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Na GM, um ‘mea culpa’ de US$ 10 bilhões

Mega programa de recompra de ações vai redirecionar para os acionistas parte de recursos destinados a carros elétricos

Carro autônomo da Cruise: Startup controlada pela GM perdeu licença após acidente (GM/Divulgação)
Carro autônomo da Cruise: Startup controlada pela GM perdeu licença após acidente (GM/Divulgação)

11 de dezembro de 2023 às 16:14

A GM anunciou ontem um programa de recompra de US$ 10 bilhões para o próximo ano, o maior da sua história recente, redirecionando para a remuneração de acionistas dos recursos que estavam reservados para o desenvolvimento de carros elétricos e autônomos.

O anúncio é um ponto de inflexão na agenda da CEO Mary Barra, que vem tentando posicionar a GM como uma empresa de tecnologia e foi interpretado pelo mercado como uma tentativa de reassegurar os investidores da força de seu negócio principal.

A iniciativa deu fôlego às ações, que negociavam a quatro vezes seu lucro por ação – o mesmo patamar anterior à pandemia. Só ontem, os papéis subiram quase 10%.

Trata-se de um ajuste quase aritmético. Pelo novo plano anunciado ontem, US$ 6,8 bilhões de ações da empresa – cerca de 17% do seu valor de mercado de US$ 40 bilhões anterior ao anúncio – serão canceladas imediatamente, com o restante previsto para o próximo ano.

Numa conta simples, só isso deve aumentar as projeções de lucro por ação dos analistas em cerca de 20%, aponta o WSJ.

Os recursos devem vir da forte geração de caixa da empresa. A GM aumentou em 38% a previsão de fluxo de caixa livre para 2023 no ponto médio do guidance, que passou para US$ 11 bilhões.

Não ficou exatamente claro como a companhia conseguiu esse feito em meio à uma greve histórica dos trabalhadores de montadoras que custou pelo menos US$ 1,1 bilhão em produção perdida no último trimestre e resultou num acordo que deve pesar sobre os salários nos próximos anos.

Mas o plano passa por uma redução nos investimentos. A GM vinha com dificuldades de aumentar sua produção de carros elétricos neste ano por conta de problemas com a linha de montagem de baterias.

Ontem, Barra afirmou que a companhia deve postergar a inauguração de uma fábrica de caminhões elétricos para o fim de 2025, reforçando a mensagem de que será necessário ir mais devagar rumo a essas tecnologias daqui para frente.

Sinais dessa postura mais conservadora já haviam sido dados no mês passado. Em outubro, a GM encerrou uma parceria de US$ 5 bilhões firmada com a Honda para desenvolver veículos elétricos de baixo custo — apenas um ano depois de começar essa união.

Mais recentemente, a grande aposta da companhia em carros autônomos, a startup californiana Cruise, da qual a GM tem 80% do capital, também desviou da rota, com a perda de licença para operar na Califórnia e uma debandada de executivos, após um acidente que envolveu o atropelamento de uma mulher.

Para além dos desafios próprios da transição da GM, a estratégia vem num momento de dúvidas sobre o quão exponencial será a demanda por carros elétricos. Se ninguém tem dúvidas do avanço da tecnologia, especialmente nos países desenvolvidos, o ritmo de adoção é um ponto de interrogação.

Em outubro, a CATL, uma das principais fabricantes de baterias para veículos elétricos, reportou o trimestre mais fraco desde o início do ano, na esteira de uma demanda mais fraca, resultado principalmente do patamar elevado de juros globalmente. Até a Tesla decidiu adiar os planos para uma fábrica no México.

E a Ford cortou um dos três turnos da fábrica que produz pickups elétricas.

Fato é que o negócio principal da companhia, a fabricação de carros à combustão, ainda vem rendendo bons resultados – que, nos últimos anos, acabaram não se traduzindo no preço das ações na Bolsa.

O programa “acelerado” de recompra, como batizou a própria companhia, pode chamar atenção para a companhia no curto prazo. Mas a dúvida para o longo permanece: como prepará-la para um futuro pautado na energia limpa e ao mesmo tempo conseguir manter bons resultados? É uma equação que Mary Barra ainda não conseguiu resolver.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.