Revista Exame

Executivos atletas mantêm a alta performance para a empresa e para sua saúde

A exigência por performance nos esportes nunca vai aparecer de forma explícita em um processo de seleção. Mas se um alto executivo deseja conquistar pontos extras na carreira... bem, é melhor correr. Ou nadar, pedalar, surfar...

Tatiana Pimenta,
fundadora e CEO da Vittude 
 (Divulgação/Divulgação)

Tatiana Pimenta, fundadora e CEO da Vittude (Divulgação/Divulgação)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 14 de janeiro de 2021 às 05h26.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2021 às 13h44.

RESUMO

  • Estamos na era dos executivos atletas, que mantém a alta performance e resultados para a empresa e para sua saúde
  • A mudança de perfil caminha com a transformação da cultura empresarial: as companhias procuram por líderes inspiradores
  • De acordo com recrutadores, profissionais com esse perfil costumam apresentar maior disciplina, visão de planejamento e atenção à vida pessoal

Já houve um tempo em que executivos declaravam com o peito estufado ser workaholics. Hoje, em reuniões de negócios, os membros de uma nova tribo de líderes rapidamente conseguem identificar os seus: basta olhar o relógio com monitor cardíaco e GPS no pulso.

Longe do estereótipo do homem de terno, copo de uísque na mão e uma vida totalmente focada no trabalho, cada vez mais as pessoas que ocupam cargos de alta gestão compartilham outros símbolos: o tênis na mala, as medalhas das provas, as histórias de conquistas bem longe dos escritórios.

Estamos na era dos CEOs atletas, que mantêm a alta performance e os resultados para a empresa e para sua saúde. “Nos últimos anos tem sido cada vez mais cool ter uma vida saudável”, explica Gil van Delft, presidente do PageGroup, consultoria internacional de recrutamento executivo. “Antes, negar um vinho no jantar de negócios era uma abertura para brincadeiras. Hoje, quando você se nega a beber porque tem um treino na manhã seguinte, é visto como alguém com firmeza e confiança.”

A mudança de perfil caminha com a transformação da cultura empresarial: as companhias procuram por líderes inspiradores. Mário Custódio, diretor associado responsável pela área de recrutamento executivo da consultoria Robert Half, conta que a exigência por um atleta nunca aparecerá de forma explícita na vaga, mas se um aspirante a CEO deseja conquistar alguns pontos extras além de um currículo vencedor... bem, é melhor correr. Ou nadar, pedalar, surfar, meditar.

Em pesquisa do Institute of Leadership & Management, no Reino Unido, 75% das pessoas disseram que profissionais que participaram de competições esportivas tiveram vantagens no ambiente de trabalho. Embora não seja um requisito no currículo, os recrutadores ficam atentos a habilidades mais atraentes hoje em um executivo.

E elas costumam ser encontradas em quem pratica esportes. Profissionais com esse perfil costumam apresentar maior disciplina e visão de planejamento. Mas, acima de tudo, é a capacidade de manter um equilíbrio com a vida pessoal que mostra que aquele profissional será bom em administrar a pressão e o estresse do cargo. “Está diminuindo o espaço para esse perfil que não se atenta ao equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. A empresa não quer trazer uma liderança com esse comportamento e arriscar sua cultura de bem-estar”, comenta o diretor.

(Arte/Exame)

Para Cristina Palmaka, presidente da SAP para América Latina e Caribe, a mudança de perfil também permite quebrar padrões mais masculinizados para o cargo. No fundo, uma rotina dedicada 100% ao trabalho significa sacrificar o tempo para si e para a família. Da mesma forma, o esporte também ajuda as mulheres a quebrar estereótipos de gênero e aumentar sua confiança.

Uma pesquisa de 2015 da EY com as 500 maiores empresas dos Estados Unidos revelou que 94% das mulheres na alta liderança praticavam algum esporte. “Eu sempre tirei férias, por exemplo, pois acredito que, se a gente não consegue ter um equilíbrio, alguma coisa está errada.” Essa filosofia coloca a presidente como modelo para outros executivos e como inspiração para os funcionários da SAP. E ela conta que tem orgulho de ver as pessoas à sua volta mudando o estilo de vida, participando das provas de corrida da empresa e criando uma corrente de incentivo à vida saudável.

Cristina Palmaka, presidente da SAP para América Latina e Caribe: a executiva da SAP participa de maratonas há quase 20 anos. Os treinos estão presentes na sua relação com o marido, o primeiro a apresentá-la à modalidade, com a filha, com seus funcionários e com ela mesma. “A corrida parece solitária, mas envolve muita gente e eu conheço muita gente por ela. E dentro da corrida todo mundo é igual. Se você é CEO ou porteiro, tanto faz. Todos seguem a agenda comum do bem-estar." (Divulgação/Divulgação)

O esporte casa muito melhor com o jeito dos CEOs do que o matrimônio com o trabalho. Para chegar ao topo da vida profissional, a pessoa já venceu uma corrida de obstáculos. Mas o que acontece depois do pódio? Você precisa manter entregas consistentes e ainda se superar a cada momento.

Flavia Maria Bittencourt, CEO da Adidas, conta que, quando era criança, nem gostava de brincar se sabia que não ganharia. Competitiva? Sim, ela não nega que adora vencer até hoje. Mas a executiva também encontrou um novo prazer na superação pessoal. Ela achava que a corrida, assim como a musculação, era bem chata. Até que percebeu que a competição seria com ela mesma. “Não importa muito sua colocação, o importante é completar a corrida. Você cria suas metas, tem seu tempo para fazer e ajusta sua velocidade. Adoro ter uma meta e colocar todo meu esforço, treinar muito, para chegar a ela”, diz.

Mesmo com esportes individuais, o estilo de vida ativo ainda favorece o bom e velho networking. A maratona vira quebra-gelo para a reunião, ou o próprio treino pode substituir o almoço de negócios. Antes da pandemia, toda segunda-feira de manhã Flavia ia para a academia ou praticava um esporte junto com sua equipe. “Ficamos mais ligados assim. Quando o presidente global da Adidas vem ao país, corremos ou jogamos futebol juntos”, conta. 

A dedicação ao bem-estar exige moldar os horários. São treinos quase diários, além de musculação e acompanhamento com nutricionista, que integram o planejamento do lado atleta dos profissionais. Além da superação pessoal como motivação, a corrida acaba sendo uma das atividades mais populares pela conveniência de apenas colocar um tênis no pé e correr em qualquer hora ou lugar.

As viagens constantes como sócio da McKinsey afastaram Rafael Siqueira, cofundador do Apontador, do jiu-jítsu. Ele treinava até dez vezes por semana quando ganhou o campeonato mundial em 2015. Com a mudança de carreira, virou triatleta. Cada passo, do horário do voo à localização do hotel, é pensando na rotina de exercícios. “É um voo noturno para correr de manhã antes da reunião, ou um hotel com piscina olímpica para o treino”, diz.

Para Tatiana Pimenta, fundadora e CEO da startup Vittude, a corrida a ajudou a sair do sedentarismo e a tratar a depressão quando trabalhava como gerente de vendas e viajava a todo momento. Na mudança para o empreendedorismo, ela já colhia os benefícios dos hábitos saudáveis para tocar seu negócio. Para manter o ritmo de treinos, ela entrou para o time dos executivos que começam o dia logo cedo, às 5 da manhã, com uma corrida. “Se deixar o estresse dominar, o negócio sofre e a gente sofre. Eu não consigo me livrar da complexidade do mundo e do meu cargo, mas posso escolher o que quero para minha vida e como investir meu tempo”, afirma.  

Gil van Delft, presidente do PageGroup no Brasil: ele começou a vida como atleta antes de ser executivo. Por quatro anos foi jogador de futebol na Holanda, seu país de origem. Depois, praticou ciclismo, windsurf, esqui, corrida e natação. O triatlo foi um caminho natural. Para disputar um Ironman, ele se prepara durante seis meses, com até oito treinos por semana, musculação, fisioterapia e massagem. Para ele, a preparação é mais difícil do que a prova em si. “Já saí de uma reunião às 10 e meia da noite e fui correr 10 quilômetros na esteira”, conta. (Divulgação/Divulgação)

 

Tatiana Pimenta, fundadora e CEO da Vittude: a maratona de Chicago em 2015 foi um ponto de virada para a empreendedora. Ela começou a correr três anos antes, quando ainda trabalhava como engenheira e foi diagnosticada com depressão. A atividade foi uma sugestão de seu psicólogo como alternativa para a medicação. O ano da corrida foi de longe o pior de sua vida: ela foi demitida no dia de seu aniversário e logo depois seu pai descobriu um câncer. Seu pai pediu para que não desistisse da viagem. “A corrida foi na semana seguinte da cirurgia. Meu pai ficou acompanhando pelo aplicativo da prova. Eu sabia que precisava arrebentar, pois ele estava olhando." (Divulgação/Divulgação)

 

Rafael Siqueira, sócio da McKinsey e cofundador do Apontador: ser empreendedor e fundar o Apontador não eram o bastante para Rafael: ele também queria ser atleta. Em 2015, foi campeão mundial de jiu-jítsu, em Los Angeles. Quando sua empresa deixou de ser um desafio, mudou para a consultoria. E adaptou seu lado atleta: quimono e olhos roxos não combinavam muito com reuniões com clientes. Agora Siqueira é triatleta. A pandemia adiou o sonho de participar de um Ironman, mas os treinos não pararam. “A vida de executivo é assim. Você vai tomando riscos e se desafiando. Na primeira prova de meio Ironman, superei uma queda na bicicleta e, depois que muitos desistiram, corri os 21 quilômetros." (Divulgação/Divulgação)

 

Flavia Maria Bittencourt, CEO da Adidas no Brasil: foi lado a lado com seu futuro marido que Flavia Bittencourt completou, aos 34 anos, sua primeira meia maratona. E foi de uma aventura proposta por ele que ela conquistou seu primeiro pódio — e uma grande história. Ela participou de uma corrida de 15 quilômetros numa estrada de terra no interior de São Paulo. Obstinada a terminar a prova rapidamente, escorregou nos últimos 2 quilômetros. Ralada e sangrando, ainda ficou em quinto lugar. Só depois percebeu que tinha quebrado o pé. “Em qualquer situação difícil, lembro da corrida dos eucaliptos. Aquela prova mostra minha resiliência: eu chego à linha final, nem que seja arrastada.” (Leandro Fonseca/Exame)

 

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