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Indústria da música

Deezer chega à bolsa sete anos após plano original, avaliada em US$ 1,1 bi

Plataforma de música vale praticamente o mesmo que em 2015, quando planejou IPO pela primeira vez

Deezer: IPO vem depois de sete anos da primeira intenção de tornar a companhia pública; futuro, entretanto, ainda permanece incerto (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
Deezer: IPO vem depois de sete anos da primeira intenção de tornar a companhia pública; futuro, entretanto, ainda permanece incerto (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
KS

Karina Souza

5 de julho de 2022 às 09:20

A Deezer, plataforma francesa de streaming de música e concorrente de nomes como Spotify, Apple e Amazon, finalmente conseguiu se listar na bolsa nesta terça-feira e as ações começaram a ser negociadas na Euronext Paris. A estreia é produto da incorporação pelo SPAC I2PO, que tem entre seus fundadores a família Pinault, da Kering, holding de marcas de luxo como Gucci e Balenciaga, o empresário Matthieu Pigasse e Iris Knobloch, ex-diretora da WarnerMedia.

A companhia já havia anunciado a operação no fim de abril, mas aguardava a aprovação pelos acionistas de ambos os lados — o que aconteceu no fim do mês passado. Para a transação, a Deezer foi avaliada em US$ 1,1 bilhão. O objetivo mínimo era levantar US$ 135 milhões, que foram garantidos já na largada, por acionistas da empresa. Agora, a companhia começa a construir sua história como empresa aberta. Um capítulo que se inicia em 2022, mas com um tempero de 2015.

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O valuation implícito é bastante similar ao de sete anos atrás, quando a Deezer ensaiou pela primeira vez um IPO. A diferença é que, na época, planejava levantar aproximadamente US$ 345 milhões na bolsa francesa (2,5 vezes o valor obtido agora). Naquele momento, a companhia chegou até mesmo a falar que havia “grande demanda de investidores”, mas desistiu pouco tempo depois citando “condições de mercado adversas”. Didier Bench, chairman da companhia, declarou em 2015 ao WSJ que a Deezer havia desistido de se tornar pública especialmente por causa do que havia acontecido com a Pandora Media — cujas ações perderam 36% do valor, na época, após a perda assinantes em razão do aumento da concorrência. De lá para cá, a competição não arrefeceu. Só aumentou.

Prova disso já pode ser vista na largada da companhia como empresa aberta. No primeiro dia de negociação da I2PO com a Deezer incorporada, o tombo dos papéis há pouco estava em quase 25%. Ontem, enquanto era apenas um SPAC, o veículo encerrou o dia com a ação cotada em 8,50 euros, mesmo preço de abertura desta manhã. Minutos atrás, o preço de tela marcava 6,50 euros.

O dinheiro novo, segundo a companhia, será usado para financiar o crescimento futuro, que vai priorizar música — ao contrário do que Spotify e Amazon têm feito, com podcasts e audiobooks como estratégia central, respectivamente — e parcerias B2B. A meta é chegar ao primeiro bilhão de faturamento em 2025 e se tornar rentável no mesmo ano. Ou seja, dobrar a receita atual e tirar, finalmente, a empresa do vermelho. São metas ousadas diante do que a Deezer apresentou nos últimos três anos. 

O prospecto mostrava que a Deezer gerou 400 milhões de euros em receita em 2021, crescimento de 5,5% em relação ao ano anterior, e tem como seus principais mercados a França (responsável por mais da metade do faturamento) e o Brasil, que gerou 28,1 milhões de euros. Importante notar que o crescimento de receita não é linear (houve queda de 2019 para 2020) e, mesmo com a pequena expansão em 2021, a companhia fechou o ano no vermelho, com prejuízo  de 120,3 milhões de euros, ainda maior do que os 95,3 milhões de euros negativos registrados no fim de 2020. 

Até o fim de 2021, a Deezer tinha 9,6 milhões de assinantes, de acordo com comunicado enviado aos investidores em abril deste ano. O total foi suficiente para que a companhia fosse chamada de “a plataforma de música independente número dois no mundo” no mesmo comunicado, apesar da grande distância para o primeiro lugar, o Spotify. O 'forte' da companhia está na França, local em que tem 30% do share de downloads de apps desse tipo e, em segundo lugar, está o Brasil, em que responde por uma participação de mercado de 17%. Ainda assim, a companhia tem apenas 2% do mercado mundial — muito atrás do líder global, Spotify, que tem 31%. 

O prospecto apresenta alguns dados para tentar animar o investidor em meio a esse cenário. Uma das informações no documento é a de que os streamings têm crescido de forma recorde na indústria da música, com CAGR de 28% entre 2016 e 2020. E com expectativa de que continue expandindo a uma taxa de 10% entre 2020 e 2027.

É o argumento defendido pelo rival Spotify, em seu Investor Day realizado no início de junho. O potencial de longo prazo do setor, combinado com o ganho de margem estimado ao longo do tempo, em linhas gerais, fizeram com que o Goldman Sachs projetasse um aumento de 18,8% no preço das ações do líder global, estabelecendo um preço-alvo de US$ 133, mesmo com a recomendação se mantendo neutra. O banco também estima um crescimento anual composto de 12% entre 2021 e 2030 do mercado de apps de streaming de música e reforça que, segundo as análises, o segmento pode ser mais resiliente em meio à turbulência econômica. Um outro dado do relatório é o de que o tempo ouvindo música aumentou desde 2018, passando de 17,8 horas por semana para 18,4.

“Nós estimamos que a participação do streaming de música em usuários nos mercados desenvolvidos passe a representar 53% em 2030, ante 34% em 2021, e em mercados emergentes represente 14%, ante 6% hoje”, afirmam os analistas. O crescimento, caso confirmado, pode beneficiar a Deezer, que tem o Brasil como um de seus principais públicos-alvo.

Ao se tornar pública, a Deezer quer mostrar que o segmento de streaming pode se tornar rentável, para além do mau humor do mercado com as empresas de tecnologia. Por enquanto, de novo, o cenário não é dos mais reconfortantes. O Spotify, principal rival, estreou na bolsa norte-americana valendo US$ 26,5 bilhões e, hoje, vale US$ 18,7 bilhões. Estendendo um pouco o olhar, as demissões na Netflix e os resultados mais fracos apresentados pela companhia no pós-pandemia também tiveram seu impacto. Em abril, a companhia perdeu US$ 54 bilhões em valor de mercado e passou a ser avaliada em US$ 100 bilhões. Hoje, vale US$ 79,9 bilhões. 

Ao mesmo tempo, também não se trata de um mercado completamente desaquecido. No ano passado, o rapper Jay-Z vendeu a plataforma Tidal ao CEO do Twitter, em um negócio de 297 milhões de dólares. O marido da cantora Beyoncé havia comprado a ferramenta em 2015, por cerca de 56 milhões de dólares. 

B2B em foco?

Hoje, dos 9,6 milhões de assinantes da Deezer, 5,6 milhões vêm de forma direta (ou B2C) e outros 3,9 milhões vêm de forma indireta (usuários que têm acesso ao Deezer ao contratar um serviço de telecomunicações, por exemplo). A ideia da companhia, para chegar ao bilhão, é levar esses montantes a uma razão de 50/50. Para isso, estão previstas novas verticais de negócios com foco em música – não especificadas no prospecto – e novos acordos B2B. Hoje, no Brasil, não custa lembrar, o streaming opera em parceria com a TIM. Fora do país, a companhia tem acordos com a Orange (francesa), e recentemente estabeleceu acordos com a RTL Interactive, companhia de mídia líder na Alemanha.

Para colaborar com esse crescimento, a I2PO destaca no prospecto que pode colaborar com os contatos que mantém com empresas nos países-alvo da Deezer, ajudando a companhia a ganhar território por lá. Cumprir essa missão pode se tornar mais fácil com Iris Knobloch, ex-diretora da Warner Media, dentro do conselho da companhia combinada. 

Ainda não se sabe, é claro, quais os efeitos que o aumento dessas parcerias podem trazer. O que a Deezer quer passar, por enquanto, é que a listagem na bolsa de Paris pode ser o primeiro passo para a companhia encontrar a rota do crescimento e, enfim, conseguir aproveitar o potencial que o mercado de streaming de música apresenta. A dúvida de como a companhia vai chegar até lá, ao menos por enquanto, permanece. 

 

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