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Mais 'seletiva', CCR quer limitar exposição a aeroportos

Companhia adota postura mais cautelosa em concessões, com foco em rodovias

CCR: companhia reforça mensagem de focar em projetos de rodovias e mobilidade (Divulgação/Divulgação)
CCR: companhia reforça mensagem de focar em projetos de rodovias e mobilidade (Divulgação/Divulgação)
Karina Souza

Karina Souza

28 de setembro de 2023 às 16:06

No pico de seu ciclo de investimentos, a CCR deve ser mais seletiva em novas concessões, com foco em monetizar melhor e distribuir os ativos que já estão no portfólio. A disciplina de capital foi a principal mensagem passada pelo CEO Miguel Setas, ex-EDP, em seu primeiro Investor Day desde que assumiu a empresa de infraestrutura em abril deste ano.

No pipeline, estão mais oportunidades no setor rodoviário e de mobilidade urbana – a divisão responsável por trens e metrôs –, com uma postura bem mais conservadora em aeroportos.

"Não negociamos rentabilidade e temos um pipeline extenso de oportunidades. Vamos escolher o que fizer sentido”, disse Setas. A companhia não participou do lote 1 de rodovias do Paraná, nem vai participar do lote 2, previsto para amanhã. Ainda assim, não descartou a entrada em alguma das outras quatro tranches previstas para virem a mercado.

O pipeline de projetos em avaliação no setor rodoviário soma cerca de R$ 125 bilhões, espalhados em 13 potenciais concessões nas esferas federais, estaduais e municipais, que podem vir a mercado nos próximos três a cinco anos. Diferentemente dos eventos de outros anos, a CCR não disse quais ativos eram prioritários. As rodovias já são o core da CCR. Hoje, dos R$ 33 bilhões em investimento compromissado da companhia, R$ 28 bilhões estão no modal rodoviário.

Enquanto isso, a vertical de mobilidade, segunda maior da companhia, conta com um pipeline potencial de R$ 62 bilhões, com foco para os estados de São Paulo, Distrito Federal, Bahia e Rio de Janeiro. A vertical está fazendo estudos para ampliar a malha em São Paulo e na Bahia, que devem levar de 12 a 18 meses.

Hoje, 70% da receita do setor privado de trilhos do Brasil é da CCR. “Isso nos dá condição de diluir custo fixo e otimizar a operação. Além de custo de gente, o segundo principal é energia elétrica e, mesmo assim, temos uma eficiência muito boa em relação a outros operadores”, disse Marcio Hannas, CEO da CCR Mobilidade.

No modal aeroportuário, que conta com 20 aeroportos sob gestão, o foco está em atrair mais voos não só no Brasil, mas também fora do país, e em aumentar a geração de valor fora dos serviços aeportuários, com ofertas de varejo nesses locais, por exemplo. Com um perfil menos interessante de risco-retorno para o modal, a CCR está limitando sua exposição a ele, ainda que veja oportunidades de consolidação na América Latina. Buscar parcerias com agentes privados ou fazer IPO da divisão são opções na mesa.

"Sei que talvez pudessem estar com estimativa de anúncios mais bombásticos, mas aqui está um direcionamento claro do que queremos fazer. Cumprir obrigações contratuais e fazer o de-risking desses ativos", disse Setas. .

A expectativa do mercado já era de uma postura mais cautelosa desde a entrada de novos sócios, Itaúsa e Votorantim, em dezembro. A CCR quer crescer, mas sem perder a mão no endividamento, que concentra R$ 6,4 bilhões em vencimentos -- um ano mais 'pesado' em pagamentos. A expectativa é refinanciar dois terços dessa fatia “no curto prazo”, apontaram os executivos. Os vencimentos de 2023 já estão inteiramente endereçados.

Do lado operacional, o plano é aumentar a eficiência e extrair mais valor dos ativos, por meio, inclusive, de repactuação de contratos na frente rodoviária.

“Tivemos R$ 330 milhões em captura de sinergias nos últimos quatro anos. Agora estamos com um novo benchmarking, de olho em estar no primeiro quartil de eficiência internacional. Já estamos bem perto disso, com um indicador de Opex/receita líquida de 41% e o foco é chegar, no mínimo, a 38%”, disse Setas.

Hoje, a relação entre dívida líquida e Ebitda da CCR está em 3 vezes, estável em relação ao último ano. Num setor intensivo em capital, a empresa sinaliza como teto confortável para alavancagem o patamar de 3,5 vezes – podendo chegar a mais de quatro vezes apenas em casos de “projetos extremamente atrativos”, segundo o diretor financeiro Walter Perez.

"A flexibilização que conseguimos junto ao conselho foi colocada, na prática, para nos dar espaço de poder ir adiante e buscar crescimento. Isso nos dá conforto. No limite, eu não iria acima de quatro vezes, 4,5 vezes", afirmou.

Com o plano, a companhia tem na mira voltar a distribuir dividendos na casa dos 50% do lucro, patamar histórico praticado pela companhia. Em 2022, em meio ao endividamento elevado e juros altos, essa distribuição caiu para 16%.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.