ESG

Pantanal: o futuro em suas mãos

É necessário um alinhamento e estrutura de governança local para atrair investimentos externos que visam o desenvolvimento sustentável em ecossistemas prioritários, como é o Pantanal

Imagem aérea do Pantanal (Mayke Toscano/SECOM-MT/Divulgação)

Imagem aérea do Pantanal (Mayke Toscano/SECOM-MT/Divulgação)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 7 de novembro de 2023 às 10h02.

Por Alexandre Bossi e Coronel Ângelo Rabelo*

Nunca o planeta esteve tão dependente de políticos melhor preparados para lidar com rápidas mudanças e tomar decisões baseadas em argumentos racionais e na ciência, sem levar em consideração ideologias ou pensamentos e interesses pessoais.

Questões climáticas começam a ganhar bastante relevância nas pautas e discussões e o Brasil tem a oportunidade de ser protagonista dessa agenda no mundo. As razões são óbvias, mas precisam ser explicitadas: possuímos a maior floresta tropical do Planeta, o maior estoque de carbono florestal do Planeta, a maior biodiversidade, a maior quantidade de água doce, nos 6% da cobertura de terra que contempla o território brasileiro, temos a capacidade de absorção de 40% de todo o estoque de carbono da área seca da Terra. Isso sem falar da matriz energética bastante limpa, a mais limpa entre as grandes economias do mundo (ver gráfico abaixo).

Emissões de gases de efeito estufa no Brasil em 2021 (SEEG 2021/Reprodução)

Metade de todas as nossas emissões são resultado do desmatamento em grande parte ilegal. Ou seja, resolvendo esse problema, nosso mapa de emissões será exemplo para todos os países que nos apontam o dedo sobre as questões ambientais.

A COP 28 se aproxima, onde serão discutidos temas como a transição energética e o financiamento estrangeiro para países em desenvolvimento com potencial de conservação de grandes porções florestais. O Pantanal pode e deve despontar como bioma alternativo para os investimentos que vêm sendo feito em massa na Amazônia. É necessário um alinhamento e estrutura de governança local para atrair investimentos externos que visam o desenvolvimento sustentável em ecossistemas prioritários, como é o Pantanal.

Nesse contexto, o Mato Grosso do Sul vive um momento ímpar do seu desenvolvimento. O Estado é um dos que mais cresce no País tendo mais que quintuplicado seu PIB nos últimos anos, um crescimento asiático em pleno centro-oeste brasileiro. A área convertida para agricultura no Planalto, as maiores plantas de celulose do Planeta e um setor de serviços pujante fazem a arrecadação estadual bater recordes durante anos seguidos.

No componente ambiental, o Estado é detentor da maior área úmida do planeta, o Pantanal. O Pantanal é 1/3 do Estado e é relevante geograficamente somente para o MS. Pois para o Brasil o Pantanal não chega a 2% do território, sendo o menor dos biomas e para o vizinho Mato Grosso, o Pantanal não chega a 8% do território. Existe até o questionamento de por que na criação do Estado, não se fez "Estado Pantanal" no lugar de Mato Grosso do Sul.

O Pantanal é o bioma mais preservado do Brasil e um dos mais preservados do mundo, mantém ainda mais de 80% de sua cobertura vegetal. Porém nos últimos anos, ao contrário de outras áreas no MS, viu seus índices de desmatamentos literalmente explodirem. Corumbá pulou para o segundo município que mais desmatou áreas em 2022 em todo o Centro Oeste e a área desmatada cresceu quase 3x de 2021 para 2022 e de 2022 para 2023. E o pior que tudo aparentemente com licenças ambientais emitidas pelo órgão ambiental estadual.

Um estudo do pesquisador Fábio Roque da UFMS, demonstra claramente que todo esse desmatamento é causado por poucas pessoas. São no máximo 10 "fazendeiros" que têm conseguido autorizações de desmatamentos enormes, alguns que chegam a 20 mil hectares de áreas contínuas.

E não são pantaneiros... são fazendeiros que enriqueceram fora do Pantanal e agora estão comprando áreas no Pantanal e literalmente passando o "correntão". As denúncias indignadas de pantaneiros antigos e tradicionais também explodiram pois eles sabem que essa nova forma de atuar no bioma será a destruição da natureza e da biodiversidade que tanto prezam e protegeram durante séculos.

Em todo esse contexto, o Governador Eduardo Riedel foi eleito e em pouco tempo de governo teve a sensibilidade histórica de suspender esse modelo legal que estava permitindo essa destruição e colocando o MS e o Pantanal nas manchetes ruins e na contramão do mundo civilizado.

Agora, com apoio do Ministério do Meio Ambiente, as sociedades sul-mato-grossense e brasileira têm a oportunidade de discutir o que querem para o Pantanal. Produtores rurais, sindicatos rurais, universidades, pesquisadores, ambientalistas, empresários do Turismo, a assembleia, as secretarias de governo podem opinar e dialogar.

No ambiente atual em que precisamos de líderes e políticos atualizados com as questões mundiais, o Governador Riedel ganha destaque em pouco tempo de governo por sua sensibilidade e atitude democrática.

Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.” (Manoel de Barros).

*Alexandre Bossi é presidente SOS Pantanal e Coronel Ângelo Rabelo é presidente Instituto Homem Pantaneiro

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