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Indícios de irregularidades abrem debate sobre o futuro da ABStartups

Publicação de ex-presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial questiona a atuação da associação no ecossistema de empreendedorismo do país

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ABStartups: associação foi fundada em 2011 para representar as novas empresas de tecnologia do Brasil (ABStartups/Reprodução)

ABStartups: associação foi fundada em 2011 para representar as novas empresas de tecnologia do Brasil (ABStartups/Reprodução)

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Carolina Ingizza

Publicado em 8 de janeiro de 2021 às, 08h30.

Última atualização em 8 de janeiro de 2021 às, 10h37.

A primeira semana de janeiro foi agitada para a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Desde a última quarta-feira, 6, parte do ecossistema de inovação discute o papel e o futuro da associação no país. O debate começou quando o ex-presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Guto Ferreira, publicou um texto em que acusa a entidade de fraude.

Segundo Ferreira, em 2019, a agência encontrou irregularidades nas prestações de contas de um patrocínio dado a ABStartups para a realização da edição de 2018 da Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo (CASE). "A ABStartups alterou os valores das cópias dos cheques e nota fiscal anexados para a prestação de contas, e estou falando na casa das centenas de milhares de real. O que era na casa dos 200.000 reais virou na casa dos 600.000", escreveu o ex-presidente.

Em nota divulgada à imprensa, a ABDI confirmou as inconsistências e informou que a ABStartups devolveu os 550.000 reais do patrocínio acrescidos de multa, juros e correção monetária em janeiro de 2020. Como pena, a entidade ficou impedida por dois anos de firmar novos convênios com a agência.

Uma situação que parecia resolvida entre as duas partes voltou a gerar desavenças nesta semana com um texto publicado na internet por Ferreira questionando a transparência da ABStartups com o ecossistema de empreendedores que ela representa e com seus mantenedores.

A denúncia vem num momento de renovação na ABStartups. Uma nova gestão acabou de assumir a entidade. O presidente anterior, Amure Pinho, que estava no comando na época do caso, deixou o cargo no final do ano, quando uma chapa liderada por Felipe Matos, autor do livro 10.000 Startups, foi eleita. 

Em nota, a nova gestão da associação afirmou que “abriu um processo interno de apuração dos fatos relatados e se compromete publicamente a prestar esclarecimentos tão logo esse procedimento seja concluído”. Em sua conta no Linkedin, Matos disse que a primeira medida da nova gestão será a auditoria externa de todas as contas das entidade.

O ex-presidente da ABStartups, Amure Pinho, em resposta ao texto de Ferreira, publicou sua versão dos fatos. Na sua visão, o que aconteceu foi um “erro” cometido por parte da equipe da associação que alterou o valor de notas fiscais para poder justificar gastos do evento pagos fora do período permitido pelo convênio com a ABDI. O aluguel do local em que o CASE foi realizado, por exemplo, havia sido pago meses antes do patrocínio. Para que pudessem usar o valor da agência para cobrir essas despesas, funcionários aumentaram os valores de outras notas emitidas no período coberto pelo convênio.

De acordo com Pinho, houve uma auditoria na época para investigar o caso e os responsáveis foram desligados da organização no final de 2019. “Optamos pelo caminho da correção interna e não do cancelamento ou linchamento público – não acreditamos que essa seja a conduta correta”, informa o ex-presidente. Em entrevista à EXAME, ele afirma que os associados e mantenedores foram informados, mas não o conselho da associação. 

Quando questionado sobre por que não trouxe o caso a público antes, Pinho disse que foi para proteger a própria associação, que estava com o caixa fragilizado após o pagamento de mais de 600.000 reais à ABDI. “Nossa obrigação era de realizar uma assembleia. Tivemos apoio jurídico durante todo o processo para evitar mais danos”, afirma. 

Ecossistema de olho

Com a revelação das irregularidades na prestação de contas da ABStartups, empresários e investidores ativos no ecossistema brasileiro estão cobrando a associação para que execute a apuração interna que prometeu. "Transparência, ética, capacidade de aperfeiçoar processos e de apurar responsabilidades são valores e práticas inegociáveis para instituições sérias”, disse Florian Hagenbuch, fundador da Loft e uma das principais vozes do ecossistema empreendedor brasileiro.

Para Marcus Rossi, presidente do evento de tecnologia Gramado Summit, os fatos frustram os atores do ecossistema por serem opostos aos pilares defendidos pelas startups. “O ecossistema brasileiro de inovação se consolidou por buscar maneiras de fazer diferente e apresentar soluções para a sociedade como um todo. A base para tudo isso é a transparência e a responsabilidade com a aplicação correta de recursos”, afirma.

Alguns empresários acreditam que a crise seja um bom momento para a associação rever sua atuação. O próprio Ferreira defende que a ABStartups deveria adotar uma estrutura de gestão com regras mais rígidas de compliance e fiscalização. 

Em entrevista à EXAME, ele também reforça sua crença na necessidade de uma mudança de mentalidade na entidade. “O ecossistema de empreendedorismo e startups precisa de mais mundo real e menos glamourização”.

Já Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, destaca que associação poderia ter um papel mais relevante do que o que tem hoje. “A ABStartups não deveria estar focada em festas e eventos, mas em trabalhar advocacy para ajudar o ambiente de empreendedorismo a ser mais acessível, democrático e diverso”, afirma a empreendedora. Na sua visão, a nova gestão tem capacidade de reestruturar e reorganizar os processos da entidade, mas, para isso, precisará fazer uma apuração às claras. 

Os textos citados de Guto Ferreira e Amure Pinho estão disponíveis online

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