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IPOs: Grupo Mateus faz maior oferta do ano e startups testam sua vez

Na mesma semana em que Havan desiste de IPO, Grupo Mateus conclui oferta para estrear na B3

Grupo Mateus IPO Enjoei Havan
Grupo Mateus IPO Enjoei Havan
GV

8 de outubro de 2020 às 23:53

O mercado, essa entidade cheia de vontades próprias, deu seu recado: não está fechado, está seletivo. Companhia que julgue interessante e com preço que considere correto consegue fazer oferta pública inicial — aquele tal de IPO. Foi nessa equação que, em uma rara exceção histórica, o potencial econômico do Nordeste venceu o do Sul. Na mesma semana em que a rede catarinense Havan, pretensamente o maior IPO da história da B3, desistiu de sua listagem, o Grupo Mateus, a varejista do Nordeste selou sua estreia. Ambos os fundadores têm origem humilde e inegável sucesso nos negócios

O Grupo Mateus fechou nesta quinta-feira, dia 8, a precificação de sua oferta pública inicial. É a mais nova companhia aberta do mercado de capitais brasileiro. A ação saiu no piso da faixa indicativa de preço, ou seja, a 8,97 reais (o teto era 11,66 reais) — naquele esforço de bancos coordenadores e controladores de deixarem uma gordura para a ação fazer bonito e subir na estreia.

Com isso, a operação totalizou 4,6 bilhões de reais, sendo que 74% dos recursos são para o caixa da empresa e o restante, para a família controladora, de mesmo sobrenome. Agora que a Havan desistiu da sua listagem, pode ser que termine 2020 como o maior IPO do ano. O maior, aliás, desde 2017: pouca coisa menor do que BR Distribuidora e Carrefour Brasil, que movimentaram em torno de 5 bilhões de reais.

O Grupo Mateus trouxe um ativo raro para os investidores brasileiros: diversidade regional. A rede varejista é concentrada na região Nordeste e seu plano de expansão prevê uma consolidação da presença também na região Norte. E no varejo! Quase um luxo para os acostumados às grandes companhias paulistas, cariocas e, no máximo, sulistas. Além do desempenho operacional, essa foi característica representou parte importante de seu sucesso na empreitada.

A companhia vai estrear avaliada em 20 bilhões de reais. Em capitalização, estará abaixo de suas rivais, nomes tradicionais como o Grupo Pão de Açúcar (GPA), controlado pela rede francesa Casino, além do já citado Carrefour (outro francês). Só que chega com múltiplos mais elevados — o que importa, de verdade, no fim do dia: a relação entre preço e lucro estimado para 2021 do negócio fundado por Ilson Mateus é acima de 20 vezes. A rede teve receita líquida de 5,1 bilhões de reais nos seis primeiros meses de 2020 e lucro líquido pouco menor de 300 milhões de reais — uma margem que ninguém por aí do setor consegue. Resta ver daqui para frente. Mas, para ver, só pagando mesmo.

Na linha de que as companhias com diferencial vão conseguir um lugar ao sol, o mercado mostra que, definitivamente, não está dormindo. Talvez, descansando um pouco. Os últimos dias têm novidades. Começará agora o teste das startups.

A semana inaugurou com o IPO considerado mais sexy de 2020 estabelecendo seus parâmetros e desfiando os humores. O site de usados de moda Enjoei estabeleceu a faixa de preços para seus papéis entre 10,25 reais e 13,75 reais. A oferta base, no preço médio, totaliza 1,15 bilhão de reais, dos quais 550 milhões de reais para o caixa.

A super novata Méliuz, empresa de cashback, também vai mesmo encarar a rua. Anunciou ao mercado que o (bem estreito) intervalo indicativo para suas ações está entre 10 reais e 12,50. Com isso, pode levantar cerca de 600 milhões de reais. A dupla representa o primeiro teste das starups.

Além disso, a companhia de educação que quase fechou negócio com a Laureate no lugar da Ser, a Cruzeiro do Sul, guardou seu lugar na fila de IPOs — seja ele em 2020 ou 2021. Inagurou a fila de pretendentes da última janela deste ano.

Passou quase despercebido que o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), listado no Bovespa Mais, informou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que prepara uma oferta pública de ações — primária e secundária — e a migração para o Novo Mercado. A companhia de biotecnologia, que teve receita líquida de cerca de 65 milhões de janeiro a junho deste ano, é uma mistura de tecnologia e agronegócios, especializada no setor de sucroalcooleiro. Afirma ter o maior banco de germoplasma de cana-de-açúcar (um tipo de banco de DNA para uso imediato) do mundo, com mais de 4 mil variedades.

Mercado tem, sim. Mas não para todo mundo e nem a qualquer custo.

 

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