Revista Exame

Alta cúpula tecnológica

Quem são os executivos responsáveis pela inovação de algumas das empresas mais importantes do país

Zaima Milazzo, vice-presidente de tecnologia, evolução digital, agilidade e inovação da Algar Telecom
 (Algar Telecom/Divulgação)

Zaima Milazzo, vice-presidente de tecnologia, evolução digital, agilidade e inovação da Algar Telecom (Algar Telecom/Divulgação)

Daniel Salles
Daniel Salles

Repórter

Publicado em 12 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 18 de dezembro de 2023 às 11h01.

Zaima Milazzo

Vice-presidente de tecnologia, evolução digital, agilidade e inovação da Algar Telecom

Goiana de Itumbiara, onde nasceu há 50 anos, Zaima Milazzo trabalha na Algar Telecom desde 1998. Engenheira eletrônica especializada em telecomunicações, ela começou na área de vendas. Depois dedicou-se ao desenvolvimento de produtos e soluções, comandou áreas de negócios e, na sequência, liderou o Brain, o centro de inovação da empresa, por quase cinco anos. Antes de assumir o cargo atual, de vice-presidente de tecnologia, evolução digital, agilidade e inovação, submeteu-se a uma intrincada especialização no prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.

“Toda essa bagagem me ajuda a cumprir a missão principal do cargo que ocupo: conectar a tecnologia, de fato, aos negócios da organização”, explica a executiva. “Muitas empresas enxergam a área de tecnologia como um mero centro de custos, daí a tendência de diminuir o orçamento dela. O desafio é mostrar que esse departamento pode habilitar o crescimento de toda a organização. Foi-se o tempo em que a TI podia trabalhar sem olhar o todo. Aquela antiga fragmentação acabou.”

A Algar Telecom está às voltas com um robusto projeto de digitalização — sob a responsabilidade de Milazzo, como é de imaginar. Daqui a três anos, por exemplo, a empresa quer que 50% das vendas sejam parcialmente digitais e 35% inteiramente digitais. Também quer implantar sistemas de automação para acelerar a resolução de problemas dos clientes e facilitar a vida dos colaboradores. Outro objetivo é melhorar a análise de dados coletados para diminuir, por exemplo, a taxa de churn. “O departamento de tecnologia é o segundo mais motivado da companhia porque ela dá o devido valor a ele”, diz a vice-presidente.


Auana Mattar, CIO da TIM Brasil (TIM Brasil/Divulgação)

Auana Mattar

CIO da TIM Brasil

A cada 15 dias, Auana Mattar, de 46 anos, participa da reunião do board da TIM Brasil com a seguinte missão: apontar quais novidades tecnológicas fazem sentido ou não para a companhia. Mineira de Governador Valadares, ela exerce o cargo de CIO desde 2019. “Uma das minhas funções é garantir que a empresa só aposte em tecnologias que ajudem a resolver demandas concretas”, afirma. “Não podemos investir em uma inovação só porque todo mundo está falando sobre ela.”

Um dos maiores desafios profissionais que enfrentou envolveu a decisão da TIM de apostar no armazenamento em nuvem a partir de 2020. De lá para cá, os data centers da companhia estão sendo aposentados, e a migração deverá ser concluída neste ano. “A mudança trouxe escalabilidade para o negócio e tirou uma preocupação dos ombros da equipe de TI, que agora pode se dedicar mais à atividade principal da empresa”, diz.

Sem a migração para a nuvem, por sinal, a aquisição da Oi, concluída no ano passado, não teria sido possível. Isso porque os data centers da TIM não dariam conta de 19 milhões de clientes extras e não haveria como ampliar a capacidade em razão da escassez global de chips e outros itens.

Mattar ingressou na empresa, hoje com 62 milhões de clientes, em 2001. Depois de ajudar a montar a área de TI e galgar degraus por lá, virou head de CRM por mais de quatro anos. “A experiência com marketing é extremamente útil hoje em dia”, diz ela, que voltou ao antigo departamento em seguida. “Ganhei uma visão mais estratégica, que tento impor para a TI. Às vezes meus funcionários reclamam que defendo mais a área de negócios do que a nossa. Mas a verdade é que os nossos objetivos e os da companhia precisam ser os mesmos.”


Julio Cesar Gomes, diretor de TI da Iguá Saneamento (Germano Lüders/Exame)

Julio Cesar Gomes

Diretor de TI da Iguá Saneamento

O paulistano Julio Cesar Gomes, de 50 anos, resume a maneira como ele e seus pares eram vistos quando debutou no mundo da TI, há mais de três décadas, da seguinte forma: “Nós éramos os caras que consertavam os computadores e ponto final”. Diretor de TI da Iguá Saneamento desde que ingressou na companhia, há mais de dois anos, ele acredita que essa visão mudou radicalmente. “Com o avanço tecnológico das últimas décadas, cargos como o meu passaram a ser vistos como estratégicos porque ajudam a diminuir custos, aumentar receitas e facilitar a vida dos clientes”, afirma.

Daí a importância de profissionais como ele conhecerem o negócio a fundo. “Restringir-se à tecnologia não adianta”, explica o executivo. À frente de uma equipe formada por 61 pessoas, Gomes participa de 12 reuniões mensais relacionadas a resultados e estratégias da companhia. Seu dia a dia está vinculado tanto a objetivos comerciais quanto a metas de ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança). “O campo de atua-ção da TI é cada vez maior”, justifica. “E uma das minhas atribuições é ajudar a definir onde a área vai alocar os recursos disponíveis.”

Atuante em 39 municípios em seis estados do país, a Iguá Saneamento está às voltas com uma espécie de censo em favelas, cujo intuito é melhorar o serviço ofertado em comunidades do tipo. Garantir o mapeamento e a análise dos dados a respeito de ruas e habitantes em cada moradia, entre outros tópicos, é tarefa de Gomes. Ele também precisou viabilizar o armazenamento em nuvem, o desenvolvimento do novo aplicativo de relacionamento da empresa e as recentes mudanças, entre outras, dos sistemas de CRM e RH.


Renata Marques, CIO da Natura &Co na América Latina (Marcos Suguio/Divulgação)

Renata Marques

CIO da Natura &Co na América Latina

Os celulares levaram 16 anos para atingir a marca de 100 milhões de usuários, lembra Renata Marques, de 54 anos. Para alcançar o mesmo patamar, o Instagram demorou dois anos e meio — e o ChatGPT, apenas dois meses. “Hoje todo mundo entende um pouco de tecnologia”, diz ela, que exerce o cargo de CIO da Natura &Co na América Latina desde 2020.

Por um lado isso é bom, Marques observa. “Hoje, em geral, as pessoas têm mais familiaridade com assuntos que antes só as equipes de TI dominavam, o que facilita o nosso trabalho”, argumenta a executiva. “Só que nem todo mundo entende de tecnologia em profundidade. Fazer com que os demais departamentos compreendam o que estamos falando continua a ser um dos grandes desafios da área.”

Nascida em Mogi das Cruzes, em São Paulo, ela é conhecida na Natura &Co como “a mulher das analogias”. “Recorro a elas o tempo todo porque facilitam o entendimento”, admite ela, que se enxerga como uma espécie de intérprete do mundo da tecnologia, além de advisor. “Preciso estar sempre dois passos à frente para orientar a companhia no que se refere à inovação. E barrar a adoção de novidades que não fazem sentido para o grupo.” 

O escopo do departamento chefiado por ela é imenso. Cabe a ele garantir o bom funcionamento tanto da revista digital da Natura — que registrou 32 milhões de acessos em 2022, 12% mais do que no ano anterior — quanto do centro de inovação do grupo. Localizado em Cajamar, na Grande São Paulo, ele dispõe de equipamentos como sequenciadores de DNA, biorreatores e impressora de pele 3D, que facilita a testagem de cosméticos. “Além de dar o suporte necessário para as demais áreas, fazemos o possível para prever problemas futuros e resolvê-los com antecedência”, conclui a CIO.


Rachel Rohlfs Nunes, diretora de tecnologia, controladoria e gestão da Drogaria Araujo (Drogaria Araujo /Divulgação)

Rachel Rohlfs Nunes

Diretora de tecnologia, controladoria e gestão da Drogaria Araujo

Até o início da pandemia, os canais digitais da Drogaria Araujo representavam apenas 2,5% do faturamento. Hoje já são 15%, e o aumento é creditado à transformação digital da rede de farmácias, a maior de Minas Gerais, e ao esforço orquestrado por Rachel  Rohlfs Nunes. Trata-se da diretora de tecnologia, controladoria e gestão da companhia, a primeira do ramo a usar o WhatsApp como canal oficial de vendas no país, desde o ano passado. “A digitalização se mostrou indispensável para nós”, afirma ela, nascida em Belo Horizonte há 47 anos. “No nosso segmento, as empresas que não conseguem se transformar simplesmente morrem.”

Fundada em 1906, a Araujo tem mais de 330 lojas em 55 municípios mineiros. Para 2023 está previsto um faturamento recorde de quase 4 bilhões de reais, cerca de 20% mais do que o registrado no ano passado. Na empresa desde 2014, Nunes só passou a responder também pela TI há quatro anos — no início chefiava unicamente os departamentos de controladoria e gestão. “Até há pouco, todo mundo via a tecnologia mais como um elemento dos bastidores”, diz a executiva. “Só que ela foi ganhando protagonismo e passou a alavancar os negócios.”

Neste ano, a rede se aliou à Salesforce para aprimorar e personalizar a jornada dos clientes tanto nas lojas físicas quanto nos canais digitais. “Estamos abraçando a omnicanalidade para que a experiência com a Araujo seja uma só”, explica Rachel. A companhia também passou a apostar em sistemas automatizados que aumentaram a produtividade de trabalho de diversas áreas. “O segredo é só bater o martelo em tecnologias que acelerem os objetivos comerciais”, resume a diretora. “Não podemos nos render à sedução das inovações e aderir a todas elas, sem critério.”


Gustavo França, CIO e CDO global da Gerdau (Gerdau/Divulgação)

Gustavo França

CIO e CDO global da Gerdau

Baiano de Salvador, Gustavo França ingressou na Gerdau 24 anos atrás — como estagiário. Aos 44 anos, exerce o disputado cargo de CIO e CDO global, para o qual foi promovido em 2019. Coube a ele, portanto, viabilizar o modelo de anywhere office, adotado pela companhia durante a pandemia, entre outras soluções em prol da produtividade. “A Gerdau enxerga o meu departamento como estratégico há muitos anos”, diz França. “Não é visto mais como mero suporte para as demais áreas, e sim como um facilitador de negócios. Até porque a tecnologia não é mais tida como uma exclusividade da TI.” 

Para garantir que o dia a dia da empresa não seja interrompido, mais de 900 ativos industriais, entre fornos e motores, são monitorados com a ajuda da inteligência artificial (IA). “A prevenção é uma grande aliada da equipe de suporte”, observa o executivo. “E a IA ajuda muito a aumentar a eficiência. Automatizamos uma série de processos, o que simplifica atividades que antes eram totalmente manuais.”

Ele mantém diálogo frequente com Gustavo Werneck, CEO da empresa. “Meu papel principal é manter todos os sistemas adotados funcionando perfeitamente”, explica França. “Mas também cabe a mim desempenhar a função de evangelizador da tecnologia. Só que isso precisa ser feito de maneira desapaixonada, pois as inovações mudam a todo momento e nem todas fazem sentido para os nossos negócios.”

Para driblar a conhecida escassez de profissionais de TI bem qualificados no mercado, a companhia passou a oferecer internamente as vagas disponíveis — até para quem é de outras áreas e está disposto a mudar de carreira. “Estamos formando nossos especialistas em TI”, comemora o CIO e CDO global. Até engenheiro metalúrgico já foi convertido em data scientist.


Acompanhe tudo sobre:exame-ceoFree Paywall

Mais de Revista Exame

Cocriação: a conexão entre o humano e a IA

Passado o boom do ChatGPT, o que esperar agora da IA?

O carro pode se tornar o seu mais novo meio de entretenimento

Assistentes de IA personalizáveis ajudam a melhorar a experiência do cliente

Mais na Exame