ESG

Em Cartagena, nem o cemitério escapa dos efeitos das mudanças climáticas

A 'joia do Caribe colombiano', como é conhecida, começa a ser 'devorada' graças ao aumento do nível do mar; sem a redução das emissões de GEE, o mar subirá 26 centímetros na baía até 2050

Ameaça: túmulos foram abertos devido ao aumento do nível do mar no cemitério Tierra Bomba (AFP/AFP Photo)

Ameaça: túmulos foram abertos devido ao aumento do nível do mar no cemitério Tierra Bomba (AFP/AFP Photo)

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Agência de notícias

Publicado em 12 de março de 2024 às 12h49.

Última atualização em 12 de março de 2024 às 13h21.

O nível do mar sobe a cada ano e, aos poucos, a baía de Cartagena é engolida pelo oceano. As caveiras de um cemitério atingido pelas ondas são prova da consequência do aquecimento global na cidade mais turística da Colômbia, que corre o risco de ficar parcialmente submersa neste século. A líder comunitária Mirla Aaron ficou chocada ao ver na beira da praia os ossos dos antigos habitantes de Tierra Bomba, uma ilha localizada em frente à luxuosa zona hoteleira de Cartagena, no norte.

O mar "destruiu 250 casas da comunidade, o posto de saúde, píeres (…) levou vários salões comunitários, infraestrutura elétrica" e o cemitério, diz emocionada Aaron, de 53 anos, à AFP.

Os túmulos destruídos, que estavam a uma distância segura do Mar do Caribe, são tão antigos que não há informações de familiares para cuidar dos restos mortais.

O problema dos efeitos da mudança climática em Cartagena se soma ao fato de que o principal porto comercial da Colômbia foi construído em um terreno com cavidades subterrâneas que colapsam, provocando seu afundamento.

"Lamentavelmente, a ilha tem sido vítima de um processo erosivo (...) que tem aumentado exponencialmente nas últimas décadas", afirma a líder comunitária.

Em 2021, a revista científica Nature publicou um estudo acadêmico sobre a problemática na cidade de quase 1 milhão de habitantes: desde o início do século 21, o nível do mar cresce anualmente cerca de 7,02 milímetros, "um ritmo superior" à média global (2,9 milímetros).

Se as emissões de gases de efeito estufa (GEE) não forem reduzidas, o mar subirá 26 centímetros na baía até 2050, e 76 centímetros até 2100, afirmam os pesquisadores da Universidade Eafit, de Zagreb, e da Internacional de Miami.

Paredes caídas

"O aumento no nível do mar na área costeira de Cartagena se deve a dois fatores", explica o cientista ambiental canadense Marko Tosic, um dos autores da publicação.

Primeiro, pela vulnerabilidade da cidade ao aquecimento global. Mas também devido à "subsidência", ou "afundamento do solo", que ocorre "por fatores tectônicos" e pela presença de "vulcões submarinos".

Essas formações vulcânicas "são lodosas e aos poucos a gravidade pressiona" e provoca o achatamento do terreno e o afundamento da cidade, acrescenta.

Há mais de 400 anos, em Cartagena, foi erguida uma fortaleza de muralhas para proteger as riquezas dos colonizadores espanhóis dos piratas. Essas construções são uma das razões de sua excepcional beleza, que lhe rendeu o título de Patrimônio Mundial da Unesco.

Atualmente, as autoridades locais estão estendendo 4,5 quilômetros de quebra-mar para amortecer o impacto das ondas. Sem essa construção, a prefeitura assegura que 80% dos bairros estariam sob risco de inundação.

A AFP observou casas com paredes caídas na orla, um restaurante inundado onde os trabalhadores tentavam retirar a água que atingiam os clientes e linhas de energia expostas pela erosão — antes, eram subterrâneas.

O especialista Tosic alerta que a situação do Caribe é gradual, mas se tornará letal. É uma mudança "muito pequena, estamos falando de milímetros ao longo dos anos, mas (...) a inundação será sentida".

Segundo ele, as populações pobres terão menos recursos do que as áreas dos grandes hotéis para lidar com a força da natureza.

Outro líder local e representante de pescadores, Mauricio Giraldo, reclama que o escudo de pedras protege as atrações turísticas e os hotéis de luxo, mas altera a corrente marítima e afeta as áreas onde vivem os mais vulneráveis.

Em Tierra Bomba, por exemplo, vivem "comunidades negras que foram escravizadas" e "que hoje resistem para não perder sua identidade", defende Aaron.

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