Economia

O país que vai prevalecer

Escondido pela nuvem de calamidades da vida pública, há um Brasil vivo. Este, se no ano de 2019 não for exatamente a quinta economia do mundo, com certeza não será a 20ª

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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2010 às 11h20.

Das 500 maiores empresas brasileiras por vendas, segundo informa a última edição de MELHORES E MAIORES, publicada por EXAME, 186 tiveram faturamento superior a 1 bilhão de dólares em 2008. Neste mesmo ano, ao longo do qual a grande crise financeira internacional arruinou o desempenho de empresas e de economias inteiras pelo mundo afora, as 500 maiores do Brasil faturaram perto de 850 bilhões de dólares, mais do que haviam conseguido em 2007 -- um dos anos mais brilhantes que a economia brasileira já teve. Sozinhas, deram emprego a 2 650 000 pessoas -- 1,1 milhão de postos a mais do que o total de dez anos antes --, pagaram acima de 115 bilhões de dólares em impostos e foram responsáveis por metade de todas as exportações do Brasil no ano passado. Num ano em que as 500 maiores empresas americanas tiveram seu pior desempenho em seis décadas, as 500 maiores brasileiras tiveram um de seus melhores momentos. Em 2008, a indústria automotiva produziu 3,2 milhões de veículos, as vendas de computadores chegaram a quase 12 milhões de unidades e a safra agrícola, com cerca de 145 milhões de toneladas, foi a melhor de todos os tempos.

O desastre econômico mundial, que em outras ocasiões deixaria o Brasil na lona durante anos, não durou mais do que seis meses por aqui -- em seus piores efeitos, só se manifestou no último trimestre de 2008 e no primeiro de 2009. O presente dinamismo da economia não aparece apenas no setor privado. A Petrobras faturou 92 bilhões de dólares no ano passado, firmando seu lugar entre as grandes empresas do mundo, e lucrou 15 bilhões. Sua principal subsidiária, a BR Distribuidora, foi a melhor empresa do país na área do comércio por atacado. Juntas, pagaram acima de 25 bilhões de dólares em impostos. A Receita Federal, neste ano de 2009, acaba de processar digitalmente o recebimento de 25 milhões de declarações de renda -- sem um metro de fila nem a exigência de um único carimbo ou firma reconhecida. Dentro e em volta de São Paulo está sendo executada a maior transformação no sistema de transportes urbanos que a cidade já viveu em toda a sua história, com as obras do rodoanel, do metrô e da rede de trens metropolitanos -- algo que vai mudar radicalmente, nos próximos anos, a maneira como milhões de pessoas se deslocam no seu cotidiano. O que emerge disso tudo, em suma, é um país que poderá ser a quinta maior economia do mundo em dez anos, conforme disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, durante uma reunião com executivos da General Motors. (A propósito: a GM, esfacelada nos Estados Unidos, está investindo neste momento 2 bilhões de reais em sua operação brasileira.) Não faz diferença se o Brasil, no ano de 2019, não for exatamente a quinta maior economia; o que importa é que, com certeza, não será a 20a. Essa é uma batalha que já foi disputada e decidida nos últimos 15 anos -- e o Brasil ganhou.

Trata-se de uma visão que fica escondida por trás da nuvem de poeira levantada pela sucessão de calamidades da vida pública brasileira; a impressão que provocam no dia a dia é a de um país em estado terminal. Há o Senado, a Câmara e os 27 000 funcionários do Senado e da Câmara. Há o loteamento do serviço público entre os amigos e aliados de quem manda no governo. Há a flagrante privatização de áreas inteiras do Estado em favor de interesses, grupos e organizações particulares. Há um sistema judicial imprevisível, lento e voltado muito mais para a obediência a formalidades do que para o efetivo cumprimento de direitos e obrigações. Há toda uma legislação irracional, que agride a eficiência econômica, amarra a atividade produtiva e pune o trabalho, a iniciativa individual e o mérito. Há a inépcia, a indolência e a corrupção da máquina pública em todos os níveis.

Tudo isso, sem dúvida, é real e gera efeitos imediatos. Mas já não é suficiente para segurar o Brasil do progresso. O Brasil que está realmente vivo e vai prevalecer é esse -- e não o seu contrário.

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