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Pode passar a régua: 2020 já superou R$ 100 bi em ofertas de ações

Ano ainda tem operações importantes para sair, como a tão aguardada listagem da Rede D'Or

Entrada da B3
Entrada da B3
GV

10 de novembro de 2020 às 02:43

A Faria Lima e o Leblon, a avenida paulistana e o bairro carioca que simbolizam os centros financeiros do país, já podem estourar seus rojões. Nem é preciso esperar 2021. Está feito o ano dos 100 bilhões de reais em ofertas públicas de ações na B3, sejam iniciais, os famosos IPOs, ou subsequentes, já amplamente conhecidos como follow-ons. É assim, em 2020, no ano nada óbvio de uma pandemia global, que a B3 bate seu recorde em vendas de ações sem nenhum extra ou ajuste. Precisamente: foram 100,3 bilhões de reais absorvidos de IPOs e ofertas subsequentes, públicas ou com esforços restritos.

O volume é o maior da história da bolsa brasileira. Ponto. Em 2019, foram movimentados 90 bilhões de reais, em 37 ofertas subsequentes e cinco IPOs. Até aqui, 2020 tem 23 IPOs e 30 ofertas subsequentes — 53 ofertas de ações, portanto.

Em quantidade de operações, o ano pandêmico só perde mesmo para a euforia desgovernada — ou quase isso — de 2007, quando ocorrem 76 colocações (64 estreias na bolsa). Mas o ano ainda segue e operações importantes ainda são aguardadas, com a emblemática e aguardada oferta de Rede D'Or.

Antes que qualquer um erga a mão é bom que se esclareça para quem pesquisar: em 2010, o volume de ofertas somou 149,2 bilhões de reais. Mas aquele ano e seu respectivo saldo não contam para o histórico: incluem a mega-oferta de ações da Petrobras de 120 bilhões de reais — a exceção da exceção. A operação foi realizada para que a União Federal aportasse o pré-sal dentro da estatal, literalmente em barris de petróleo, e para que a empresa levantasse recursos para a exploração dessa região.

Também é bom que se lembre que os 100 bilhões de reais em ofertas não incluem os 8 bilhões de reais em ações da Vale que o BNDES vendeu em uma hora e meia de pregão na B3, perto da máxima histórica do papel. Também não contabilizam os 2 bilhões de reais de um aumento de capital privado da Natura &Co realizado em maio, nem o 1,1 bilhão de reais que a empresa levantou fora do Brasil como parcela de sua oferta global feita em outubro. Tampouco tem os 300 milhões de reais que a CVC pegou com seus acionistas. Tudo isso somado, e as colocações de ações, públicas ou privadas, já ultrapassam 110 bilhões de reais.

A marca das ofertas de ações de 2020 foi alcançada nesta segunda-feira, dia 9 de novembro, quando a fabricante de pás eólicas Aeris e a empresa de exploração de campos maduros 3R Petroleum fecharam seus respectivos IPOs — movimentando 1,8 bilhão de reais na bolsa. Ambas as ofertas saíram abaixo do piso da faixa sugerida de preços, o que indica que o investidor continua seletivo e as companhias, flexíveis. Coincidentemente, os valores foram definidos no dia em que estreou no pregão a segunda startup do mercado, a Enjoei (a primeira foi a Méliuz).

Podem dizer o que for, mas 2020, qualitativamente, não tem nada a ver com 2007. Há mais de uma década, era questão de honra sair, pelo menos, no preço intermediário. Depois de 13 anos, o investidor entendeu que é seu dever não aceitar o primeiro preço se não quiser e a companhia compreendeu que a estreia na B3 é o começo de um capítulo e não o fim.

E mais importante de tudo: ainda que a liquidez seja o fator principal da atividade do mercado de capitais, 2020 e 2007 continuam incomparáveis. Neste ano, as ofertas foram absorvidas principalmente pelos gestores de recursos brasileiros, os melhores conhecedores do que está sendo vendido. Os fundos de ações captaram 66,4 bilhões de reais neste ano de 2020: é dinheiro do brasileiro fazendo a economia nacional se movimentar. Os investidores estrangeiros, mais distantes da realidade do país, compraram menos de 30% das ofertas de ações deste ano.

Quer mesmo saber como foi em 2007? Os investidores estrangeiros foram disparadamente os maiores compradores: mais de 70% do total dos 70 bilhões de reais vendidos em ações foram absorvidos pelo transbordamento da riqueza inexistente pré-estouro da bolha imobiliária.

Precisa mesmo falar mais alguma coisa sobre o inusitado 2020, o ano em que as projeções do Focus (média do mercado) para o Produto Interno Bruto (PIB) indicam queda de 4,81%, na melhor estimativa pós-pandemia?

 

 

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