Inteligência Artificial

Inteligência artificial virou assunto de quem comanda

Entenda como a GenAI está redefinindo o cenário corporativo e o que isso significa para quem lidera as decisões estratégicas de uma empresa

Cesar Velloso
Cesar Velloso

Country Manager do Gartner Brasil

Publicado em 18 de abril de 2024 às 10h22.

Última atualização em 24 de abril de 2024 às 11h05.

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Os recentes avanços em inteligência artificial generativa (GenAI) fazem dela o conjunto mais disruptivo de tecnologias e capacidades que impactaram o mercado global em décadas. Portanto, é crucial que os Conselhos de Administração (CA) se familiarizem com as oportunidades, riscos e potenciais ameaças que se apresentam para os negócios. Trata-se de uma jornada que passa a integrar a estratégia corporativa, requerendo assertividade na tomada de decisão e na execução, cruzando sustentação e transformação em linha com os objetivos de negócios no médio e longo prazos.

Embora a inteligência artificial (IA) e a GenAI já existam há algum tempo, a chegada do ChatGPT em novembro de 2022 democratizou o acesso a essas tecnologias e criou condições para transformar a maneira como todas as empresas competem e trabalham virtualmente. Como sabemos, de forma muito simplista, o ChatGPT é um programa de computador desenvolvido pela OpenAI que se comunica em linguagem natural, podendo responder a perguntas ou conversar com pessoas através de mensagens de texto. Esse avanço torna esta tecnologia acessível a milhões de usuários que não possuem habilidades de programação para usar tecnologias de IA tradicionais. Em outras palavras, as pessoas conseguem agora interagir com o ChatGPT para acessarem vastos bancos de dados disponíveis na Internet, obtendo uma infinidade de conteúdos em resposta às suas diferentes solicitações.

Em breve, a GenAI irá se tornar uma vantagem competitiva e um diferencial, desestabilizando modelos tradicionais de trabalho assim como a robótica transformou a produção industrial (no desempenho dos funcionários, no desenvolvimento de produtos, nos canais para a geração de novos negócios). Ela tem o potencial de impactar significativamente o valor para os acionistas, fornecendo novas e disruptivas oportunidades para aumentar a receita, otimizar custos, melhorar a produtividade e gerenciar melhor os riscos empresariais.

Os custos para a GenAI irão variar e podem chegar a muitos milhões de dólares, dependendo do caso de uso, escala e requisitos da empresa. Pequenas e médias empresas podem obter um valor significativo para os negócios usando versões gratuitas de aplicativos abertos, como OpenAI, ou pagando assinatura de baixo valor, mas lembrando sempre que o nível proteção geralmente está associado ao custo. Em paralelo, importantes fornecedores globais já estão incorporando a tecnologia aos seus sistemas para proporcionarem novos benefícios e produtividade para os clientes empresariais.

Sobre as melhorias de processo, a GenAI tem a capacidade de gerar valor real e contextual para diversos tipos de conteúdo, como documentos, correspondências e transcrições. Até agora, uma grande quantidade de dados ainda está inexplorada, mas isso irá mudar. Portanto, para proteger as empresas contra riscos de marca e de reputação, os boards devem prestar atenção à forma como acontece o uso das plataformas.

Os riscos associados à GenAI são significativos e estão evoluindo rapidamente. Assim como os funcionários podem usar a GenAI para facilmente aprimorar o trabalho, a mesma dinâmica vale para hackers que já conseguem usar indevidamente a tecnologia para criar "deepfakes" (falsificações de imagens e de outros traços biométricos reais de pessoas), fraudes ou cópias de produtos. Apesar de as ferramentas atuais de GenAI, como o ChatGPT, já estarem treinadas com grandes quantidades de dados de acesso público que ainda não podem ser usados sem permissão, elas ainda não estão em conformidade com as leis de direitos autorais, o que exigirá o monitoramento de falta de transparência, de imprecisão ou de viés nos dados.

Sabemos que o ambiente regulatório está em rápida evolução, mas é recomendável o acompanhamento do tema e dos litígios relacionados à essa tecnologia. Países como China e Singapura já implementaram novas regulamentações em relação à IA e GenAI. A Itália proibiu o uso do ChatGPT. Países como os Estados Unidos, Canadá e Índia também estão preparando suas regulamentações. A União Europeia já aprovou sua lei focada no tema. No Brasil, a votação da regulamentação da inteligência artificial deve ocorrer no primeiro semestre deste ano.

Centenas de milhões de dólares e poder computacional massivo estão sendo investidos atualmente nessas novas tecnologias, mas ainda existem poucos modelos fundamentais em grande escala por causa do alto custo, da dificuldade de criação e da escassez de talentos em todo o mundo. Paralelo a isso, atualmente, não existem garantias verificáveis de governança e de proteção de dados em relação às informações confidenciais das empresas, o que vai demandar uma série de controles, definições sobre criptografia e armazenamento em Nuvem.

No entanto, um ecossistema massivo de ferramentas e aplicativos surge com potencial de gerar muitas oportunidades tanto para empresas estabelecidas quanto para startups, uma vez que os investimentos em GenAI saíram da casa dos 408 milhões de dólares em 2018 para mais de 4,5 bilhões ao ano, apesar da crescente incerteza econômica e das altas taxas de juros. Mesmo levando em consideração a possibilidade de uma bolha nos investimentos de GenAI, essas somas são um indicativo do potencial que a comunidade de capital de risco e os fornecedores enxergam oportunidades nesse mercado.

A inteligência artificial está no topo da lista de tecnologias disruptivas e GenAI já aparece como um tópico nas calls de resultados financeiros das empresas de capital aberto. Muitos CEOs entrevistados pelo Gartner nomeiam IA como a tecnologia com maior capacidade de gerar valor estratégico no futuro.

Diante desses fatores, os membros dos boards das empresas brasileiras devem trabalhar em conjunto com os CEOs para explorar as possibilidades, começando com perguntas bem formuladas sobre o estado atual da estratégia e dos investimentos em GenAI, políticas que precisam ser implementadas, necessidade de investimento, expectativa de aumento de produtividade, desenho de novos modelos de negócios, inovação e estratégia de talentos. Devem também questionar sobre as áreas do negócio mais promissoras no uso da tecnologia e o estágio da concorrência para avaliar a maturidade do setor.

É crucial reconhecer que estamos diante de uma era transformadora, impulsionada pela inteligência artificial generativa (GenAI). Seus avanços vão redefinir os paradigmas do mercado global, oferecendo oportunidades sem precedentes, mas também desafiando líderes dos mais diversos setores a considerarem os riscos e ameaças associados a essa revolução tecnológica. À medida que os Conselhos de Administração se preparam para navegar nesse novo cenário, é fundamental abraçar uma mentalidade proativa, integrando a GenAI à estratégia corporativa com assertividade e visão de longo prazo para capitalizar vantagens competitivas. O trabalho estruturado para explorar o potencial da GenAI irá moldar o futuro dos negócios de forma mais eficiente, inovadora e sustentável, unindo habilidades humanas com as das máquinas para resolver problemas a partir da formação de uma inteligência coletiva.

Considerando o cenário atual da GenAI, seguem alguns aspectos e direcionamentos muito importantes: priorizar o crescimento da receita e a experiência do cliente em detrimento da economia de custos, buscando um tempo de produção relativamente rápido. Avaliar possíveis casos de uso quanto ao valor e à viabilidade para determinar as prioridades. Criar estratégias, planejar e comunicar, minimizando os riscos e aproveitando o valor do negócio com a avaliação das oportunidades, dos benefícios e das armadilhas que os modelos de IA apresentam. Gerenciar segurança, riscos e governança, revisando manualmente todos os resultados e definindo políticas organizacionais claras para uso até que a segurança e os controles de risco em nível empresarial sejam implementados. Avaliar, projetar, testar, implementar e operar GenAI além dos grandes players de plataforma, prestando atenção às alternativas de código aberto e às muitas centenas de fornecedores especializados financiados por amplo capital de risco. Desenvolver talentos, habilidades, funções e responsabilidades essenciais da GenAI, alinhando as habilidades certas às funções exigidas em iniciativas multidisciplinares.

Tudo isso parece muito complicado em meio ao mundo V.U.C.A (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) que nos cerca? Talvez, mas uma coisa é certa: esta jornada não é opcional. Resta agora saber quem irá enxergar e priorizar as Oportunidades antes dos Riscos e, também, alavancar os Riscos como Oportunidades.

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