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Enjoei: a startup que nasceu blog e pode valer R$ 2 bi com IPO na B3

Companhia atrai interesse de fundos e alcança equilíbrio na linha de Ebitda

Equipe do Enjoei: 350 mil peças por semana adicionadas à plataforma (Larissa Gomes/Enjoei/Divulgação)
Equipe do Enjoei: 350 mil peças por semana adicionadas à plataforma (Larissa Gomes/Enjoei/Divulgação)
GV

Graziella Valenti

2 de setembro de 2020 às 13:27

Em 2009, Ana Luiza McLaren decidiu vender roupas usadas na internet. Ninguém se lembra, mas nessa época o Orkut ainda era a rede social preferida dos brasileiros e o Facebook, a empresa que hoje vale 850 bilhões de dólares na Nasdaq, só então começava a ganhar visibilidade por aqui. A notícia se espalhou e rapidamente amigos aderiram ao movimento, tanto comprando como vendendo peças no blog — isso mesmo, blog — da Ana Luiza McLaren, o Enjoei. Há cerca de nove anos, esse blog virou negócio, empresa mesmo, e começou a atrair nomes de investidores ilustres como fundo de venture capital Monashees e a casa fundamentalista mais tradicional do Leblon, a Dynamo. Mas a lista de sócios tem outros investidores, que foram aos poucos apostando na novidade. Agora, a companhia vai arriscar um voo maior ao tentar se listar na B3. É um verdadeiro IPO de uma startup.

Conforme o EXAME IN apurou, a conversa no mercado é que a empresa pode valer – pasmem! – 2 bilhões de reais. O tamanho da oferta ainda não foi definido. Mas diversos fundos estão atentos ao movimento. O interesse para entender a operação — ainda não se sabe se interesse de compra mesmo ou curiosidade de negócios, por enquanto —  é grande.  O motivo, porém, ainda é parecido com o mesmo que levou as estrelas da gestão de recursos a apostar na empreitada: futuro. No presente, o negócio ainda está no vermelho,  mesmo com os números de crescimento de impressionar.  O prospecto preliminar ainda não detalha como o dinheiro novo pode ajudar no crescimento e encurtar o caminho até a rentabilidade operacional.

Com receita de 47,4 milhões acumulada de janeiro a julho, a expansão é de 46% na comparação anual. Mas o prejuízo operacional, antes do financeiro, ainda é de 3,6 milhões de reais. Para comemorar, a notícia que pula dos balanços é que o tão adorado (pelo mercado) Ebitda alcançou o break-even e vem aumentando. Em julho, o resultado positivo de 328 mil reais levou o acumulado dos primeiros sete meses a 218 mil reais. O site de comércio eletrônico conquista sua receita com taxas cobradas dos vendedores sobre cada transação e há ainda serviços extras, que vão desde garantias contra fraudes, co-participação no frete e até a carteira digital do enjuBank. O modelo não é tão diverso do Mercado Livre no começo, mas adicionado de modernidades. A plataforma online de comércio de usados — e também marketplace — é hoje a maior companhia em valor de mercado da América Latina, avaliada em quase 60 bilhões de dólares.

A cultura do compartilhamento e do reuso são, das tendências, as mais trends quando se fala de consumo e fatores ambientais, social e de governança (ESG). Existem estimativas de que 70% das roupas deixam de ser usadas após seis meses da aquisição. Não por acaso até a indústria do fast fashion vem caindo em desgraça por estimular um consumo considerado talvez exagerado e é crescente o número de empresas que estão reduzindo o total de coleções por ano. Daí vem o interesse de investidores potenciais.

Quando outra gestora carioca, a JGP, apaixonada por fundamentos — e rentabilidade — decidiu integrar os fatores ESG em toda sua carteira de investimentos atentou para a correlação que deve existir entre os hábitos de consumo e de investimento. Em longo relatório de apresentação de sua mudança, a JGP aponta como os consumidores, cada vez mais, buscam comportamento ético nas suas escolhas.  “Tratar de questões complexas como as socioambientais é um simbolismo que vai mexer com a psicologia do consumidor. Esse lado simbólico da marca guarda as características intangíveis que se relacionarão com a autoestima e a maneira de se expressar do consumidor”, destaca em sua avaliação.

Ninguém duvida que os hábitos de compartilhar e reutilizar serão grandes negócios no futuro. Mas ainda não se sabe exatamente quanto valor pode se extrair dessas atividades e como marcas fortes e protegidas da competição podem ganhar relevância uma vez que os produtos são usados. A oferta do Enjoei é coordenada pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) e o sindicato de bancos da operação tem ainda Bradesco BBI, JP Morgan, UBS e XP Investimentos.

Quando chegar a hora das apresentações em road show, o Enjoei vai destacar sua trajetória e o ritmo de expansão que a digitalização vem promovendo. Atualmente, o site recebe em média 23 milhões de visitas por mês. Ao longo de sua história já conectou 1,5 milhão de compradores com 1,9 milhão de vendedores.  Nas suas vitrines virtuais foram expostos mais de 30 milhões de produtos ao longo do tempo, de 85 mil marcas diferentes. A cada semana são adicionados à plataforma mais de 350 mil itens — um sortimento que nem as grandes redes varejistas de moda alcaçam. No mês de julho, 31% das compras foram feitas por consumidores que já fizeram mais de 30 aquisições via site.

No segundo trimestre, o total de vendas realizadas (GMV) no Enjoei alcançou 112,6 milhões de reais, uma expansão de 33,5% sobre os 84,3 milhões de reais de janeiro a março deste ano. Só no mês de julho, o GMV superou 45 milhões de reais. Apesar da escalada, só o teste na vida prática — na temporada mais agitada de IPO já vista no Brasil — vai dizer se a história de sucesso do blog da Ana e seu negócio de usados vai se sobrepor ao fato de a operação ainda não ser lucrativa (ainda que este seja o caminho).

Para quem decide. Por quem decide.

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