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Para as startups gaúchas, agora não é hora de pensar nos negócios perdidos, mas sim, de salvar vidas

O estado tem cerca de 1000 startups; mais da metade está em Porto Alegre, capital gaúcha e uma das regiões mais afetadas do estado

O 4º Distrito, em Porto Alegre, conhecido como bairro da inovação (Florian PLAUCHEUR/AFP)

O 4º Distrito, em Porto Alegre, conhecido como bairro da inovação (Florian PLAUCHEUR/AFP)

Marcos Bonfim
Marcos Bonfim

Repórter de Negócios

Publicado em 7 de maio de 2024 às 16h50.

Última atualização em 15 de maio de 2024 às 11h30.

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Em crises ou guerras, uma mesma pergunta ecoa com relutante frequência: qual é o próximo passo? No Rio Grande do Sul, a resposta ainda não existe. 

“O foco total e absoluto está na questão do resgate e do acolhimento dos desabrigados”, afirma Pedro Valério, diretor-executivo do Instituto Caldeira, um dos principais espaços para o ecossistema de startups no estado gaúcho. O executivo conversou com a EXAME enquanto se deslocava pelo terceiro dia para atuar como voluntário e colaborar para com os resgates. " A cidade está enfrentando um colapso. O que está acontecendo é indescritível". 

Nos últimos dias, essa é a rotina de milhares de gaúchos que mudaram as rotas - seja por necessidade, ao deixar os seus endereços, seja por vontade de ajudar a quem precisa. Muitos deles, funcionários e fundadores de startups, que usam os grupos do ecossistemas para fazer articulações tanto para ações de resgate em barcos, caiaques e jet skis quanto para a coleta de doações. 

Os temporais que assolam o estado nos últimos dias já deixaram, segundo o último balanço da Defesa Civil, 90 pessoas mortas. O estado ainda contabiliza 132 pessoas desaparecidas e 361 feridas. Ao todo, mais de 1,3 milhão de pessoas de 388 municípios foram afetadas.

O senso de incerteza é o que define o momento. “Efetivamente, não se tem hoje nenhuma perspectiva de ter uma noção do real dano que isso vai ter em termos de ecossistema”, afirma Valério. 

O próprio Instituto Caldeira, localizado em um galpão de 22.000 metros quadrados à margem do lago Guaiba, está inundado. O espaço fica no 4º Distrito, bairro conhecido por sediar outras startups.

Inaugurado em 2020, o centro de inovação se transformou rapidamente em um ponto de encontro para startups, CVCs, aceleradoras e empresas. De acordo com dados da plataforma Distrito, o estado conta com 956 startups ativas, mais da metade delas sediadas na capital.

Em alguns compartimentos, o volume de água no endereço supera dois metros de altura. “Nós temos várias startups que estão bem vinculadas à área de saúde e que estão na iminência de ter os seus serviços interrompidos porque, de fato, o hub está completamente inacessível”, diz o diretor. 

Diariamente, circulavam pelo Caldeira mais de 1,600 pessoas, de uma base de mais de 130 empresas. Na sexta-feira, 3, o último grupo foi evacuado, antes da água começar a invadir o espaço por volta das 15 horas. 

Entre eles, estavam os funcionários da Pix Force, uma deep tech de Porto Alegre com soluções de visão computacional e inteligência artificial. Com escritórios também em São Paulo e Rio de Janeiro, a startup tem 45 dos 110 na capital gaúcha.

“Felizmente está todo mundo bem, mas teve gente que perdeu casa, tem gente que tem que sair de casa e muita gente sem luz”, afirma  Daniel Moura, cofundador e CEO da startup. 

De acordo com o executivo, os impactos da crise no negócio serão percebidos ao longo do tempo. Mas, de cara, a startup contabiliza perdas de servidores, drones e câmeras, equipamentos que estavam no Caldeira e são usados para a criação dos produtos, de protocolos de segurança ao controle de qualidade.

A startup está buscando aplicar esse conhecimento para ajudar na localização de pessoas à espera de resgate. Com a melhora do tempo, a Pix Force tem usado a tecnologia desde ontem, com imagens satelitais de alta definição, para eventualmente localizar sobreviventes. 

Outro importante ente de inovação no Rio Grande do Sul, o South Summit também tem focado em mobilizar os seus canais e redes em busca de apoio e recursos

“O nosso foco, como South Summit, é usar os nossos canais para mobilizar, engajar, arrecadar recursos e donativos, a fim de que possamos, o quanto antes, entrar em um processo de reestabilização e possível retorno à normalidade”, afirma Thiago Ribeiro, diretor-geral do South Summit Brazil.

O evento, de origem espanhola, chegou a sua terceira edição em Porto Alegre. Neste período, encontrou nos galpões do Cais de Mauá, hoje totalmente tomado pela água, a sua sede, local que recebeu 23.500 pessoas no mês passado. 

“Depois nós vamos pensar nas startups, sim, nós temos que ajudar também, é um compromisso nosso, mas a vida em primeiro lugar, as pessoas em primeiro lugar”, afirma Ribeiro. 

Como ajudar o Rio Grande do Sul

Para quem deseja fazer uma doação para ajudar pessoas e animais no Rio Grande do Sul, vejam algumas ONGs que estão atuando na região.

Ação da Cidadania

A ONG criada em 1993 pelo Betinho mobilizou a sociedade para a missão de tirar 32 milhões de pessoas da fome e criou um conta especial para ajudar a população do Rio Grande do Sul.

PIX: sos@acaodacidadania.org.br

Para mais informações sobre a ONG, acesse o site: https://www.acaodacidadania.org.br/

Campo Bom para Cachorro 

A ONG Campo Bom para Cachorro já resgatou mais de 5,6 mil animais em enchentes no Rio Grande do Sul.

Para fazer a doação, a ONG indica dois PIX:

  • PIX: E-mail: ongcampobompracachorro@gmail.com
  • PIX: CNPJ: 24.494.672/0001-69

Para saber mais sobre a ONG, acesse a página do Instagram: https://www.instagram.com/campobompracachorro/

Correios recebem doações para o Rio Grande do Sul

As agências dos Correios nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco, Paraná e no Distrito Federal, além de parte das unidades do Rio Grande do Sul, estão recebendo doações para as vítimas das chuvas que atingem o estado gaúcho. A estatal irá coletar e transportar gratuitamente os donativos – não haverá nenhum custo aos doadores.

São aceitos alimentos da cesta básica, produtos de higiene pessoal, material de limpeza seco, itens de cama, mesa e banho e ração para pets.

Negócios em Luta

A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente.

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