Revista Exame

Nova fase do Pix e início do Drex marcam último ano de Campos Neto frente ao BC

Meio de pagamento instantâneo ganha funcionalidade semelhante ao débito em conta a partir do ano que vem

Pix: três anos de sucesso representando 35% das operações de transferência realizadas no Brasil (Rafael Henrique/SOPA/Getty Images)

Pix: três anos de sucesso representando 35% das operações de transferência realizadas no Brasil (Rafael Henrique/SOPA/Getty Images)

Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 07h10.

O Pix completou três anos de um sucesso estrondoso. O meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central (BC) ultrapassou pela primeira vez, em novembro, a marca de 4 bilhões de reais transacionados em um único mês, e já representa 35% das operações de transferência realizadas no Brasil. Em valores, foi mais de 1,6 bilhão de reais transferidos. A força dos números foi o grande trunfo do Pix em 2023, considerado pelo BC como um ano de amadurecimento e preparação para o lançamento do Pix automático. Agendar pagamentos recorrentes de contas de luz, água e aluguel será possível no Pix a partir de outubro. É um esquema parecido ao débito em conta, mas com uma arquitetura diferente. Hoje o débito em conta só funciona quando existe um contrato entre o banco e a empresa que quer oferecer o pagamento periódico. Já o Pix automático não dependerá de contratos bilaterais. Ângelo Duarte, chefe do departamento de estrutura do mercado financeiro do BC, diz que a mudança vai baratear o custo para as empresas, que, em compensação, devem oferecer o serviço gratuitamente ao consumidor.

Outro grande projeto do BC é o Real Digital, rebatizado para Drex. Mais que uma moeda, o Drex é uma plataforma de negociação em blockchain, que permitirá a negociação de ativos tokenizados. Bens como imóveis ou carros serão convertidos em tokens e negociados na plataforma. A mudança quer baratear custos e deixar os serviços financeiros mais acessíveis. “O Pix é um sucesso de inclusão em pagamentos, mas a vida financeira das pessoas vai além: precisamos de crédito, investimento, seguro. A ideia do Drex é democratizar esses serviços”, diz Fabio Araújo, coordenador do Projeto Drex no BC. O primeiro foco da autarquia são os títulos públicos que, inseridos em ambiente digital, vão poder ser comprados em alguns cliques. O Drex ainda está em fase piloto, e atualmente tem 16 instituições associadas ao consórcio. A expectativa é que ele chegue para a fase de testes com a população entre 2024 e 2025.

O sucesso do Pix e o futuro do Drex estão atrelados ao mandato de Roberto Campos Neto. O próximo ano marcará o fim dele à frente do BC.

Em 31 de dezembro de 2024, ele completará cinco anos no posto. Campos Neto carrega o título de primeiro presidente da autarquia a ter mandato fixo depois de o Congresso aprovar a lei da autonomia. No período, ele lançou o Pix, levou a Selic para o menor patamar da história, em 2% ao ano, durante a crise global decorrente da pandemia de covid-19, mas precisou subir a taxa para 13,75% ao ano para combater a inflação que chegou ao país e ao mundo. Artigo publicado pelo Peterson Institute for International Economics (PIIE) reconheceu que os bancos centrais de países emergentes, incluindo o do Brasil, superaram os de economias desenvolvidas em dois aspectos na crise recente. A diretoria do BC foi referenciada por ser uma das primeiras a abordar as crescentes pressões inflacionárias no pós-pandemia e por evitar o estresse no setor bancário durante o ciclo de aperto da política monetária. Uma polêmica também marca a trajetória de Campos Neto. O banqueiro votou nas eleições de 2022 vestido com uma camisa da seleção brasileira, símbolo da campanha de Jair Bolsonaro. O episódio rendeu uma série de críticas e, como consequência, integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva e de parlamentares da base aliada tentaram articular sua destituição do cargo. Os planos foram frustrados pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que garantiram sua permanência. Ao longo de 2024, Campos Neto conviverá com quatro diretores do BC indicados por Lula em meio ao debate e às pressões governistas para acelerar o ritmo de queda de juros. O PT afirma que o crescimento econômico depende de taxas mais baixas. Campos Neto não deve ceder às pressões do governo. Assim, 2024 caminha para ser mais um ano de teste da autonomia do BC.

Acompanhe tudo sobre:1258

Mais de Revista Exame

Cocriação: a conexão entre o humano e a IA

Passado o boom do ChatGPT, o que esperar agora da IA?

O carro pode se tornar o seu mais novo meio de entretenimento

Assistentes de IA personalizáveis ajudam a melhorar a experiência do cliente

Mais na Exame