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A BRF disparou esta semana. Para o Goldman, há cinco razões para não passar de voo de galinha

Quarto trimestre forte deve marcar pico de um ciclo e não um novo normal para a dona de Sadia e Perdigão, diz o banco

BRF: Goldman tem recomendação de venda com preço-alvo de R$ 9,70 para o fim do ano (Germano Lüders/Exame)
BRF: Goldman tem recomendação de venda com preço-alvo de R$ 9,70 para o fim do ano (Germano Lüders/Exame)
Natalia Viri

Natalia Viri

25 de janeiro de 2024 às 14:16

As ações da BRF disparam nesta semana, com uma alta de 15%, na esteira principalmente da previsão de bons resultados para o quarto trimestre. O Goldman Sachs engrossa a fila de quem vem afirmando que o balanço do fim do ano deve vir forte – mas ainda assim recomenda cautela.

Em relatório, os analistas do banco citam cinco motivos pelos quais a alta recente pode ser apenas um voo de galinha. O Goldman tem recomendação de venda com preço-alvo de R$ 9,70 para o fim do ano, abaixo dos R$ 14,30 a que a BRF está cotada em Bolsa.

“Reconhecemos que o quarto trimestre pode vir acima do esperado (e estamos aumentando nossa projeção de EBITDA para o período), mas vemos essa melhora mais em função de um pico de ciclo do que o novo normal da BRF”, escreve Thiago Bortoluci.

O primeiro fator de preocupação é o preço dos grãos, uma das principais linhas de custo da BRF. O El Niño já começa a pressionar a soja e uma La Niña mais à frente pode ter efeito similar sobre a safrinha de milho, num momento em que a BRF não está muito comprada nesses insumos, o deve adicionar pressão de margens em caso de quebras mais significativas de safra. As curvas futuras sugerem uma aumento de custo médio de 7% no segundo semestre, aponta o Goldman.

Outro ponto é a sobreoferta de carne de frango no mundo. As exportações americanas caem 1,2% nos últimos doze meses, mas estão sendo compensadas por um volume 6,1% maior vindo do Brasil.  “O mercado Halal parece mais isolado desse efeito, mas mesmo ajustando por esse efeito, vemos um cenário persistentemente desafiador para as operações internacionais da BRF (que representam 44% das vendas)”, escreve Bortoluci.

O terceiro fator é a competição – leia-se, a Seara, da JBS. No mercado interno, a Seara adicionou aproximadamente 10% de capacidade de processamento em 2023 e planeja outro aumento de cerca de 10% este ano, principalmente focado em categorias de alto volume. Esse caminhão de oferta deve se refletir nos preços, especialmente num cenário de poder de compra ainda fraco do consumidor.

O quarto fator é a Marfrig. No ano passado, a empresa de Marcos Molina foi às compras no mercado até chegar à fatia de 50%. Agora no controle, a expectativa é que as aquisições parem, tirando uma importante força compradora do papel.

Por fim, a quinta razão diz respeito ao valuation. “No auge do ciclo de ganhos, vemos a BRF gerando um modesto rendimento de fluxo de caixa livre de 0,6%, um nível que é muito baixo para justificar sua atual relação de valor de companhia sobre Ebitda (EV/Ebitda) de 7,1x nos últimos 12 meses”, escreve.

O Goldman prefere a JBS, que, nos seus cálculos, oferece rendimento de 9,0% em 2024 enquanto a ação negocia com uma relação EV/Ebitda de 6,3x.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.