Pátria alcança fatia de 5% na Ultrapar e mercado espera novas compras
Gestora de recursos entrou no negócio no ano passado, por meio de uma participação na holding Ultra S.A.
Gestora de recursos entrou no negócio no ano passado, por meio de uma participação na holding Ultra S.A.
8 de junho de 2020 às 19:58
A Ultrapar, uma das holdings industriais mais tradicionais do mercado brasileiro, ganhou um novo sócio e com planos redobrados de participar da governança do negócio: a Pátria Investimentos. A gestora de fundos de participações investiu cerca de 700 milhões de reais na compra em bolsa de 3,95% das ações ordinárias da empresa, que está avaliada hoje em 20,8 bilhões de reais na B3. O negócio foi recebido como um casamento de tradições, já que a Pátria é uma das casas mais antigas de private equity no Brasil.
Os acionistas de mercado da Ultrapar — dona da distribuidora de combustíveis Ipiranga, da fabricante de especialidades químicas Oxiteno, da Ultragaz e da Ultracargo, e mais recentemente da rede farmácias Extrafarma — entenderam o movimento como o início de uma “parceria” societária maior. A aposta é que deve passar por um aumento da fatia comprada e uma atuação direta na gestão, tanto na eleição da administração como no futuro do portfólio de negócios controlados.
Consultadas, Ultrapar e Pátria preferiram não comentar a notícia do dia. Ambas são conhecidas por serem excessivamente discretas na relação com o mercado.
A aquisição anunciada hoje não é o primeiro movimento da Pátria Investimentos sobre a Ultrapar, grupo que consolidou uma receita líquida de 89,3 bilhões de reais no ano passado. Em 28 de novembro, a gestora assumiu uma posição em debêntures conversíveis na holding controladora da Ultrapar, a Ultra S.A. A gestora exerceu a conversão desses títulos, o que lhe deu uma participação de 5,4% nessa holding — equivalente a 1,08% da Ultrapar. A investida foi construída ao lado da família fundadora, os Igel.
No total, portanto, a participação da Pátria direta e indiretamente na Ultrapar soma 5,03%. Apesar de pequena, a fatia comprada no fim de 2019 confere à gestora uma posição privilegiada na governança, pois a coloca na Ultra S.A., que costurou um forte acordo de acionistas com a Parth. Juntas, as holdings — ambas da família Igel, mas de árvores diversas — somam perto de 29% da Ultrapar.
Ninguém que comprar uma fatia da Ultrapar em bolsa estará tão próximo dos acionistas de referência como a gestora de recursos. É desse acordo das holdings que sai a formação da chapa do conselho de administração da empresa. A composição atual foi eleita em 2019, com mandato até abril de 2021.
A Ultrapar encara o desafio de se reinventar. Há cerca de dois anos, o mercado tirou do grupo o prêmio de gestão que tinha, muito presente durante a gestão de Paulo Cunha — que mesmo sem ser controlador foi a cara da companhia durante anos. O conglomerado era percebido antes por ter um “toque de midas” na condução das operações.
Desde o fim de 2018, o mercado acompanha um namoro à distância entre Pátria e a companhia. Agora aposta que a gestora conseguirá fazer uma "pressão amigável" por mudanças mais velozes. No comunicado ao mercado sobre a fatia de 5% alcançada, a Pátria afirma que as compras em bolsa “reforçam sua intenção de contribuir com a governança da Ultra e da Ultrapar”. A gestora também afirma que “não há uma participação alvo definida.”
A Ultrapar já foi uma empresa de valor de mercado que oscilava entre 40 bilhões e 45 bilhões de reais na B3. A redução dessa avaliação é muito anterior à pandemia. Mas a covid-19, é fato, chegou em um momento que o preço havia mostrado alguma recuperação. Em fevereiro, a empresa estava avaliada em 28 bilhões de reais. A crise com o coronavírus, que impacta principalmente a operação da Ipiranga, gerou uma nova queda relevante nas cotações. A baixa na bolsa atraiu outras casas renomadas nacionais, o que ampliou a participação de investidores institucionais domésticos no capital da companhia.
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