ESG

Iniciativa busca formar e profissionalizar mulheres na área de tecnologia

A ação {reprograma} pretende diminuir os abismos entre profissionais homens e mulheres na área de tecnologia

Cursos em tenologia: cursos da {reprograma} contam com módulo de formação em diversidade e inclusão  ({reprograma}/Reprodução)

Cursos em tenologia: cursos da {reprograma} contam com módulo de formação em diversidade e inclusão ({reprograma}/Reprodução)

Fernanda Bastos
Fernanda Bastos

Repórter de ESG

Publicado em 15 de outubro de 2023 às 08h00.

Última atualização em 16 de outubro de 2023 às 15h53.

“Onde estão as mulheres programadoras?”, foi o questionamento que levou Mariel Reyes Milk a criar a {reprograma}, um projeto de ensino de programação e cursos de tecnologia para mulheres, que luta para reduzir as disparidades de gênero no setor. De acordo com o Relatório de Diversidade no setor de Tecnologias da Informação e Comunicação 2022 da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais), apesar do número de mulheres no Brasil alcançar 51% da população, apenas 39% dos trabalhadores da área de tecnologia são mulheres. “A missão da {reprograma} é fechar o ‘gap’ de gênero em TI e diversificar a tecnologia”, afirmou Mariel Reyes Milk, fundadora e presidente do conselho da {reprograma}. 

Desde o início da ação em 2016 até o final do primeiro trimestre de 2023, a {reprograma} contou com mais de 23 mil inscrições nos cursos, quatro mil mulheres participaram das oficinas de seleção, etapa obrigatória para participação em qualquer processo seletivo do projeto. Deste número, mais de 2 mil mulheres se tornaram alunas ao longo destes sete anos e 71,7% delas se autodeclararam pretas ou pardas e 10%, trans ou travestis. As inscrições para os cursos, assim como o programa Conectadas, que busca capacitar adolescentes de 14 a 18 anos para aprenderem habilidades tecnológicas, abrem ao início dos semestres. 

“Nossas turmas eram 100% presenciais e, no início, nosso foco era mulheres desempregadas, por isso, o curso era integral das nove da manhã até às cinco horas da tarde. Em 2018, nos juntamos com a Meta e começamos a testar o modelo de cursos online. Com esse casamento com o até então Facebook, veio um investimento e passamos a ter um espaço físico nosso e ter ferramentas para contratar professoras e não só contar com voluntários. Um pouco antes da pandemia começamos a testar o modelo de ensino a distância e desde então ficamos no online, flexibilizamos a carga horária e assim, chegarmos em mais mulheres dentro do perfil que buscávamos”, disse Fernanda Faria, cofundadora e diretora de operações  da {reprograma}, em entrevista exclusiva à EXAME.  

Segundo Faria, as cidades com mais volumes de alunas são São Paulo e Recife, mas o projeto tem a ambição de alcançar outras regiões, principalmente fora do eixo Rio-São Paulo. A {reprograma} também têm grandes preocupações sociais, visto que priorizam, durante os processos seletivos, mulheres negras, trans, travestis e de outros grupos minorizados. Outra preocupação é dar assistência às mulheres em situação de vulnerabilidade social e de baixa renda. Mesmo com os cursos sendo 100% gratuitos, existem bolsas de estudos que auxiliam as estudantes a se manterem financeiramente durante o decorrer dos cursos como uma forma de incentivo à educação. “A educação é um verdadeiro divisor de águas”, afirmou Reyes Milk.

Seja a formação em JavaScript, Front ou Back-End com foco em Python, os cursos têm taxas de conclusão altas, com a taxa de 82% em cursos presenciais e quase 94% nas formações online. “Participando de alguns eventos, percebemos o poder transformacional da educação, principalmente no sentido da tecnologia. Muitas mulheres que passam pelos nossos programas, sequer se imaginavam na área. Pelo poder da coletividade, estamos estourando uma bolha. A {reprograma} não traz só a capacitação técnica, mas traz todo um empoderamento e pertencimento a essa comunidade de tecnologia”, disse Nadja Brandão, diretora executiva e CEO da {reprograma}.

EXAME libera Guia completo de ESG por apenas R$ 29,90. Garanta o seu!

Como funcionam os processos seletivos

Muitos detalhes foram aprimorados ao longo do caminho desde 2016, mas outro fator que impressiona sobre o projeto são as altas taxas de conclusão, como a taxa geral de 82% nos cursos presenciais e 93,9% no online. “Acho que o que garante a nossa taxa de conclusão alta é o processo seletivo. O processo seletivo é bastante longo e conta com diferentes etapas para garantir esse ‘feat’ entre as mulheres e os nossos cursos”, afirmou Carla De Bona, diretora de inovação e cofundadora da {reprograma}. 

As etapas de seleção são: oficina com introdução e um módulo sobre diversidade e inclusão, preenchimento do formulário de inscrição, entrega de um vídeo de apresentação, aplicação de um teste técnico, oficinas para avaliação técnica, comportamental e treinamento de diversidade – além do teste talent academy, que é um mapeamento de competências essenciais

Preocupação com a diversidade

“Temos diversidade e inclusão no processo seletivo porque queremos garantir que as mulheres envolvidas entendam as suas diversidades e as respeitem para fomentar, realmente, essa ideia de ter um ambiente seguro. Elas têm que sentir que podem ser elas mesmas, que não vai ter pergunta burra e que elas não sofrerão nada por conta de gênero, raça ou qualquer outra coisa. Mas que essas são características delas”, disse Faria. Hoje, cada turma conta com 40 alunas apenas para que seja mantida a qualidade de todo o acompanhamento e ensino oferecidos pelo projeto. Além das professoras, existe a figura da facilitadora que é uma pessoa responsável por acompanhar o andamento da turma nos cursos. Com isso, os cursos podem ser adaptáveis às necessidades de cada turma, com aulas extras em um módulo mais complexo para as alunas, para facilitar o processo de aprendizagem da turma como um todo. 

Para garantir a empregabilidade, a {reprograma} conta com ‘speed hiring’, uma forma de feira de contratação com entrevistas rápidas para que as alunas possam ter contato com empresas parceiras e companhias que estão divulgando suas vagas atrás de talentos. Atualmente, um evento deste tipo é realizado a cada dois meses. O programa também conta com patrocinadores para ajudarem a manter toda a estrutura necessária dos cursos. 

“Meu objetivo principal é que um dia a {reprograma} não precise existir. Esse é meu objetivo, que realmente não tenhamos que capacitar mais mulheres na tecnologia, seja uma área diversa em todos os sentidos. Esse é meu sonho. Uma mulher negra, mãe solteira e da periferia tem uma experiência de vida totalmente diferente das pessoas que hoje programam. E para a empresa, essa mulher pode trazer ideias que ninguém mais vai pensar. Então, o que penso é necessário ter empresas que acreditem nessa importância e como pode ser positivo para o negócio”, disse Reyes Milk. 

Veja também: 

Acompanhe tudo sobre:MulheresTecnologia da informaçãoCursos

Mais de ESG

Material reciclado e objetos de segunda mão: como nasceu o castelo europeu de 5 andares

Fórum global de favela desafia a lógica e valoriza a diversidade

Dia das Mães: apesar dos avanços, maternidade ainda é empecilho na carreira

Elas no front do Rio Grande do Sul

Mais na Exame