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Fusões e Aquisições

Após pandemia, novo CEO recebe Hering com tamanho que tinha em 2010

Thiago Hering assume no lugar do pai e sucessão é vista como ensejo perfeito para debate sobre combinação de negócios

Fábrica Hering: com 140 anos, companhia fez migração para o varejo agora precisa seguir para o digital (Germano Lüders/Exame)
Fábrica Hering: com 140 anos, companhia fez migração para o varejo agora precisa seguir para o digital (Germano Lüders/Exame)
GV

Graziella Valenti

22 de abril de 2021 às 11:03

No fim deste mês, independentemente do recente turbilhão, a Hering vai seguir com o planejamento sucessório. Thiago Hering assume a posição de presidente da companhia, no lugar de seu pai Fábio Hering, dia 29. A passagem de bastão é vista, inclusive internamente, como o ensejo perfeito para que uma associação possa ser discutida, com a Arezzo ou com outros potenciais interessados no negócio.

A troca de comando ocorre simultaneamente à assembleia de acionistas, que também aprovará alterações no conselho de administração. Desde 1977 no conselho da empresa, Ivo Hering vai deixar o colegiado e a presidência do coletivo será de Fabio.

Por enquanto, conforme o EXAME IN apurou, as conversas entre Arezzo e Hering estão congeladas. Entretanto, nenhum dos lados acredita em fim do diálogo. Nesse momento, uma parte aguarda o aceno da outra para uma possível negociação. Ambos estão empenhados em fazer tudo da forma mais amigável possível, ainda que a estrutura de sócios da varejista têxtil, sem um controlador, seja suscetível até mesmo a uma oferta hostil.

A administração da Hering também quer dar sinais de que não há um encastelamento dos executivos, situação em que a gestão de uma companhia sem controlador evita transações como forma de se perpetuar no comando. E que a negativa à Arezzo teve relação, neste momento, tão somente com o preço oferecido. A proposta contemplava 21,15% de participação na empresa combinada para os acionistas da varejista têxtil e mais R$ 1,29 bilhão em dinheiro.

Uma transação negociada é considerada essencial para que possa ser feito, no caso de uma potencial combinação, um planejamento sobre o futuro da marca, com sua sobrevivência e relevância garantidas. A Hering tem nada menos do que 140 anos e o herdeiro que conduzir qualquer movimento carrega uma enorme responsabilidade nas costas, marcada por gerações. Dentro desse contexto, é aguardada uma atribuição de papéis aos nomes mais importantes do negócio hoje. A Arezzo, quando fez sua proposta, destacava abertura para essa conversa.

Thiago, portanto, tem pela frente um tremendo desafio. Seja negociar uma combinação, seja reencontrar a rota para o crescimento. Quem conhece a operação de perto diz que a quantidade de coisas a fazer é grande, e inclui a necessidade de repaginar as lojas, trazer mais jovialidade à marca para garantir sua força com as próximas gerações e até rever a estrutura de contrato com as franquias. Tudo isso, é claro, sem contar o processo de aceleração do e-commerce e da omnicanalidade, projetos que já estavam sendo tocados pelo herdeiro de Fabio.

Abaixo da inflação

Agora que está na vitrine, a Hering e sua história recente estão sendo viradas do avesso pelo olhar atento dos investidores que apostam em uma aquisição ou combinação de negócios. O que o mercado vê hoje é que a receita líquida da companhia em 2020, fortemente afetada pela pandemia, foi de R$ 1 bilhão, após um recuo de 31%. É exatamente o mesmo faturamento de 2010, ano em que a empresa se tornou uma operação bilionária pela primeira vez. O tamanho do impacto da crise da covid-19 na empresa dá a exata medida do desefio de Thiago.

Mais de dois terços do capital em circulação da companhia mudou de mãos desde que o mercado tomou conhecimento da existência de uma oferta pela empresa de calçados conduzida por Alexandre Birmann. Essa participação exclui os pouco menos de 25% que possuem os herdeiros, direta e indiretamente, e também as fatias do capital nas mãos das gestoras Atmos, quase 15%, embora os documentos oficiais apontem pouco mais de 10%, mais Velt e Verde.

Com tudo que o Brasil andou para frente e para trás na última década, estar no mesmo lugar, sem nenhuma dívida – até com caixa sobrando, precisamente R$ 265 milhões – pode não ser nada mal. Mas e a inflação? O IPCA acumulado do fim de 2010 ao fim de 2020 é de 75%, diz a calculadora oficial do governo para o indicador. Em 2019, sem pandemia, a receita líquida da Hering foi de R$ 1,55 bilhão. Cresceu abaixo da inflação, portanto.

É daí que vem o amargo do mercado com a gestão da Hering. Há um grande respeito pelo que a família fez, especialmente pelas mãos do atual presidente, Fabio: a transformação da indústria para o varejo. Mas há um incômodo com a acomodação da operação.

Não faltou à companhia sócios querendo contribuir com um plano de crescimento. Passaram por lá Tarpon, que chegou a ter 26% do capital, pouco tempo depois de a própria gestora ter levado a Arezzo à bolsa, em 2011. Também estiveram, simultaneamente, Gávea e Cambuhy Investimentos (hoje dona da Alpargatas junto com Itaúsa), e ainda a Dynamo.

A própria Atmos, maior investidora individualmente, há tempos está no negócio, como uma aposta na força da marca e da operação. Mas, na época que fez o investimento, o valor da companhia era bem diferente do atual. Na bolsa, com todo o destaque recente, a empresa vale hoje R$ 3,6 bilhões — quase R$ 1 bilhão a mais do que na véspera do mercado tomar conhecimento da oferta da Arezzo.

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