Revista Exame

Como se dar bem em investimentos financeiros agora

A situação econômica do país piorou. Os juros foram elevados para conter a alta dos preços. Os investidores estrangeiros estão de saída. Para quem aplica na renda fixa, porém, há novidades interessantes


	Banca de venda de tomate, vilão da inflação em 2013: papéis atrelados ao IPCA são boa alternativa
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Banca de venda de tomate, vilão da inflação em 2013: papéis atrelados ao IPCA são boa alternativa (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 19h19.

São Paulo - Numa carta enviada a clientes em novembro, Luis Stuhlberger, gestor do Verde, fundo multimercado mais bem-sucedido do país, escreveu que 2013 foi o ano da “decepção da manada”. Ele não se referia à bolsa, mas à renda fixa.

A maioria dos analistas começou o ano passado achando que a taxa básica de juro, a Selic — que ficou em 7,25% até meados de abril —, dificilmente subiria e, se subisse, certamente não chegaria aos dois dígitos. Mas o cenário mudou, e por dois motivos.

O primeiro, a alta persistente da inflação, que forçou o Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, a subir a Selic sete vezes seguidas, chegando aos 10,5% atuais. Além disso, a recuperação econômica nos Estados Unidos elevou os juros pagos pelos títulos de dez anos do Tesouro americano.

Com a possibilidade de ganhar mais aplicando lá fora, grandes fundos internacionais passaram a exigir taxas maiores para deixar seus recursos aqui. Essa combinação de fatores causou a reviravolta que se viu no mercado brasileiro de renda fixa. E muita gente perdeu dinheiro, sobretudo fundos de renda fixa que se atulharam de títulos que desvalorizaram com o aumento dos juros em 2013.

E agora? O fato é que as perspectivas para a economia brasileira estão ainda piores. Mas, para quem tem dinheiro na mão, o recente aumento dos juros cria oportunidades que não eram vistas há tempos. O rendimento de aplicações de baixo risco aumentou, e muito, no último ano.

Tem sido possível garantir um rendimento anual próximo a 7% acima da inflação. “Pela lógica do risco e do retorno, as melhores alternativas estão na renda fixa”, diz Paulo Corchaki, responsável pela área de investimentos do banco UBS no Brasil.

Quais são elas? Veja, a seguir, as principais indicações para os próximos meses de 12 gestores de recursos e analistas ouvidos por EXAME (a manada espera não se decepcionar desta vez).

1 Investimentos que protegem da inflação

Investimento mínimo: 100 reais

Os títulos públicos atrelados à inflação (NTN-Bs) são os investimentos de renda fixa mais indicados pelos especialistas atualmente. Isso porque têm risco baixo, rentabilidade elevada e podem ser negociados toda semana pela internet.

Esses papéis são emitidos pelo governo brasileiro, e as taxas pagas por eles dobraram no último ano. Ainda que as principais agências internacionais de classificação de risco tenham afirmado que podem rebaixar a nota do país, em razão da piora da situação fiscal nos últimos meses, a chance de o governo brasileiro dar o calote e simplesmente deixar de pagar por esses títulos é vista como baixíssima. 


Quem compra uma NTN-B hoje consegue um rendimento anual, já descontada a inflação, de cerca de 7% — esses papéis têm data de vencimento preestabelecida (os de mais curto prazo vencem em 2019; os mais longos vencem em 2050). Nenhum país no mundo tem juros reais superiores a 4% ao ano.

Títulos atrelados à inflação lançados na Índia, por exemplo, pagam 1,4% ao ano acima da inflação. “É uma excelente oportunidade para comprar”, diz Marco Freire, responsável pela área de renda fixa da gestora Franklin Templeton no Brasil.

Quem decidir aplicar deve estar disposto a manter os papéis até o vencimento. Isso porque o valor desses títulos pode oscilar muito no curto prazo, de acordo com a procura por eles. No fim de janeiro, as negociações desses títulos chegaram a ser suspensas em razão da volatilidade provocada pela piora da situação econômica na Argentina.

Para o investidor que não quer saber de altos e baixos, o ideal é manter a aplicação até o vencimento — assim, ele recebe exatamente a rentabilidade combinada na hora da compra (descontado o imposto de renda, que varia de 15% a 22,5% do rendimento). Na opinião da maioria dos especialistas, é melhor fazer esse tipo de aplicação diretamente — ou seja, por meio do site do Tesouro Direto.

Eles desaconselham investir via fundos, porque a variação no preço desses títulos tem impacto mensal no desempenho. Comprar os títulos públicos federais sem intermediários é mais barato, mais simples e mais seguro.

2 Aplicações sem imposto

Investimento mínimo: 1 000 reais

Investir sem pagar imposto de renda é cada vez mais comum. As principais modalidades são as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito Agrícola (LCA), indicadas para quem pode deixar o dinheiro aplicado por mais de dois anos. As LCIs têm como lastro operações de crédito imobiliário.

O rendimento é garantido pelo banco que a emitiu e, se a instituição financeira quebra, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) cobre até 250 000 reais por investidor. A mesma lógica vale para a LCA. Quem tem 100 000 reais consegue rendimento anual de 95% do CDI, ou 10%, isento de imposto de renda.

Para dar retorno semelhante, um CDB — que paga pelo menos 15% de imposto — deve render 112% do CDI. Outra opção são os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), que também têm como lastro operações de financiamento imobiliário, mas são diferentes das LCIs.

Em geral, o investimento mínimo é de 300 000 reais e o prazo de vencimento é superior a sete anos. O risco é maior — como não há garantia bancária, em caso de inadimplência o investidor perde dinheiro —, mas a rentabilidade também é: hoje, fica em torno de 11,5% ao ano. Sem imposto, não custa lembrar.


Recentemente, surgiu uma nova alternativa: as debêntures de infraestrutura, que têm como lastro financiamentos a projetos como construção de estradas, portos e hidrelétricas. Os fundos que aplicam nesses papéis também não são tributados. Para garantir o retorno prometido, porém, é preciso manter o investimento por mais de uma década, geralmente.

Em razão do risco elevado e do prazo longo, os especialistas recomendam procurar papéis que paguem, no mínimo, 8% acima da inflação — algo raro no mercado, pelo menos por enquanto.

3 Fundos DI

Investimento mínimo: 100 reais

Esses fundos e também os papéis que acompanham o comportamento dos juros, como os CDBs e os títulos públicos pós-fixados (LFTs), que rendiam menos do que a inflação quando a Selic estava em 7,25%, voltaram a ser interessantes para quem é conservador. Desde que, é claro, as taxas sejam minimamente vantajosas.

Os especialistas recomendam procurar fundos DI com taxa de administração inferior a 1% ao ano, CDBs de grandes bancos que paguem, no mínimo, 95% do CDI (e tenham liquidez diária) e CDBs de bancos médios que paguem mais de 105% do CDI — nesse último caso, a aplicação deve ser inferior a 250 000 reais, limite coberto pelo Fundo Garantidor de Créditos em caso de problemas financeiros.

A poupança só é indicada para quem pretende deixar o dinheiro aplicado por poucos meses. Em 2013, o rendimento da poupança ficou abaixo da inflação. 

4 Títulos que fixam o retorno futuro

Investimento mínimo: 100 reais

O rendimento oferecido por esses papéis, as LTNs e as NTN-Fs — que estabelecem hoje o rendimento que será pago no futuro —, subiu. O retorno anual prometido por NTN-Fs emitidas no começo de janeiro foi de 13,4% ao ano até o vencimento, em 2025 — um recorde para esse tipo de papel.

Títulos de curto prazo, que vencem a partir de 2016, pagam mais de 12% ao ano — a Selic está em 10,5%. Assim como no caso dos títulos públicos atrelados à inflação, os especialistas só recomendam aplicar em títulos prefixados se o investidor estiver disposto a mantê-los até o vencimento. Caso contrário, poderá perder dinheiro com as oscilações no curto prazo.

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