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Cientistas esperam ter remédios contra covid até 2022, inclusive no Brasil

Os principais objetivos das novas terapias são reduzir as internações e as mortes causadas pela doença

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Coronavírus: para ser eficaz, o medicamento precisa entrar nas células infectadas e atacar o vírus. Mas deve fazê-lo sem destruir seu hospedeiro (Andriy Onufriyenko/Getty Images)

Coronavírus: para ser eficaz, o medicamento precisa entrar nas células infectadas e atacar o vírus. Mas deve fazê-lo sem destruir seu hospedeiro (Andriy Onufriyenko/Getty Images)

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Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de junho de 2021 às, 13h50.

Última atualização em 4 de junho de 2021 às, 13h57.

Com a vacinação ainda longe de imunizar a maioria da população mundial contra a covid, laboratórios farmacêuticos já testam em seres humanos medicamentos contra a doença. Os gigantes Pfizer, MSD e Roche são os mais adiantados, desenvolvendo antivirais de uso oral. A Boehringer investe em tratamento com anticorpos monoclonais.

No Brasil, dois soros, um do Instituto Butantan e outro do Instituto Vital Brazil, devem começar a ser testados em pacientes nos próximos meses. A expectativa é de algum projeto conseguir sucesso até o início de 2022.

Os principais objetivos das novas terapias são reduzir as internações e as mortes causadas pela doença. Diferentemente de antibióticos, que em geral podem ser usados contra vários tipos de infecções bacterianas, os medicamentos contra um tipo de vírus dificilmente funcionam no combate a outros. Os vírus são muito mais diversos, e têm menos proteínas próprias em comum que possam ser usadas como alvo genérico.

Para um remédio funcionar, ele precisa atingir um "alvo" - geralmente, uma proteína. Isso é particularmente difícil com os vírus, que se replicam dentro das células humanas. Assim, fazem os mecanismos celulares trabalharem a favor deles. Para ser eficaz, o medicamento precisa entrar nas células infectadas e atacar o vírus. Mas deve fazê-lo sem destruir seu hospedeiro.

Alvejar o vírus antes que entre na célula é outra estratégia possível. Mas não é simples: o invólucro do vírus é extremamente robusto e protege o seu material genético. Destruir esse invólucro e expor esse material pode ser tóxico ao organismo humano.

Outro problema é que, enquanto as drogas demoram muito tempo para serem desenvolvidas, os vírus sofrem mutações muito rapidamente. Podem, portanto, desenvolver resistência aos medicamentos. Ainda assim, existem vários antivirais eficazes - como os contra HIV, influenza e hepatite C.

Comprimidos

Um dos projetos mais avançados é o da MSD em associação com a empresa de biotecnologia Ridgeback Biotherapeutics. O composto se chama molnupiravir. Foi inicialmente desenvolvido contra a Sars e a Mers. Em estudo de fase 2, o medicamento foi bem tolerado em humanos — tomado na forma de comprimido, duas vezes ao dia durante cinco dias.

A ideia é que o medicamento atue no início da infecção, quando os primeiros sintomas surgem. O objetivo é impedir a replicação do vírus, para evitar o agravamento e a necessidade de internação. A terceira fase dos testes já está começando. Envolverá mais de 1.000 pessoas em 18 países, entre eles o Brasil.

A MSD espera ter os primeiros resultados entre setembro e outubro. "Os dados de estudos fornecem evidências convincentes para a atividade antiviral do molnupiravir", afirmou a diretora médica da MSD no Brasil, Márcia Abadi.

Outro projeto é da farmacêutica Roche em parceria com a Atea Pharmaceuticals. O medicamento também oral está sendo testado em 1.400 pessoas na Europa e no Japão. Os resultados também devem estar disponíveis até o fim deste ano, para aprovação dos órgãos reguladores. Como o da MSD, esse remédio deve ser tomado no início da infecção por cinco dias.

Já o medicamento oral em desenvolvimento pela Pfizer foi chamado de PF-07321322. É um inibidor de protease (espécie de enzima), como os usados contra o HIV. Foi desenvolvido especificamente contra o SARS-CoV2. Também já está sob testes em seres humanos.

Os primeiros resultados são esperados até o fim deste mês. O objetivo desse medicamento também é impedir que a doença se agrave. Deve ser administrado no início da infecção.

Outra vantagem desses antivirais é que eles poderiam ser usados também na prevenção da doença. Por exemplo, por pessoas que tenham tido contato com nenhum infectado.

Atualmente, o remdesivir, da Gilead, é o único medicamento aprovado para uso no tratamento da covid. É ministrado por via venosa e somente em pacientes internados em hospitais. São doentes que estão em estado mais grave, e com resultados não muito animadores.

Especialistas acreditam que a administração precoce dos novos medicamentos pode ser essencial para impedir o avanço da covid.

Anticorpos e soro

A Boehringer Ingelheim tenta outra abordagem. Trata-se da produção de anticorpos monoclonais (fabricados em laboratório, a partir de células vivas).

"Quando pensamos em tratar uma infecção viral existem duas estratégias: agir diretamente no vírus, nas proteínas que auxiliam na replicação viral, ou impedir o vírus de entrar na célula", explicou a diretora médica da Boheringer, Thais Gomes de Melo.

Os cientistas identificaram no plasma de pacientes com covid anticorpos específicos que atuam na proteína S do vírus, que permite sua entrada na célula. Esses anticorpos foram replicados sinteticamente em laboratório para o desenvolvimento do tratamento.

No caso do produto da Boheringer, a administração será por inalação. O processo garantiria concentrações mais altas no pulmão do paciente. Os testes de fase 3 em seres humanos começam em setembro em 40 países, incluindo o Brasil.

No país, o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Instituto Vital Brazil, no Rio, desenvolveram soros que podem ser aplicados tão logo o paciente apresente os primeiros sintomas. São feitos a partir do isolamento de anticorpos desenvolvidos por pacientes contra o SARS-CoV-2 e de sua replicação em modelos animais — cavalos, por exemplo.

Os dois institutos se preparam para o início dos testes em seres humanos. "O que a virologia nos ensinou nos últimos 40 anos é que, com esses vírus de alta mortalidade, os coquetéis costumam ser mais eficientes do que apenas uma droga; é o que acontece com o HIV e com o vírus da hepatite C", explica o virologista Thiago Moreno, da Fiocruz, cujo laboratório estuda o reposicionamento de alguns antivirais usados nesses coquetéis para o tratamento da covid-19. "Acho muito difícil que um único medicamento seja capaz de curar a covid. Mas acho que uma ambição que dá para almejar é uma redução das internações e da mortalidade. Acho que esse é o grande desafio a curto prazo."

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