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Verão de chuva e preços altos não freia consumo de cerveja e Ambev pode ter ganho de margem em 2023

A favor do setor cervejeiro também está a perspectiva de alguma acomodação e redução nos preços de commodities neste ano; a concorrência entre as empresas, no entanto, aumentou

Cerveja: bebida alcoólica mais consumida no Brasil mostrou resiliência mesmo em dias frios ao longo de outubro e novembro (Jon Hicks/Getty Images)

Cerveja: bebida alcoólica mais consumida no Brasil mostrou resiliência mesmo em dias frios ao longo de outubro e novembro (Jon Hicks/Getty Images)

O verão de temperaturas mais baixas e dias chuvosos em boa parte do país, em especial nos estados do Sudeste, pode ser a água no chope de Ambev (ABEV3), Heineken e Grupo Petrópolis, além do restante do setor. Mas, por enquanto, não é.

Os números estão favoráveis e mostrando uma demanda resiliente. Em novembro a produção de bebidas alcoólicas cresceu 1,4%, sendo que cerca de 90% disso é cerveja. O dado foi especialmente impulsionado pela Copa do Mundo e as festas de fim de ano, sugerindo alavancas de crescimento nas vendas de Ambev e Heineken, as duas maiores cervejarias do país.

Esse contexto abriu espaço para algo que as empresas não estavam conseguindo fazer até meados deste ano: recuperar, ainda que em pequeno grau, as margens. Com a demanda aquecida - mais do que os termômetros -, foi possível repassar preços. A pergunta que fica, no entanto, é até onde será possível esticar a corda nos preços para seguir nessa reposição de rentabilidade? Será que os números continuarão mostrando venda elevada em dezembro e janeiro?

De acordo com o sindicato CervBrasil, que representa o Grupo Petrópolis e pequenas e médias cervejarias, o setor cervejeiro movimentou mais de R$ 200 Bilhões na economia brasileira em 2022 e empregou mais de 2 milhões de pessoas. A produção atingiu a marca de 15,3 bilhões de litros, representando um crescimento de 6% em relação a 2021, que já havia sido recorde histórico. Os dados do Sindicerv, sindicato que representa a Ambev e Heineken (que respondem por 80% do mercado) só devem sair em fevereiro, após levantamento feito pela consultoria Euromonitor. Paulo Petroni, da CervBrasil, diz que a projeção para esse ano é de um avanço de 1% sobre 2022.

A favor do setor também está a perspectiva de alguma acomodação e redução nos preços de commodities em 2023. A estimativa da Ambev é de que o custo por hectolitro (que corresponde a 100 litros) crescesse entre 16% e 19% em 2022. "Os custos marginais se recuperaram ligeiramente no quarto trimestre impulsionados pelos preços da cevada, mas a tendência geral aponta para desaceleração da inflação de custos em 2023", diz relatório do Bank of America (BofA).

Cerveja mais cara

Nesta terça-feira, 10, o IBGE divulgou o IPCA consolidado de 2022, principal indicador que mede a inflação do país. No consumo em casa, os preços da cerveja ficaram 9,37% maiores. Nos bares e restaurantes, que foram mais afetados durante todo o período da pandemia e são o principal canal de vendas do setor, a variação foi menor, de 6,42%. Ainda assim, o avanço da inflação de cerveja foi maior do que o indicador geral, que no ano ficou 5,79% mais alta.

No caso da Ambev, cuja margem bruta da Cerveja Brasil ficou em 46,4%% ao fim do terceiro trimestre, e da Heineken o que o mercado começou a observar foi um posicionamento de preços mais altos. Essa é uma percepção tanto dos analistas do Credit Suisse quanto do BofA: o ambiente de preços está melhor para o setor cervejeiro. 

"Os preços da cerveja no quarto trimestre melhoraram ligeiramente quando comparados ao terceiro trimestre. Nossas verificações de canal sugerem um aumento de preço de um dígito baixo (algo até 3%) no canal off-premise (varejo, como supermercados), enquanto, no on-premise (bares e restaurantes) os preços ficaram praticamente estáveis com alguma atividade promocional de marcas importantes como Original",  escreveram Isabella Simonato  e Guilherme Palhares do BofA em relatório da última semana.

Em relatório mais recente, tratando apenas do Zé Delivery, app de venda direta da Ambev, a dupla de analistas do BofA também apontou preços mais altos, mesmo com a companhia aumentando o portfólio e ofertando mais garrafas retornáveis (que oferecem preços mais baixos para o consumidor e também ajudam nas margens das cervejarias). "Embora os consumidores tenham mais opções agora, elas têm um preço mais alto, principalmente para marcas principais", escrevem. Segundo eles, Antarctica, Skol e Brahma ficaram entre 8% e 10% mais caras agora do que em agosto, enquanto Brahma Duplo Malte e Original, consideradas core plus e premium, respectivamente, ficaram 4% mais caras, embora tenham ficado quase 8% mais caras em novembro, mês em que a Copa do Mundo começou.

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Foi justamente nesse período que a plataforma de entregas da Ambev viveu dias de recorde de pedidos. Na estreia do Brasil na Copa a hora que antecedeu o jogo somou 55 mil pedidos. No terceiro jogo da fase de grupos, contra Camarões (em uma sexta-feira), esse número foi superado, segundo fontes próximas à operação ouvidas pela Exame Invest. Todos esses números devem se refletir nos números do quarto trimestre da companhia, a serem divulgados em 2 de março.

O Credit Suisse recomenda compra da ação da Ambev, enquanto o BofA fala em momento positivo mas mantém orientação neutra, destacando o aumento da concorrência e o risco de queda de demanda e impactos de uma potencial reforma tributária. Até essa terça-feira, 10, a ação era negociada a R$ 14,54 - um avanço de 3,12% considerando os últimos seis meses e um recuo de 0,95% se considerado os últimos 12 meses.

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