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Oi capta R$ 4,5 bi e reduz custo de dívida para seguir com investimentos

Novos recursos vão substituir dívida com Farallon, de 2019

Oi: custo da nova emissão é quase 5 pontos percentuais menor que dívida anterior (Cistiano Mariz/Exame)
Oi: custo da nova emissão é quase 5 pontos percentuais menor que dívida anterior (Cistiano Mariz/Exame)
GV

Graziella Valenti

28 de julho de 2021 às 13:02

A Oi captou US$ 880 milhões em sênior notes, com vencimento em 2026, o equivalente a aproximadamente R$ 4,5 bilhões. O total é cerca de 10% acima do volume pretendido inicialmente e o custo ficou em 8,75% ao ano em dólares. O dinheiro levantado vai pagar as debêntures de R$ 2,5 bilhões adquiridas pela Farallon, que foram emitidas pela Oi Móvel e vencem oficialmente em janeiro de 2022. E vai sobrar algum para o que a tele mais faz nos últimos anos: investir.

O custo dessa operação ficou abaixo dos títulos anteriores, que era de exorbitantes 12,66% em dólar no primeiro ano e 13,61% a partir de então — única taxa possível para um negócio em meio a uma recuperação judicial. Portanto, houve uma importante redução para a empresa, que seguirá com o desafio de manter os esforços de desalavancagem, mesmo após sair do manto sagrado da proteção da Justiça contra credores — o que deve ocorrer tão logo forem homologadas e concluídas em juízo as vendas da Oi Móvel e da InfraCo. Remuneração menor significa melhor percepção de risco pelo mercado.

O total captado pela tele supera o montante a ser pago considerando juros e encargos, que deve girar entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões. A diferença, a Oi vai usar para a maior destinação de recursos desde que o presidente Rodrigo Abreu começou a desenhar um novo plano para a companhia: rede de fibra. A companhia tem atualmente 10,5 milhões de casas passadas com essa infraestrutura. Das quais, 2,5 milhões estão conectadas, ou seja, são clientes. O plano é expandir a capilaridade para 15 milhões de casas passadas até o fim de 2021.

O caminho até aqui foi suado. A Oi investiu R$ 15 bilhões em 2019 e 2020. Nos primeiros três meses deste ano, o total aplicado somou quase R$ 1,9 bilhão — o que anualizado equivale a manter ou ligeiramente acelerar o ritmo dos últimos dois anos. De 2016 a 2018, a média anual de investimento esteve em R$ 5,5 bilhões, durante a primeira fase do plano de recuperação.

Quando Abreu assumiu, em janeiro do ano passado, adotou uma postura pouco trivial na gestão de empresas que vivem uma reestruturação judicial de dívida: montou um plano estratégico que é, ao mesmo tempo, a finalização da reorganização dos compromissos com a tutela da Justiça. Depois disso, a empresa seguirá com esforços para melhorar as métricas financeiras.

No Brasil, o comportamento padrão das empresas é ir para recuperação judicial quando não há mais ativos para serem dados em garantia. Para complicar ainda mais, colocam todo foco em fazer um projeto que as livre do sufoco das dívidas e deixam para pensar a estratégia depois. Abreu foi ousado. Como a dívida seguia impagável mesmo após a conversão dos créditos em capital e da primeira etapa, adotou um modelo de separação de infraestrutura e venda de serviços. O desenho não é uma invenção dele, mas é inovador no Brasil, em especial para rede fixa. Nas teles celulares, as empresas começaram a vender suas torres anos antes. Mas fez um movimento raro: propôs reorganizar os vencimentos com uma projeto estratégico.

Agora, o sucesso do projeto depende de uma execução de excelência tanto na frente de atendimento ao cliente, como de infraestrutura. A Oi seguirá minoritária da InfraCo, com cerca de 42% do negócio e é de uma nova venda desse ativo que deve sair a solução final para as finanças da empresa.

Na frente operacional, o projeto de Abreu prevê crescimento expressivo, uma vez que hoje a receita líquida (do que vai continuar com a Oi) ronda na casa dos R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões anuais e deve encerrar 2024 entre R$ 14,8 bilhões e R$ 15,5 bilhões.

Um pouco de história

O motivo de o investimento ter de ser acelerado durante a recuperação judicial é simples: historicamente, a Oi nunca tratou o assunto como prioridade. Os antigos controladores da companhia, Andrade Gutierrez e Grupo La Fonte (Família Jereissati), que levaram o negócio até a recuperação judicial ser a única alternativa, em 2016, sempre deram preferência para se remunerar, com dividendos, do que investir.

Abreu adotou o único caminho possível: investir para ter o que vender, para saldar dívida, e para ter de onde tirar receita. Antes dele, um único executivo do passado mais recente quis seguir esse caminho, mas não durou quase nada — Francisco Valim. Quando os controladores lhe vetaram o dinheiro, o executivo entendeu que não tinha função. Foi embora. Nesse sentido, os credores da Oi conseguiram ser mais racionais que os antigos donos. Agora, mais do que nunca, a Oi é uma companhia do futuro. A diferença é que, dessa vez, ela tem uma direção e um plano. Apertado, mas tem.

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