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BRF: oferta de ações chega com 3 anos de atraso, mas perfeita para Marfrig

Companhia pretende levantar R$ 6,5 bilhões com oferta pública de ações e operação pode ser oportunidade para Marcos Molina aumentar participação no negócio

BRF: 'timing' da operação surpreende, mas companhia precisa reduzir alavancagem (Rodolfo Buhrer/Reuters)
BRF: 'timing' da operação surpreende, mas companhia precisa reduzir alavancagem (Rodolfo Buhrer/Reuters)
GV

Graziella Valenti

17 de dezembro de 2021 às 12:42

A BRF, avaliada em R$ 17 bilhões na B3 e dona das marcas Sadia e Perdigão, anunciou um aumento de capital que, ao preço de tela de ontem, dia 16, equivale a mais de R$ 6,5 bilhões. Há duas curiosidades nessa operação que não passam despercebidas por quem acompanha a empresa há anos e que justificam a suspeita do mercado de que Marcos Molina, dono da Marfrig, possa estar preparando mais uma grande tacada para levar a empresa. Não por acaso, apesar da grande diluição que traz embutida, a transação está fazendo as ações dispararem na bolsa: a alta é superior a 5%.

A aposta é de que a BRF voltará a ter dono — e isso soa um alento. Se conseguisse subscrever sozinho o aumento de capital da companhia (o que é bem mais difícil do que parece), Molina, por meio da Marfrig, se tornaria acionista majoritário da BRF, com 52% do capital total — e, mais do que isso, com permissão do estatuto social para fazer isso. Mas é fato que há muito espaço para que ele amplie sua fatia atual, um pouco maior que 32%.

O regulamento da BRF bloqueia compras de mercado que leve um acionista a ter mais de 33,3% da empresa. Nesse cenário, o comprador teria que lançar uma oferta pública a 100% do mercado, com prêmio pelas ações. Só que essa ‘barreira’ não existe quando se trata de aumento de capital. Sim, leitor, pela segunda ou talvez terceira vez, Molina está dando um nó na Faria Lima. A primeira vez foi quando deixou de ser majoritário na Marfrig e após uma série de operações, algumas bastante alavancadas na pessoa física do empresário e alvo de críticas, conseguiu voltar a ser dono absoluto da empresa. A segunda foi a própria surpreendente e rápida compra da participação na BRF que já o tornou o acionista mais importante da companhia, com folga.

A ata da reunião do conselho de administração da BRF afirma que a capitalização ocorrerá por meio de uma oferta pública. Nesse tipo de operação é bastante mais difícil prevalecer em uma capitalização — ou seja, comprar muito além da fatia proporcional á já detida na empresa. Embora o processo de formação de preço ainda seja bastante subjetivo, ele existe para refletir o desejo médio do mercado.

Enfim, as curiosidades

O primeiro ponto curioso do “timing” da capitalização é que a gestão de Pedro Parente, que chegou na empresa em junho de 2018, poderia ter feito esse movimento logo ao assumir o negócio. Ou seja, poupado milhões com o pagamento de juros de dívida. Não seria uma medida popular, pela diluição implícita, e não era o desejo dos acionistas que se organizaram para dar um encerramento — ou no mínimo uma reviravolta — à era Abilio Diniz-Tarpon na companhia.

Mas matematicamente, pelo preço, daria praticamente na mesma. O valor da companhia não andou (entre um ponto e outro), como se apostava que aconteceria. A ação que estava pouco abaixo de R$ 20 quando Parente assumiu a BRF — na mínima histórica — está pouco acima disso. É a clássica expressão: o papel ficou de lado.

Nesse meio de caminho, porém, a cotação chegou aos R$ 38, no segundo semestre de 2019.  Trocando em miúdos: para a mesma quantidade de ações, a emissão de ações atual traria cerca de 70% de dinheiro a mais. Ou, o mesmo dinheiro seria possível de ser obtido com uma emissão de novos papéis e uma diluição muito menor.

O contrato de Parente na BRF termina em abril de 2022. A narrativa, com o aumento de capital, ficará muito melhor para o saldo da administração: alcançadas melhorias comerciais e de gestão de custo de produção, faltava à BRF resolver a frente financeira. Com mais de R$ 6 bilhões em dinheiro novo, a fotografia melhora bastante. A empresa terminou setembro com aproximadamente R$ 24 bilhões em compromissos financeiros, para R$ 6,8 bilhões em caixa.

A necessidade da BRF para além desses três itens é o que Molina tem a oferecer: um dono. A companhia patinou desde a fusão, entre melhores e piores momentos, muito porque não foi possível consolidar uma nova cultura entre Sadia e Perdigão que continuaram rivais internamente. Enterrar esse problema de vez é questão que só um dono novo pode fazer — o que não significa qualquer dono. Mas os investidores gostam que seja Molina.

O segundo ponto curioso da capitalização nesse fim de 2021 é justamente porque a operação – que poderia ter ocorrido antes e até mesmo em momento melhor – chega quando é absolutamente conveniente para Molina. No mínimo, o preço médio da BRF para ele é favorável, com as açõres perto da mínima histórica.  E o vento na Marfrig também não poderia ser melhor, com o preço da carne e as margens levando a empresa para uma relação entre dívida líquida e Ebitda em torno de 1,5 vezes.

Se o próximo passo será ou não uma união completa das duas companhias são as cenas dos próximos capítulos. E a essa altura ninguém mais duvida da capacidade de Molina de surpreender. Primeiro, é preciso ver o saldo dessa capitalização da BRF.

 

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