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Do método dos potinhos à gestora: a trajetória de Sara Delfim, da Dahlia

Economista conta como começou a investir e definiu prioridades em sua carreira no mercado financeiro

Sara Delfim, sócia-fundadora da gestora Dahlia Capital: uma das pioneiras da nova onda de gestoras no mercado | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

Sara Delfim, sócia-fundadora da gestora Dahlia Capital: uma das pioneiras da nova onda de gestoras no mercado | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 22 de julho de 2021 às 06h00.

Última atualização em 28 de julho de 2021 às 18h31.

Uma das raras mulheres a fundar o próprio negócio no mercado financeiro, Sara Delfim é sócia e membro do time de gestão de fundos da Dahlia Capital, além de economista e mãe. Ela resolveu empreender após uma carreira de 20 anos em um grande banco, o Bank of America. Também já havia passado pelo banco americano Bear Stearns.

Delfim analisava e recomendava ativos a investidores no Brasil e na América Latina, com base em previsões macroeconômicas. "Estava há muito tempo fazendo a mesma coisa. Consegui tudo o que queria na carreira e fechei um ciclo. Via poucos desafios e tive a vontade de empreender em algo diferente."

Sara tomou a decisão de sair do banco em 2017, quando percebeu que o Brasil passaria por uma grande mudança macroeconômica. O BNDES emprestava dinheiro a custo baixo, enquanto a taxa de juro cobrada no mercado financeiro era mais elevada. Quando o subsídio acabou no governo de Michel Temer, a gestora anteviu que a taxa de juros estrutural do país poderia cair. Seria algo positivo tanto para o investimento em ativos de risco como para empreender.

"Era uma janela de oportunidade que se abria para oferecer investimentos de risco, nos quais posso maximizar retornos. Ter um negócio que me proporcionasse um retorno de 10% ao ano e, caso precisasse, ter uma dívida de 8%, e não 15%, também ajudava."

A socia da Dahlia se tornou mãe quando ainda trabalhava no banco. Seus filhos nasceram em 2013. Quando optou por sair do Bank of America, ainda não tinha ideia do que faria. "Pensei em passar um tempo com os meus filhos, mas não aguentei ficar duas semanas em casa. Antecipei o processo de voltar ao mercado", conta.

Sara Delfim tinha a certeza de que não dava para seguir sozinha. "Eu nunca tinha feito gestão. Precisava montar um time, com empatia, princípios e filosofia de vida semelhantes.". A economista resolveu então chamar os ex-colegas de banco Felipe Hirai e Felipe Leal, que também já haviam deixado a instituição financeira.

Em três anos, a Dahlia Capital, que tem foco nos mercados de ações e dívida corporativa na América Latina, já gerencia 13 bilhões de reais e é um dos destaques de uma onda de novas gestoras do mercado doméstico.

O começo

O envolvimento de Sara Delfim com os investimentos começou na adolescência. Antes de se formar em economia, ainda como estagiária, a gestora diz que não tinha controle sobre suas finanças. "Meu pai me avisava que não importava o quanto eu ganhasse, se eu não tivesse controle sobre o meu orçamento, eu gastaria igual. Comecei a aprender a dizer não e a ser mais ponderada nas minhas decisões."

A sócia da Dahlia também começou a usar o método dos potinhos. "Dividia o salário que recebia no estágio: deixava mil reais na conta e sacava mil reais para despesas pessoais. Dessa forma, sabia que se fizesse manicure duas vezes na semana eu não teria dinheiro para fazer na última semana do mês. Funcionou por dois anos até que me assaltaram e precisei me modernizar. Eu andava com as cédulas presas em clipes", conta.

Logo, veio a necessidade. "Meu pai sempre achou que ia viver muito, mas acabou falecendo bem antes do esperado e não tinha plano de previdência. Eu tinha acabado de me formar e minha mãe era dona de casa. Junto com minha irmã, tivemos de nos virar."

Com o que guardou, Delfim viu que poderia comprar um carro e criou gosto por poupar. "Vi na prática que dinheiro investido ganhava valor. Comecei a deixar 10% do salário na poupança até que terceirizei a gestão da minha carteira."

Limites na jornada de trabalho

O mercado financeiro é conhecido por suas longas jornadas de trabalho. Mas Delfim conta que aprendeu, ao longo de sua carreira, que a quantidade de horas trabalhadas não gera mais eficiência nem reconhecimentos.

"Sempre fui controlada, mesmo antes de ser mãe. Sempre gostei de ter vida fora do trabalho: um tempo para praticar esportes e ver amigos e família. Começava cedo, acabava cedo e me concentrava no trabalho. Na prática, o que conta é o resultado. Mas tem de se impor", afirma.

Delfim fazia questão de iniciar o trabalho às 7 horas da manhã e encerrá-lo às 19h, uma jornada de 12 horas, já mais longa do que a média. "Às vezes havia reuniões com outros funcionários nos Estados Unidos, com fuso horário diferente. Comecei a declinar compromissos fora desse horário, mas percebi que isso era ruim. Teria de ser honesta e deixar claro que poderia haver exceções", conta a experiente gestora.

A economista passou a negociar mais os compromissos para que fossem realizados no seu expediente. "Se não houvesse jeito, apontava que sempre tinha um funcionário solteiro com horários mais flexíveis que poderiam ser chamados. Temos de ser transparentes com o que podemos e queremos", aconselha.

Mesmo colocando limites e trabalhando menos do que a média de seus colegas, Delfim conseguia ser a analista mais produtiva, considerando o número de relatórios publicados, as interações com clientes e os níveis de acertos e erros em recomendações.

Evolução das mulheres no mercado financeiro

Para Delfim, a fotografia da inclusão de mulheres melhorou muito desde que começou a trabalhar no mercado, em 1997.

"Havia poucas mulheres em cadeiras de liderança. Geralmente, havia apenas mulheres na área comercial. Mas, quando saí do Bank of America, a área de research tinha mais mulheres, em cargo sênior, júnior e estagiárias. Havia também funcionárias na liderança da mesa de operações e de dívida."

Mulheres e investimento

Sara Delfim estimula as mulheres a tomarem mais risco ao investir.  "Quem é mãe e trabalha toma risco o tempo todo. Decidir quem vai cuidar do filho, tomar decisões financeiras relacionadas à família e resolver mudar de carreira são todas decisões de risco. Decidir onde investir é apenas mais uma", afirma.

A humildade, resume, deve ser o norte das investidoras. "Eu me especializei em ações, mas preciso pesquisar quando se trata de outros produtos. Temos de quebrar o mito de que sabemos tudo porque não sabemos. E é legítimo pedir ajuda."

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