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Bredda, 100% comprado: Brasil está barato e risco de bolha é só nos EUA

Para gestor do Alaska Black, economia brasileira tinha e ainda tem muito a recuperar, enquanto a americana está perto do fim do ciclo positivo

GV

17 de junho de 2020 às 19:21

Enquanto aumentam as discussões sobre se os preços de mercado estão ou não descolados da realidade da economia nacional, Henrique Bredda, o gestor celebridade do Alaska Black, acredita que a bolsa, especificamente no Brasil, está barata. “Precisa separar o mercado brasileiro do americano.”

Depois de alguns pregões de correção, o Índice Bovespa já está perto das máximas alcançadas na vida pós-covid. Nesta quarta-feira, o indicador fechou em 95.547 pontos, após subir 2,16% – o teto foi 97.645, no dia 9. Em relação ao piso registrado em 23 de março, de 63.570 pontos, a bolsa já recuperou mais de 50%.

O fechamento de hoje, contudo, está quase 25% distante da máxima histórica, que são os 119.528 mil pontos de 23 de janeiro.

“Se a gente for para o pior cenário, e considerar que 2020 inteiro é um ano perdido para as empresas mais afetadas pela crise do coronavírus, a pergunta é quanto isso tira do valor das companhias”, questionou ele, em entrevista ao EXAME IN, para em seguida responder. Nos cálculos de Bredda, a anulação deste ano equivale a cortar 10% do valor das empresas, e das mais afetadas, ligadas ao varejo.

“O Brasil é um país muito machucado e que estava lambendo suas feridas. Ainda tem muito para recuperar”, esse é o principal mote do gestor. Embora seja certo que a “bomba atômica” da pandemia afetará fortemente essa recuperação da economia, o entendimento é que trajetória segue de melhoria no país — considerando que as discussões de reformas econômicas terão continuidade. Além disso, na bolsa brasileira estão apenas as grandes companhias e, portanto, as que têm melhor condição de se recuperar da crise. Muitos, não apenas Bredda, apostam que várias das empresas abertas sairão desse cenário ainda mais fortalecidas.

O gestor contou que 60% do Alaska Black está vendido em dólar e o restante, 100% comprado em bolsa, mantendo a coerência de visão positiva para o país. Nada de juros. O fundo teve uma das maiores perdas do mercado durante o auge do estresse e ainda acumula perda da ordem de 50% no ano. As demais carteiras da casa, que não são multimercados, estão todas 100% compradas em ações.

Na avaliação de Bredda, tampouco estava cara a bolsa em 120 mil pontos. Segundo ele, aquela pontuação equivalia a uma relação entre preço e lucro das companhias de 12 vezes a 15 vezes. “Totalmente dentro dos padrões.” A grande questão é que esse era o patamar de preço, mas com um potencial de recuperação da economia grande, ou seja, que deveria reduzir os múltiplos e ampliar a expectativa de retorno.

Bredda faz questão de separar a situação do Brasil do cenário econômico dos Estados Unidos, onde acredita que o ciclo positivo estava alcançando seu potencial máximo mesmo antes do coronavírus.  Ou seja, se a bolsa lá já estava cara antes, agora deve ficar mais. “Lá, sim, tem potencial de bolha nos preços, por causa da liquidez. Aqui, não vejo esse risco.”

Considerando variação de 12 meses, o Nasdaq sobe 10,5% e o Dow Jones recua 8,5%. O Índice Bovespa acumula queda de 17,5% no período. A avaliação do especialista-celebridade é que, mesmo antes da Covid-19, o consumo das famílias americanas não tinha mais para onde crescer e, portanto, não havia como sustentar aumento do lucro das empresas. “Muito diferente, mas muito diferente da situação do Brasil.”

Além disso, ele destacou que o fluxo de migração de recursos internos para a bolsa no Brasil deve continuar. Bredda não acredita que os juros no país voltarão para a casa de dois dígitos nem em um novo ciclo de alta nas taxas. Portanto, não vê os investidores voltarem a aplicar em ativos ligados ao CDI com a mesma concentração do passado. No Twitter, onde Bredda tem uma legião de quase 160 mil seguidores, hoje cedo ele já indicava sua crença da nova realidade para a Selic: entre 2% e 7%, mesmo depois que acabar o esforço "estimulativo" do governo sobre a atividade econômica.

“Vai ter ‘manteu’ hoje, Bredda?”, questionou o EXAME IN a respeito da já lendária brincadeira do gestor com a língua portuguesa em dias de Copom. “Vai ter ‘não manteu’”, respondeu rindo, pouco antes da divulgação do resultado. O Banco Central cortou a taxa básica de 3,00% para 2,25%.

Toda reunião, o gestor do Alaska Black brinca e toda vez é corrigido e chamado de analfabeto nas redes sociais. “É uma brincadeira, por causa de um estagiário, há muitos anos, que saiu gritando uma vez “manteu, manteu”, sobre a reunião do Copom.” Dito e feito, 18h07, ele tuitava "Copom não manteu" e, cinco minutos depois, já o corrigiam "de lote". Ele se diverte e mantém a tradição.

 

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