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À la Berkshire, CPP prefere estudar o momento a ir às compras

Mesmo com meta de dobrar investimento na América Latina até 2025, fundo acredita que momento pede cuidado e oportunidades não são óbvias

GV

19 de junho de 2020 às 15:09

A Berkshire Hathaway não está sozinha. Mesmo com um bolso fundo e condições para comprar e comprar, com nada menos do que 137 bilhões de dólares em caixa, a holding de Warren Buffett está apenas observando o momento. Nenhuma nova grande aposta desde o estouro da crise do coronavírus, ainda que as pressões aumentem a cada dia.

O Canada Pension Plan (CPP) Investments, que também tem como proposta a geração de valor no longuíssimo prazo, está na mesma toada: bolsos cheios, mas em estado em espera ou de análise.

O diretor e gestor para a América Latina, Rodolfo Spielmann, contou em entrevista ao EXAME In que o momento é de extrema incerteza e que é menos óbvio do que parece pensar em oportunidades. “Estamos preferindo entender e nos dedicar a ver o que nossas investidas precisam. Não faz nenhum sentido eu correr para pensar em novos aportes ou entender outros setores antes de preservar o portfólio que já tenho.”

O CPP Investments tem nada menos do que 420 bilhões de dólares canadenses (ou cerca de 310 bilhões de dólares americanos) sob gestão. Desse total, 85% estão fora do Canadá. No Brasil, só na chamada economia real tem mais de 8,5 bilhões de reais investidos — com destaque para o setor elétrico com participação na Votorantim Energia e, junto com ela, na Cesp, e mais muitas apostas nos diversos ramos do setor imobiliário, de shoppings, a escritórios, residências e grandes aportes em espaços dedicados à logística.

Ricos não só em ativos, mas em liquidez, investidores de longo prazo como o CPP se dedicam a estudar a situação com calma, sem mudanças bruscas de portfólio nem na compra, nem na venda. Estão seguindo uma antiga máxima de Charles Munger, sócio de Buffett e vice-presidente da Berkshire: “The big money is not in the buying and selling… but in the waiting”.

Para Spielmann, a pandemia não mudou a forma de avaliar companhias, mas sim a confiança no resultado que se pode tirar das análises de fluxo de caixa descontado diante de um aumento tão grande de incertezas. “As variáveis são tantas e o cenário é tão pouco claro que o intervalo de valores possíveis de ser obtidos para uma mesma empresa está muito maior.” Seguir essa lógica apenas pode ser uma armadilha.

Dessa forma, temporariamente, será importante dar um peso maior para a análise relativa — ou seja, entender quais serão os setores mais afetados e, dentro do mesmo segmento, quais são as companhias que têm as melhores condições de se defender ou até de saírem melhores da crise.

Sem pressa, o executivo pode se permitir ter dúvidas onde outros parecem ter apenas certezas. Para ele, por exemplo, não está nada claro que o e-commerce, que se tornou o grande porto seguro do varejo durante a pandemia, manterá mesmo os atuais patamares se houver uma reabertura segura.

Não muda o entendimento de que a tendência é de expansão, mas a questão é o ritmo. Nos Estados Unidos, segundo ele, o comércio eletrônico saltou de uma fatia de 15% do total para 25%. Aqui, no Brasil, saiu de 3,5% para 5%. O ponto do executivo é se o patamar atual será a partida sustentada do crescimento ou se antes haverá um recuo, e de quanto.

Spielmann está resistindo à tentação das compras mesmo com o plano do CPP de elevar a exposição na América Latina. Hoje, o fundo tem 17,9 bilhões de dólares canadenses aplicados na região, o que representa cerca de 4,3% do total de ativos sob gestão. A meta é duplicar esse percentual até 2025.

O motivo para esse aumento é a busca por mais alfa, o retorno acima das metas para os investimentos. O objetivo mínimo do CPP é 4% ao ano, após inflação. Na vida prática, porém, a ideia é combinar retorno e risco para ter ganhos acima disso, em prazos muito longos. Da carteira total, 85% está aplicada em ações, de empresas abertas e fechadas (na forma de private equity).

“Nós temos o luxo de não nos preocuparmos com resgate. Isso quer dizer que, mesmo se esperarmos um pouco para entender melhor a situação, as oportunidades continuarão existindo.” A força da recuperação dos mercados não assusta Spielmann, que não vê risco de bolha de preços no Brasil. Ele destacou que o atual nível somente poderá significar excesso se houver uma mudança de rota e o país não conseguir implementar as prometidas reformas estruturais.

 

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