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Revista criada por Sartre e Beauvoir rompe com chavismo e denuncia Maduro

Com o título "Venezuela - O País das Fraturas", intelectuais de esquerda escreveram na Les Temps Modernes sobre o fracasso do regime de Chávez

Maduro: a revista aborda o desmoronamento do projeto político de Chávez (Marco Bello/Reuters)

Maduro: a revista aborda o desmoronamento do projeto político de Chávez (Marco Bello/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de abril de 2018 às 14h56.

Última atualização em 3 de abril de 2018 às 14h57.

A mais prestigiosa revista de esquerda da França, Les Temps Modernes, criada por Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, rompeu com o chavismo e denunciou a escalada autoritária de Nicolás Maduro.

Com o título "Venezuela - O País das Fraturas", intelectuais escreveram sobre o fracasso do regime adotado por Hugo Chávez. A edição trimestral, de 304 páginas, explora o declínio econômico, o assédio ao Parlamento, o papel da oposição e o fracasso do modelo bolivariano.

Capa da revista "Les Temps Modernes" com uma crítica ao sistema de Nicolás Maduro

Fundada em 1945, a revista é dirigida pelo jornalista, escritor e cineasta Claude Lanzmann, que sucedeu a Simone de Beauvoir no cargo. A edição traz 17 ensaios e entrevistas, a maior parte escrita por venezuelanos ligados a universidades da Europa. A introdução é da antropóloga Paula Vásquez Lezama, venezuelana e pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS).

Na apresentação, ela informa que a revista aborda o desmoronamento do projeto político de Chávez, "que se tornou uma tragédia social, política, econômica e humana para a Venezuela". Em seu texto, Lezama lembra a promessa de mudanças estruturais feita pela revolução bolivariana, que trouxe, no entanto, "resultados desastrosos para a população, em particular para a classes menos favorecidas".

Segundo ela, a queda dos preços do petróleo ajuda a explicar a decadência, mas está longe de ser a única razão. Entre 1999 e 2011, o preço do barril passou de US$ 16 a US$ 101, com um preço médio de US$ 49,3, o que catapultou a economia venezuelana. "Nenhum outro presidente da Venezuela se beneficiou de um boom de tal amplitude", explica a pesquisadora. Essa situação, porém, não impediu a PDVSA, estatal do petróleo, de se tornar deficitária, com "um patrimônio obsoleto".

Lezama lembra que a produção não petrolífera foi desmantelada, abrindo o caminho para a escassez de comida, remédio e bens de consumo, com graves consequências "para setores da população mais vulneráveis". "Nos últimos cinco anos, a Venezuela teve a inflação mais alta do mundo. E as previsões não são otimistas. O modelo econômico não capitalista fracassou tragicamente."

A revista aborda ainda as expropriações, a regulação dos preços, a corrupção e a repressão à oposição. José Manuel Puente, do Instituto de Estudos Superiores de Administração (Iesa), de Caracas, escreve sobre a queda de 12% do PIB, em 2017, segundo o FMI. Luiz Gómez Calcaño, da Universidade Central da Venezuela, analisa a resistência política. "Desde sua derrota nas eleições legislativas de 2015, o regime perdeu sua legitimidade e caminha a passos largos para o autoritarismo", escreveu.

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