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Um, dois ou nenhum corte de juros: como o fantasma da inflação tem embaralhado o jogo do Fed

Investidores ajustam apostas de quedas de juros nos Estados Unidos diante de dados piores que o esperado

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (SAUL LOEB/AFP/Getty Images)

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (SAUL LOEB/AFP/Getty Images)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 29 de abril de 2024 às 07h00.

Os investidores iniciaram 2024 crentes de que o ano seria marcado por um longo e intenso ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos. Por um momento, o mercado chegou a precificar sete cortes de juros como o cenário mais provável. A projeção, se confirmada, levaria o juro americano do atual intervalo entre 5,25% e 5,5% para entre 3,5% e 3,75%. Mas o juro, que pela projeção anterior já deveria estar em queda, segue inalterado e as probabilidades de quedas de juros antes de setembro são mínimas.

Os cenários considerados mais prováveis hoje são de um, dois ou nenhum corte de juros nos Estados Unidos neste ano. A probabilidade mais alta é o Federal Reserve (Fed) cortar os juros apenas uma vez, em setembro. Segundo dados do CME Group calculados com base nas negociações de derivativos, a chance de os juros caírem para entre 5% e 5,25% em setembro seria de 44%, sendo que a probabilidade de o juro permanecer neste patamar até dezembro é de 40%. Investidores também precificam 21% de chance de o juro não cair neste ano, cerca de 29% de o Fed cortar os juros duas vezes até o fim do ano e cerca de 10% de o Fed cortar mais.

A piora das perspectivas para a queda de juros nos Estados Unidos teve como pano de fundo dados piores que o esperado para a inflação americana. O Índice de Preço ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) chegou a cair do pico 9,1% para 3% entre 2022 e 2023, mas o Fed não tem conseguido fazer a inflação cair mais do que isso. Pelo contrário, o índice de preço, que ficou poucas vezes acima de 2% na última década, tem voltado a subir. Na última divulgação, referente a março, o CPI bateu 3,5%, o maior patamar desde setembro. O consenso era de 3,4%.

Fantasma da inflação ainda assombra

"Tendo em conta as implicações para a política monetária e o início de qualquer ciclo de flexibilização da Fed, os dados de inflação do CPI de março foram desfavoráveis", avaliaram economistas do Bank of America. Uma das principais preocupações, ressaltaram, é a resiliência da inflação de serviços, mais atrelada à temperatura da atividade econômica. 

Mais preocupante do que o CPI é o índice de Preço sobre Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), principal referência para a política monetária americana. O Fed tem como objetivo mantê-la em 2%. Mas o indicador tem se mantido acima desse nível dede abril de 2021. Pior, nas últimas três divulgações o PCE apresentou aceleração, indo de 2,4% para 2,7%. O último dado, de março, foi divulgado na sexta-feira, 26, e saiu acima da expectativa de 2,6%.

"A leitura do PCE aumenta as expectativas de que o início do ciclo de cortes de juros só irá acontecer no final do ano e provavelmente será mais tímido", comenta em nota Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

A aposta de apenas um corte de juros é o cenário-base da Armor Capital. "Se o juro americano cair neste ano será apenas um corte "simbólico", após as eleições", disse Alfredo Menezes, CEO da Armor Capital, em entrevista recente ao programa Vozes do Mercado, da Exame.

Segundo o gestor, o risco de o Fed ter que voltar a subir os juros pela aceleração da inflação é longe de zero. "Diria que há uma probabilidade de 15%. Se isso acontecer, será muito ruim para os países emergentes", disse.

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