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GM: carros já estão mais caros e repasses aos preços vão continuar

Embora prejudiquem os volumes, os repasses tornaram-se inevitáveis diante do encarecimento das peças importadas na esteira da desvalorização do real

Carlos Zarlenga, presidente da GM América do Sul (Germano Lüders/Exame)

Carlos Zarlenga, presidente da GM América do Sul (Germano Lüders/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de novembro de 2020 às 09h00.

O presidente da General Motors na América do Sul, Carlos Zarlenga, disse nesta sexta-feira, 30, que a indústria de veículos já promoveu aumento de preços de 10% neste ano e deve continuar fazendo reajustes para recompor suas margens de rentabilidade. Ao participar nesta sexta de congresso promovido pela Autodata, Zarlenga considerou que, embora prejudiquem os volumes, os repasses tornaram-se inevitáveis diante do encarecimento das peças importadas na esteira de quatro anos de desvalorização "contínua" do real.

"Com desvalorizações do real de 46% neste ano, tem de ter repasse de preço... Quanto mais repassa, mais afeta a demanda, mas não tem jeito", afirmou o presidente da GM na região, lembrando que, na média, os componentes importados respondem por aproximadamente 40% do valor dos veículos montados no Brasil.

Segundo o executivo, em busca de rentabilidade, as montadoras também terão de, junto com seus fornecedores, adequar a estrutura de custos, mantendo o emprego no setor pressionado até o começo do ano que vem. Além disso, ele defendeu cautela nos investimentos em capacidade, ao avaliar, em referência à franca expansão de capacidade produtiva desta década, que o excesso de investimentos em novas linhas também explica as baixas margens de atualmente. "Tem mais participantes no mercado do que o mercado absorve no momento", assinalou Zarlenga.

Apesar da reação das vendas de carros tanto no Brasil, após a flexibilização das quarentenas, quanto na Argentina, Zarlenga disse que o consumo de automóveis ainda deve levar três anos para retomar os volumes de 2019. Este cenário, observou, não estimula as matrizes das montadoras a investir na região, já que, só em 2023, o mercado volta ao nível de antes da pandemia, e o continente está longe de oferecer o prêmio pelo risco de investimento do capital. "Para melhorar, o Brasil pode acelerar as reformas e eliminar o déficit primário. A Argentina pode voltar a um rumo de coerência econômica. Mas são coisas difíceis na região. Qual é o atrativo de investir na América do Sul?", questionou Zarlenga.

Importados

O empresário José Luiz Gandini, que faz a importação dos carros da Kia Motors vendidos no Brasil, disse nesta sexta que a pressão do câmbio sobre os preços dos automóveis deve ser repassada à medida que forem esgotados os estoques de veículos que foram importados com cotações mais baixas. "Que a inflação vem e que o preço do carro vai subir é indiscutível", comentou o executivo, que também participou do congresso promovido pela Autodata.

Gandini afirmou que as vendas da Kia estão caindo em torno de 35% neste ano, mas a marca teria condições de vender o dobro não fosse o câmbio alto. A decisão da marca foi vender os estoques até o fim do ano para, no começo de 2021, negociar descontos com a montadora.

Mesmo assim, ele adiantou que será impossível compensar todo o aumento do dólar nas negociações. "O câmbio, do ano passado para cá, variou mais de 50%. É impossível pedir um desconto desses para a fabricante", disse Gandini. "Estou diariamente com a minha tela aberta com a cotação do dólar e não relaxo", acrescentou o executivo. Apesar do dólar mais alto, representantes de marcas de carros de luxo que participaram do debate apontaram uma tendência de retomada das vendas de pré-pandemia no ano que vem.

"Já estamos num ritmo mensal praticamente no mesmo nível de 2019 com uma boa chance de repetir no ano que vem o volume de 2019", afirmou João de Oliveira, diretor da Volvo Cars e presidente da Abeifa, entidade que representa marcas de automóveis importados.

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