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Karina Milei, irmã do presidente, avança no controle político do governo argentino

Secretária-geral do governo argentino tem gerado desgastes com aliados, entre eles o ex-presidente Mauricio Macri

Javier Milei, ao lado da irmã Karina: irmãos desfilaram juntos em carro aberto no dia da posse presidencial (Marcelo Endelli/Getty Images)

Javier Milei, ao lado da irmã Karina: irmãos desfilaram juntos em carro aberto no dia da posse presidencial (Marcelo Endelli/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 21 de abril de 2024 às 13h53.

Nos corredores da Casa Rosada, o nome de Karina Elizabeth Milei, única irmã do presidente Javier Milei e atual secretária-geral da Presidência do governo, provoca todo tipo de comentários. Aos 52 anos, Karina, chamada pelo líder da ultradireita argentina de “o chefe”, transformou-se no poder por trás do trono, muitas vezes tomando decisões políticas em nome do irmão, afirmam jornalistas que acompanham diariamente a dinâmica presidencial do país.

Karina entende pouco de economia, área na qual Milei interfere diária e permanentemente. Mas a irmã do presidente está à frente da articulação política do governo, sobretudo da construção do partido A Liberdade Avança, que até agora era uma aliança formada por legendas menores. Karina tem a missão de dar ao presidente uma base política sólida para competir nas eleições legislativas de 2025. O problema é que ela tem sido criticadao por falta de jogo de cintura, e seu modus operandi já está causando desgastes nas relações de Milei com aliados, entre eles o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019).

Em conversas informais, Macri se refere à irmã do presidente como “a taróloga”, fazendo referência aos costumes esotéricos de Karina, segundo fontes próximas do ex-presidente. A relação entre ambos é tensa, e Macri não tem o menor respeito pela secretária-geral da Presidência, mesmo sabendo que suas decisões jamais são questionadas pelo chefe de Estado. Milei, asseguram as fontes, delega total poder a sua irmã e nunca contraria o que Karina opina ou determina — mesmo que não esteja de acordo.

Karina inspira medo entre colaboradores do governo porque seu principal recurso político, diz o jornalista Juan Luis González, autor da biografia não autorizada de Milei (“El Loco”, O louco, em tradução livre), é “cortar cabeças”.

— O método de Karina é afastar pessoas nas quais não confia. Em todos os casos, são pessoas com ambição de poder. Ela não tem conhecimento sobre política, atua quase por instinto animal — aponta González, que em sua pesquisa para o livro descobriu muito sobre Karina.

Os dois irmãos são inseparáveis. Antes da chegada de Milei ao poder e hoje, cinco meses após a posse, a sensação entre os que convivem com ambos é a mesma: Milei depende emocionalmente de Karina, e essa dependência explica, em grande medida, o poder da secretária-geral da Presidência, que acaba de ganhar status de ministra e, com isso, um reajuste salarial — um dia depois de o presidente ter questionado o aumento para deputados e senadores aprovado no Congresso.

— Karina é mais ambiciosa que Milei, gosta de poder e dinheiro. Já existem investigações judiciais sobre supostas vendas de candidaturas nas eleições de 2023, e ela poderia trazer problemas para Milei no futuro — aponta o biógrafo e jornalista da revista Noticias.

A irmã do presidente raramente fala com a imprensa, é discreta em sua vida privada e jamais responde aos ataques que recebe. Ao contrário de Milei, a secretária-geral da Presidência não usa redes sociais e sabe-se pouco sobre sua intimidade — como o irmão, ela nunca se casou nem teve filhos. Sua relação com Milei sempre foi inabalável e tornou-se ainda mais forte após a morte de Conan, em 2017, o cachorro que o presidente clonou e com o qual diz conversar sobre diversos temas, inclusive políticos.

— A intermediária entre Milei e Conan é Karina. Através de sua irmã, o presidente diz que fala com Conan, que lhe transmite mensagens de Deus. Não sei se ela acredita ou não nisso, mas Milei acredita, e isso deu um poder enorme a Karina — comenta o biógrafo.

O jornalista Julián Alvez, setorista da Presidência pelo jornal El Cronista, afirma que desde a redemocratização da Argentina, em 1985, o país nunca teve um secretário-geral com tanto poder.

— Para que algo seja feito no governo, muitas vezes não basta o aval de Milei, é preciso também ter o OK de Karina. Todos têm medo dela, porque sabem que, se Karina não gostar de alguém, essa pessoa cai em desgraça — conta Alvez.

Um dos episódios mais recentes envolvendo a irmã do presidente ocorreu durante a última viagem de Milei aos Estados Unidos, encerrada com um encontro com o bilionário sul-africano Elon Musk, do qual Karina, obviamente, participou.

Enquanto o presidente discutia futuros investimentos de Musk na Argentina — incluindo propostas de transferir operações do Brasil para seu país —, Karina comandava a eleição de presidentes de comissões no Congresso. Estava decidida, com aval presidencial, a escolha da deputada Marcela Pagano para assumir o comando da Comissão de Julgamento Político da Câmara. Na última hora, informou a imprensa local, Karina ordenou, dos EUA, que o nome de Pagano fosse derrubado.

Dias depois, a deputada acabou sendo internada com uma crise de estresse. Segundo meios de comunicação locais, Pagano foi alvo de ameaças e não suportou a pressão.

Disputa com a vice

Karina também tem uma rivalidade pública com a vice-presidente Victoria Villarruel, autoridade que, diz González, a secretária-geral da Presidência mandaria demitir se pudesse. As duas mulheres nunca se entenderam muito bem, e Karina não tolera a projeção nacional da figura de Villarruel.

Questionada pelo conflituoso relacionamento numa entrevista a um meio local, a vice-presidente foi irônica:

— Karina é brava, e eu também — rebateu.

Outro inimigo da irmã do presidente é Ramiro Marra, vereador portenho que durante a campanha eleitoral foi um dos principais assessores de Milei, acompanhando o então candidato em viagens por todo o país. Quando o presidente assumiu o poder, Karina evidenciou sua implicância com o vereador e conseguiu que Marra deixasse de ser líder do governo na Assembleia Legislativa de Buenos Aires.

A todo-poderosa irmã de Milei entrou para a política junto ao agora presidente sem qualquer tipo de experiência. Estudou Relações Públicas, foi organizadora de eventos e teve um empreendimento de venda de bolos. Segundo conta González em seu livro, antes de vencer as eleições presidenciais do ano passado, Milei ajudava financeiramente a irmã, que passou por momentos de aperto econômico. Hoje ela controla importantes orçamentos do governo, acaba de ter ser salário reajustado e acumula um poder que parece não ter limites.

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