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Ações: empresas captam R$ 7,7 bi em plena pandemia e reativam fila de IPO

Sucesso de ofertas de companhias já abertas em junho, com 7,35 bilhões captados, ajuda a puxar fila de novatas

Mercado se recupera a cada dia e empresas conseguem captar no topo da faixa com ofertas de ações (NurPhoto/Getty Images)
Mercado se recupera a cada dia e empresas conseguem captar no topo da faixa com ofertas de ações (NurPhoto/Getty Images)
GV

Graziella Valenti

18 de junho de 2020 às 13:00

Centauro, Via Varejo e Natura, três empresas que procuraram dinheiro no mercado com emissões de ações, encontraram. E conseguiram obter o topo, ou muito próximo disso, do que pretendiam. Juntas, as três movimentaram 7,35 bilhões de reais só neste mês. O sucesso na colocação das operações de empresas já abertas, as chamadas ofertas subsequentes, está fazendo a fila das companhias que pretendem abrir o capital se reativar.

Desde que a covid-19 se espalhou pelo país, houve apenas uma oferta inicial (IPO), da empresa de estacionamentos Estapar, controlada por André Esteves, fundador e maior acionista do BTG Pactual (que pertence ao mesmo grupo de controle da EXAME). Com ela, o total movimentado inclui 345 milhões de reais e sobe para 7,7 bilhões de reais — tudo dentro do ambiente de pandemia. Ou seja, as reuniões e os encontros para “venda” dos papéis foram majoritariamente virtuais.

O ânimo e o reaquecimento não são exclusividade do Brasil. Hoje, a abertura da bolsa de Hong Kong contou com uma estreante. A companhia de comércio eletrônico da China JD.com levantou 3,9 bilhões de dólares com seu IPO. A operação é emblemática pela região, uma vez que Pequim atraiu a atenção nos últimos dias, com um novo surto de coronavírus. No começo do mês, também nos Estados Unidos houve uma oferta inicial importante, a maior de 2020 naquele país, da Warner Music.

Por aqui, no aumento de capital privado de 2 bilhões de reais concluído na semana passada, a Natura conseguiu 1,964 bilhão de reais. Somente ontem à noite, a companhia informou o total da operação até agora. Ficaram para ser vendidos no período de sobras menos de 2% das novas ações, ou o equivalente a 36 milhões de reais. A operação saiu com garantia dos controladores mais quatro fundos de mercado para 1 bilhão de reais. A diferença foi obtida com minoritários, que compraram os novos papéis a 32 reais — atraídos pelo lucro imediato com a ação acima de 40 reais na bolsa. Além dos fundadores, o fundo soberano de Cingapura, GIC, e a gestora Dynamo foram os maiores investidores.

No caso de Centauro e Via Varejo, que fizeram ofertas públicas, chamaram a atenção a demanda elevada pelos papéis e os preços obtidos — acima das cotações nas datas de anúncio das colocações, algo nada trivial para períodos de crise.

Antes da pandemia, basicamente nos meses de janeiro e fevereiro, as ofertas de ações já tinham movimentado 5,25 bilhões de reais, entre captações por companhias já listadas, e 3 bilhões de reais em IPOs. O saldo no ano, portanto, agora chega a 16 bilhões de reais.

Embora as companhias estejam encontrando comprador, o movimento está longe da panaceia prometida para 2020. Nos bancos de investimento, ainda prevalecem os conselhos de que apenas “boas histórias” e "bons argumentos" para acesso ao mercado terão sucesso. Por isso, por enquanto, as novatas estão guardando lugar na fila, mas ainda sem estreias. Mais do que os preços absolutos ainda abaixo das máximas, atrapalha bastante a volatilidade da bolsa. Quando ela aumenta, dificulta as transações, ainda que as cotações estejam em patamares bem melhores do que há dois meses.

Da lista de cerca de 20 (IPOs) que hibernava na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) devido à pandemia, quatro já reativaram seus pedidos e garantiram sua posição no grid de largada: a companhia de tratamento de resíduos Ambipar, o grupo de moda e varejo têxtil Soma (dono das marcas Farm, Animale, Fábula e Cris Barros, entre outras) e, mais recentemente, a construtora e incorporadora You Inc. Além dessas, a Aura Minerals, de exploração de ouro e cobre, também já está atualizando os documentos na CVM. Negociada na bolsa de Toronto, a empresa fará a oferta de estreia aqui com recibos brasileiros de ações (BDRs). Só essas companhias, juntas, devem “solicitar” aos investidores algo entre 4 bilhões e 5 bilhões de reais.

Quando as construtoras voltarem a captar, ainda mais em IPO, será um bom termômetro para a temperatura dos mercados. Depois da primeira onda de ofertas iniciais da bolsa, entre 2004 e 2008, os investidores tinham constatado que não fazia sentido comprar papéis de empresas desse segmento. Muitas desapareceram da B3, em uma forte onda de consolidação. Trata-se de um segmento que, em geral, quando faz sentido para empresa captar, faz pouco para o investidor comprar.

Parte da valorização das ações da B3, já desde 2019, é atribuída à escassez de ativos para investimento no Brasil. O total de companhias abertas realmente negociadas no mercado conta com 330 participantes. Da capitalização total da bolsa, de 3,9 trilhões de reais, 3,3 trilhões de reais — ou 85% do total — estão dentro do Índice Bovespa. Esse cenário tende a favorecer as novatas.

 

 

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