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Por que o CEO do Airbnb disse que o modelo da empresa está quebrado e como ele “arruma a casa"

Desafio é balancear o hóspede que quer pagar mais barato e o anfitrião que está com medo de as reservas caírem

Brian Chesky, CEO do Airbnb: "Precisamos arrumar nossa casa" (Giuliano Berti/Bloomberg)

Brian Chesky, CEO do Airbnb: "Precisamos arrumar nossa casa" (Giuliano Berti/Bloomberg)

Publicado em 3 de outubro de 2023 às 16h19.

Última atualização em 3 de outubro de 2023 às 19h12.

Em junho, uma publicação que alcançou quase 2 milhões de usuários no X (ex-Twitter) acendeu um sinal de alerta em quem aposta no Airbnb, plataforma de locação de imóveis por curtas temporadas. Nick Geril, CEO da Reventure Consulting, consultoria especializada em mercado imobiliário nos Estados Unidos, apontava que havia mais imóveis em locação na plataforma do que à venda em todo o país. Destacava também que, com a queda da receita com locação, havia chance de uma venda massiva de imóveis, o que causaria uma crise imobiliária. “Cria-se uma enorme queda no preço da casa se os proprietários do Airbnb em dificuldades decidirem vender os imóveis”, disse. 

A postagem causou certo burburinho, por mais que o balanço da plataforma tenha sido positivo no primeiro trimestre do ano e que a empresa tenha justificado que nem todos imóveis disponíveis para locação estão parados. Há casas, por exemplo, em que há moradores, mas com cômodos disponíveis para aluguel. 

Os danos de imagem causados pela possibilidade de uma crise imobiliária são só um dos pontos que o CEO do Airbnb, Brian Chesky, está tendo que lidar em 2023. Houve ainda intensificação da concorrência da Vrbo e, agora em setembro, uma lei do governo de Nova York que proibiu o aluguel de apartamentos para estadias de menos de um mês, deixando fora de jogo boa parte dos 36.000 apartamentos turísticos da cidade.

Fora tudo isso, ainda há duas pressões. Os consumidores querem pagar menos e reclamam, por exemplo, de altas taxas de limpezas, mesmo quando o próprio hóspede precisa tirar o lixo e arrumar a cama. Já o dono do imóvel quer ganhar mais, e tem aumentado o preço com medo de uma possível queda na receita. 

Resultado? Uma revisão do negócio, considerado pelo CEO Chesky como “quebrado”, justamente porque há descontentamento das duas pontas. Em entrevista à Bloomberg, o executivo admitiu que o momento é de “consertar fissuras” e de “arrumar a casa”, antes de lançar novos produtos e soluções. 

Como o Airbnb está arrumando a casa 

Na última carta a acionistas, o CEO da empresa apresentou pontos que está trabalhando para aperfeiçoar a casa e consertar as fissuras expostas.

Um dos pontos mais latentes é, sem dúvida, o preço. De acordo com Chesky, um novo serviço para os anfitriões está ajudando a voltar a deixar os preços das estadias mais competitivos. É uma ferramenta que simplifica a formação de preços. 

“Os anfitriões disseram-nos que as nossas ferramentas de preços eram difíceis de utilizar e que tinham dificuldade em estabelecer preços competitivos”, disse Chesky na nota aos acionistas. “Para resolver essas preocupações, redesenhamos nossas ferramentas de precificação, facilitando a adição de descontos e promoções. Também adicionamos um novo recurso chamado Listagens Semelhantes, tornando mais fácil para os anfitriões definir um preço competitivo”. 

Nessa ferramenta, o anfitrião consegue, com uso de inteligência artificial, identificar quais são os preços semelhantes cobrados na região, tanto por Airbnb como por outras plataformas de hospedagem, e oferecer um valor semelhante ou, então, mais competitivo. “Desde que oferecemos essas ferramentas, vimos os anfitriões começarem a baixar os seus preços, com mais deles a oferecer descontos semanais e mensais”. 

A empresa também apostou na reformulação da modalidade de locação de quartos e não de casas inteiras. O Airbnb passou a destacar mais o serviço, chamado de Airbnb Quartos, e trouxe novas ferramentas para o hóspede se sentir mais seguro ao contratar a modalidade. Agora, ele pode ver várias informações sobre o anfitrião e tem uma série de novos filtros. Pode, por exemplo, escolher apenas quartos em que é possível se trancar ou em que haja pouco nível de interação social com o dono do apartamento. Neste caso, a aposta vai no caminho de oferecer opções mais baratas para o turista. 

“Dada a contínua incerteza macroeconômica, acreditamos que a Airbnb Quartos é uma oferta importante em nossa plataforma, especialmente para a próxima geração de viajantes que tendem ser mais conscientes dos custos”, diz. 

Para ampliar a receita, houve estratégias de marketing envolvidas. Uma das que mais chamou a atenção no ano foi a possibilidade de alugar uma casa da Barbie em Malibu, nos Estados Unidos. Fazendo alusão ao filme que teve uma das maiores bilheterias dos últimos tempos, o Airbnb promoveu uma campanha onde mostrou que há “experiências e hospedagens” diferentonas que só estão disponíveis na plataforma. Hóspedes puderam dormir em um dos quartos da Barbie, que fazia referência também ao personagem Ken. A campanha foi um sucesso comemorado pelo time de acionistas da plataforma. Isso porque alcançou 250 milhões de pessoas nas redes sociais. 

Como o Airbnb está no Brasil

As estratégias para reconstruir o “modelo quebrado” vão muito no caminho de conseguir baixar o preço para hóspedes e atender a demanda dos anfitriões que temem queda nas reservas. Também passa por consertar alguns erros que atrapalham a experiência, principalmente de segurança. Tem sido testada uma tecnologia, por exemplo, para que o anfitrião envie várias fotos da casa, internas e externas, para inteligência artificial identificar se é tudo real e ajudar na sugestão de preços.

Por aqui, a visão do CEO é positiva. Os dados apontam que as reservas cresceram 110% em relação ao período pré-pandemia, em 2019, o que colocou o Brasil, juntamente com a Alemanha, na lista dos mercados com crescimento mais rápido do Airbnb. Em solo brasileiro, a principal concorrente, Vrbo, ainda tem dificuldade de penetração, o que ajuda o Airbnb, que em 2022 teve o primeiro ano com lucro de US$ 1,9 bilhão, frente a um prejuízo de US$ 352 milhões em 2021. 

A ideia agora é, passado por esses pontos de atenção, continuar num ritmo de crescimento, que possibilitará o lançamento de novos produtos. 

“Estamos quase prontos para virar a esquina”, diz Chesky. “Este ano foi o ano do aperfeiçoamento do nosso serviço principal, com mais de 50 atualizações em maio, cinco atualizações importantes agora e outra série de atualizações chegando em novembro.”

(Com reportagem de Nikki Ekstei, da Bloomberg)

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