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Qualicorp

O recado da D’Or sobre Qualicorp: o acionista que manda sou eu

Em fevereiro, a gigante de hospitais ampliou sua fatia na gestora de benefícios de 15% para 22,4%

Saúde: Rede D'Or não quer deixar margem para dúvidas sobre quem manda na Qualicorp e pode comprar mais ações (Heudes Regis/Abril)
Saúde: Rede D'Or não quer deixar margem para dúvidas sobre quem manda na Qualicorp e pode comprar mais ações (Heudes Regis/Abril)
LA

1 de março de 2021 às 19:10

O que está por trás do investimento recente da Rede D'Or na Qualicorp? Apenas em fevereiro a gigante de hospitais ampliou sua fatia na gestora de benefícios de 15% para 22,4%, com um investimento na casa dos R$ 600 milhões. O movimento surpreendeu o mercado.

Um executivo próximo à companhia revelou ao EXAME IN que o objetivo da Rede D'Or, avaliada em nada menos do que R$ 135 bilhões na B3, é enviar ao mercado uma mensagem clara de que vai continuar sendo o acionista referência na Qualicorp. Nos últimos meses, outros investidores, sobretudo o fundo Pátria, vinham ampliando sua participação na companhia. Opportunity também montou uma posição relevante, da ordem de 6%.

A gestora de recursos, uma das mais tradicionais do país, adquiriu uma fatia de 5% em dezembro e no começo do ano dobrou para 10%. Com isso, estava muito perto dos 13,5% que a Rede D'Or tinha até o fim do ano passado. Agora, a família Moll abriu um espaço de vantagem, mas não significa que as compras terminaram. Tudo indica que há espaço para mais. De qualquer forma, de acordo com pessoas próximas ao assunto, não há planos de formar ums posição majoritária, ou seja, acima de 50%.

Mas, se quisessem o estatuto da Qualicorp não oferece nenhuma resistência para quem quer montar participações relevantes no negócio.

A Rede D'Or começou a comprar ações da Qualicorp em 2019, por meio de um acordo com o então fundador  e ex-presidente José Seripiei Filho, o Júnior,  e indicou dois dos principais executivos da companhia para tocar a operação — ambos também tinham passagens pela Qualicorp.

Bruno Blatt, ex-D'Or Consultoria, é o presidente-executivo e Heráclito Gomes, que foi presidente da própria Rede D'Or e da Qualicorp, assumiu a liderança do conselho. Júnior vendeu tudo que tinha há tempos e dinheiro não é problema para a companhia, que captou R$ 8,4 bilhões de reais numa oferta de ações no fim de 2020.

O EXAME IN apurou que a Rede D'Or vê um grande potencial de crescimento na Qualicorp, uma da maiores clientes de planos e operadoras de saúde como Intermédica, Hapvida, Bradesco e Sulamérica. Todos os acordos devem continuar. A estratégia é manter o negócio totalmente apartado da D'Or, a maior operadora de hospitais do país, focada nas classes A e B.

A companhia deve seguir concentrada nesse público, com aquisições e crescimento orgânico Brasil afora, em cidades como Salvador, Aracaju, Campinas, Guarulhos e Santos. O foco são planos que cobram a partir de R$ 200 de seus clientes. Hapvida e Intermédica, que anunciaram uma fusão de R$ 115 bilhões neste fim de semana, miram clientes das classes B e C, e na teoria não concorrem diretamente com a D'Or.

Mas as mudanças do aquecido mercado brasileiro de saúde podem colocar as duas maiores empresas do setor em rota de colisão mais direta no futuro. O mercado está tão aquecido que três redes de hospitais já pediram registro para futuras aberturas de capital: Matter Dei, Kora Saúde e Hospital Care. E na semana passada a LTS Investimentos (do trio Lemann, Telles e Sicupira) e Randal Zanetti, criador da Odontoprev, anunciaram um negócio de 200 milhões de reais juntando empresas de gestão hospitalar à 3778, especializada em dados.

O mercado de saúde vai continuar em transformação, e tende a ganhar um grande impulso com uma retomada mais consistente do crescimento da economia. Isso faria com que o lago de 47 milhões de clientes dos planos privados crescesse, e que dentro dele mais pessoas e empresas buscassem planos mais caros. Nesse contexto, a Qualicorp é uma arma da D'Or para aproveitar a expansão do mercado numa nicho em que não atua.

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