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Cogna Educação (ex-Kroton)

Cogna cresce, mas despesa financeira gera prejuízo no segundo trimestre

Serviço da dívida cresceu 58% no trimestre, para R$ 259 milhões, e ofuscou ganhos de Ebitda e margem Ebitda

Valério: crescimento operacional deve continuar ao longo do segundo semestre (Cogna/Divulgação)
Valério: crescimento operacional deve continuar ao longo do segundo semestre (Cogna/Divulgação)
KS

Karina Souza

11 de agosto de 2022 às 18:51

A Cogna teve prejuízo de R$ 101 milhões no trimestre, mais do que dobrando o do mesmo período do ano passado. O resultado está atrelado principalmente ao aumento da dívida da companhia, impulsionada pelos juros. O resultado financeiro aumentou 58,1% na comparação anual, para uma despesa de R$ 259 milhões. Com o plano de reduzi-la ao longo do ano, a companhia implementou um plano de liability management, ou seja, vai fazer reperfilamento da dívida daqui para frente. 

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No detalhe, isso será feito de duas formas: recompra de R$ 347 milhões em dívidas negociadas abaixo do preço de mercado (impacto positivo de R$ 15 milhões) e emissão, em agosto, de R$ 500 milhões em CRI de três séries, com custo de carrego abaixo da última dívida captada pela companhia – e um prazo médio de 88 meses, ante 22 meses na média da dívida atual. 

A alavancagem da companhia está em 2,09 vezes, em linha com a registrada no primeiro trimestre deste ano. “Esperamos continuar reduzindo ao longo dos próximos trimestres, na medida em que vamos amortizando a dívida. Pode ter movimentações trimestrais ao longo do ano, mas a tendência é de queda”, diz Roberto Valério, CEO da Cogna, ao EXAME IN.

A operação em si

O Ebitda subiu 23,7% na comparação anual, para R$ 350 milhões, e a margem Ebitda registrou avanço de 5,8 pontos percentuais, para 30,3%. O aumento de rentabilidade é resultado principalmente da estratégia da companhia de focar em produtos digitais e híbridos para novas matrículas. Na Kroton, da base de 1 milhão de alunos de graduação, 372 mil estão na alta presencialidade e 656 mil no modelo ‘híbrido’. 

“Sempre que aumento o volume de alunos, ganho resultado, porque não preciso aumentar na mesma proporção a quantidade de investimentos, uma vez que a estrutura já está montada. É um resultado impactado principalmente pelo desempenho de Kroton, que passou por uma reestruturação em 2020, e da Vasta, que passou pelo mesmo período no último ano”, afirma Valério

Olhando para a Kroton, principal contribuição da receita consolidada, a receita líquida da divisão foi de R$ 927 milhões, queda de 3,4% na comparação anual. O Ebitda da divisão, entretanto, subiu 5,1%, para R$ 327 milhões, com evolução de 2,9 pontos percentuais, na margem Ebitda para 35,3%. “A perda de faturamento está diminuindo ao longo do tempo, de acordo com o nosso plano. A previsão inicial era a de que essa linha começasse a crescer somente em 2023, mas, dado o ritmo atual, já deve acontecer no terceiro trimestre”, diz Valério.

A empresa de maior crescimento dentro do portfólio permanece sendo a Vasta. A divisão de ensino digital fechou o segundo trimestre com crescimento de 34,5% na receita líquida na comparação anual, para R$ 189,8 milhões.  O Ebitda recorrente passou de R$ 23,9 milhões negativo para R$ 2,9 milhões positivo. A margem Ebitda cresceu 19,2 pontos percentuais, refletindo principalmente ganhos de escala e medidas adotadas no último ano para redução de custos e despesas. 

De olho em ESG, a empresa fez pela primeira vez o inventário de gases de efeito estufa neste ano. Em relação ao "E" da sigla, foi feita dentro dela, de forma inédita, um programa chamado "Somos Afro", dedicado à inclusão de profissionais pretos.

Em relação à Saber, a empresa trouxe o maior impacto na receita consolidada no trimestre. Houve queda de 19% na receita líquida, para R$ 43,1 milhões, refletindo principalmente um impacto sazonal de compra de livros didáticos por parte do MEC. Basicamente: o órgão compra livros para um dos grupos de alunos (ensino infantil, fundamental e médio) a cada ano. E não o faz de forma sequencial – se há vendas de ensino infantil em um ano, vai demorar quatro anos para que esse grupo volte a ser atendido. Além disso, as compras não acontecem sempre em um mesmo período, o que afeta o reconhecimento de receita na comparação anual. 

“Segundo o Edital, 2022 é o ano de seleção de livros do Ensino Fundamental I, que apesar de ser o maior programa em termos de receita e com alto índices de recompra nos 3 anos subsequentes, tem um descasamento entre receita e despesas. As despesas são antecipadas em relação a receita e têm maior concentração no ano de compra (quando é determinado as escolas que usarão o nosso material), principalmente com custos editoriais e despesas de marketing, enquanto a receita é faturada ao longo dos quatro anos do ciclo (sendo o primeiro ano de compra e os demais de recompra, conforme demanda das escolas”, afirma a companhia, no relatório. 

Um último destaque positivo, que deve contribuir cada vez mais para o resultado final, é KrotonMed, que foi separada via spin-off de Kroton no início deste ano. A receita líquida da divisão cresceu 32,3% em relação ao primeiro trimestre deste ano, com Ebitda recorrente 40,3% maior do do primeiro trimestre do ano, de R$ 70,4 milhões. Mais do que isso, a companhia está acima do guidance anunciado no momento de se tornar uma nova divisão. 

“Superamos em 55% o guidance de receita e em 53% o de Ebitda. E, como vamos ter mais alunos no segundo semestre do que no primeiro, até por questões sazonais, estamos confiantes que a decisão de focar em medicina deu certo e ao longo dos próximos anos vai ganhar mais importância do que outras verticais e gerar menor dependência do PNLD, por exemplo”, diz Valério. 

Considerando todos esses fatores, a receita consolidada no segundo trimestre se manteve estável na comparação anual, para R$ 1,15 bilhão. Uma conquista importante, para a empresa consolidada, no período, foi receber o selo Great Place to Work pela primeira vez. “Estamos super felizes com isso porque precisamos ser um empregador admirado”, diz o CEO. Como reflexo dos investimentos em ESG em todas as empresas ao longo do tempo, a Cogna foi incluída na carteira de investimentos ESG do BB, outro ponto de orgulho para o CEO. 

Investimentos e futuro

No trimestre, a companhia investiu R$ 108,6 milhões, aumento de 26,3% na comparação anual. A maior parte foi destinada ao desenvolvimento de Conteúdos e Sistemas e Licenças de Software (R$ 50,8 milhões), aumento de 30,6% na comparação anual. A principal queda nos investimentos, no período, foi em Móveis, Equipamentos e utensílios, que movimentou R$ 1,9 milhão no trimestre passado e, neste, não teve gastos. O movimento reflete a estratégia de digitalização da companhia. 

Ainda em linha com a estratégia de digitalização, a empresa fez sete investimentos em startups no último semestre. Não há um fundo dedicado ao assunto. “Até discutimos se deveríamos ou não constituir um, mas formalmente ainda não temos nada”, diz Valério. A companhia investe principalmente em empreendedores, com ideias ainda no papel e que precisam de um suporte – financeiro ou de mentoria – para transformá-las em produtos. A companhia faz principalmente aquisições da maior parte do capital social das empresas. 

As teses estão direcionadas principalmente à educação, mas engloblam diferentes pontos dentro dessa cadeia. Para citar dois extremos: há o investimento em uma startup de cursos técnicos, uma frente ainda pequena da receita da companhia, e em NFT aplicado à educação.

De olho nos resultados ao longo do ano e a pressão da inflação, o executivo afirma que a estratégia de digitalização colabora para diminuir o aumento de custos com o retorno dos alunos aos campi. “Inflação não é algo novo no Brasil, mas temos foco em uma captação cada vez mais digital, o que traz impactos menos relevantes do que em outras empresas. Gostaria que estivesse mais baixa? Sem dúvida, mas não coloca em risco nossa rentabilidade ao longo dos próximos trimestres”, diz o executivo. 

 

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