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Garimpo cultural

Como a carioca Elisa Ventura fez a livraria Blooks faturar quase 4 milhões de reais em 2013 — 30% mais do que no ano anterior — vendendo livros, DVDs e revistas em quadrinhos dificilmente encontrados em grandes livrarias

Elisa Ventura, da Blooks: "Atendo clientes com muitas referências culturais e dispostos a gastar com obras de seus artistas favoritos" (Daniela Toviansky / EXAME PME)

Elisa Ventura, da Blooks: "Atendo clientes com muitas referências culturais e dispostos a gastar com obras de seus artistas favoritos" (Daniela Toviansky / EXAME PME)

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Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2014 às 11h48.

São Paulo - A empreendedora carioca Elisa Ventura, de 50 anos, vive vasculhando catálogos de mais de 100 editoras para rechear o estoque de sua rede de livrarias, a carioca Blooks, com títulos que dificilmente estão disponíveis para pronta-entrega em grandes concorrentes.

Em 2013, a Blooks obteve receitas de 3,8 milhões de reais, 30% acima de 2012, com um negócio de nicho — a venda de livros, DVDs e gibis que redes como Cultura e Saraiva vendem só sob encomenda.

As unidades da Blooks parecem lojinhas de museu. As vitrines ostentam coletâneas sobre teatro, cinema e artes plásticas. Não há pilhas de lançamentos ou dos títulos mais vendidos do mês. Prateleiras inteiras são dedicadas a obras com apelo a públicos específicos, como amantes de toy art, um tipo de miniatura apreciado por quem gosta de moda e design. “Atendo um público que gosta de conhecer novas referências culturais”, diz Elisa. 

São consumidores como a paulistana Cláudia Belintani, de 51 anos. Há cinco anos ela participa de encontros para discutir sobre livros e filmes com amigas. Recentemente, estiveram na pauta os ensaios da escritora feminista americana Alice Moore e a série de TV O Decálogo, do polonês Krzysztof Kieślowski, uma releitura dos Dez Mandamentos da Bíblia.

Cláudia é cliente da Blooks desde o ano passado, quando foi inaugurada a primeira loja da rede em São Paulo. Antes, ela costumava encomendar as obras diretamente das editoras. “Na Blooks, encontro sempre uma novidade sobre os artistas que acompanho”, diz ela. “Os vendedores já me conhecem.”

O formato da Blooks é influenciado pela trajetória de Elisa. Atualmente, além da livraria, ela é sócia da Aeroplano, uma editora de livros de arte. Desde os anos 90, Elisa já foi dona de uma produtora de shows e de uma cafeteria num cinema com programação independente.

Em 2005, quando os sócios do cinema montaram um complexo de seis salas para exibir filmes alternativos, Elisa foi convidada para gerenciar uma livraria no local. Quatro anos mais tarde, ela comprou a livraria e fundou a Blooks. Hoje, as três lojas da rede, no Rio de Janeiro e em São Paulo, estão próximas a cinemas ou centros culturais.

Frequentemente, elas sediam palestras com diretores dos filmes e das peças em cartaz nos arredores. Antes das sessões, os espectadores são convidados a visitar as lojas. Em eventos culturais, como a feira de artes plásticas ­ArtRio e o festival de música Back2Black, Elisa monta lojas temporárias. “Vendo títulos relacionados ao tema do evento”, diz ela.

A especialização é uma forma de enfrentar a concorrência no setor de livrarias, acirrada nos últimos anos pelo comércio eletrônico. “Focar um público permite conhecer melhor suas preferências”, diz Ednilson Xavier, presidente da Associação Nacional de Livrarias. “Isso amplia as chances de vendas.”

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