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‘Não vejo com otimismo possibilidades de avanço para o acordo Mercosul-UE’, diz cientista político

Na avaliação de Carlos Poggio, o presidente francês Emmanuel Macron deixou claro que não há interesse em resgatar a negociação que se arrasta há décadas

Presidentes Lula e Macron se encontraram em Dubai e falaram sobre as negociações do acordo Mercosul-UE. (Ricardo Stuckert/Presidência da República/Divulgação)

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Publicado em 19 de dezembro de 2023 às 08h00.

acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul está cada dia mais distante de se concretizar. Durante a 28ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que a negociação pode fracassar. O presidente francês, Emmanuel Macron, o maior obstáculo ao certame, não demonstrou qualquer interesse em prosseguir com os debates.

O professor do Departamento de Ciência Política do Berea College nos Estados Unidos, Carlos Gustavo Poggio, acredita que o acordo não sairá do papel, como apostava Lula.

“Na verdade, não vejo com muito otimismo grandes possibilidades de avanço, por enquanto. Estamos falando de um acordo de duas décadas de negociação que comprova que existem alguns obstáculos bastante fortes. O discurso do Macron só reforça essa impressão de que não há interesse por parte dos franceses em avançar no acordo”, afirma à Esfera Brasil.

Segundo o cientista político, o acordo seria mais importante para os países que formam o Mercosul do que para a União Europeia, que já firmou diferentes alianças com blocos ao longo do tempo.

“Acabamos não conseguindo avançar nas negociações da área de livre comércio das Américas e em nenhum outro tipo de negociação comercial significativa. O Mercosul está muito parado nesse sentido e perdeu o dinamismo. Foi importante inicialmente para aumentar o comércio, principalmente entre Brasil e Argentina, mas foi perdendo um pouco essa função”, explica Poggio.

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Pressão

Na avaliação do professor, a França é de fato o maior entrave à aprovação do acordo por uma questão protecionista. O argumento, antes usado pelos europeus, de que a negociação só aconteceria se o Brasil assumisse o compromisso de cuidar do meio ambiente, em especial da Amazônia, caiu por terra, já que, hoje, o País tem metas para zerar o desmatamento ilegal e incentivo à economia verde.

Na COP28, Macron mudou o discurso e passou a enfatizar que o texto estaria desatualizado: “Sou contra o acordo, porque acho que é completamente contraditório com o que Lula está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo, porque é um acordo que foi negociado há 20 anos e que tentamos remendar”.

Lula, por sua vez, ressaltou que o motivo para o acordo não ser firmado é o protecionismo. “Se não tiver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade. E que não digam mais que não saiu por conta da América do Sul. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão”, disse o presidente brasileiro durante a COP.

Para Carlos Gustavo Poggio, a proteção da Amazônia sempre foi uma desculpa, e agora os reais motivos vieram à tona. “Há uma pressão doméstica muito grande em alguns países europeus, notadamente a França, pela não assinatura do acordo, particularmente por conta do setor agrícola francês, que é bastante protecionista, e essa seria a grande vantagem competitiva do Brasil”, analisa. E complementa: “Por outro lado, no Brasil, você não tem uma oposição, mas também não vê setores que se articulam para que o acordo seja assinado”.

Mercosul

Apesar das divergências entre o presidente Lula e o novo presidente argentino, Javier Milei, os dois têm algo em comum: o desejo de tornar o acordo Mercosul-UE uma realidade.

“Curiosamente, dentro da perspectiva de Milei de aumentar o comércio liberal e comercializar com países não comunistas, talvez seja esse um dos poucos temas em que Lula e Milei acham alguma convergência”, destaca Poggio.

A equipe econômica de Milei já sinalizou ao Brasil, presidente temporário do Mercosul, o interesse em dar continuidade às discussões pelo acordo do bloco com a UE. Para o professor de Ciência Política, a aprovação do livre comércio faria toda a diferença para os países da América do Sul. “Não há nenhum outro acordo que o Brasil ou Mercosul tenham feito que se compare com a importância de um acordo de livre comércio com a União Europeia, seja do ponto de vista histórico – de destravar o Mercosul que jamais assinou um acordo desse porte –, seja no tamanho das economias envolvidas. Seria uma questão tectônica o fechamento desse acordo.”

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