cada funcionário que participou da reunião, com o objetivo de compreender se a reunião foi produtiva, se há excesso de reuniões, se o tom das reuniões foi assertivo, entre outros aspectos”, diz Keziah Souza, sócia da Way Minder. “Dessa forma, buscamos trazer dados que possam contribuir para o bem-estar do funcionário e para a melhoria da produtividade.”

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