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Vargas Llosa critica Putin e exalta democracia em discurso na Academia Francesa

Mario Vargas Llosa foi eleito em novembro de 2021 como membro da Academia, fundada pelo cardeal Richelieu em 1635

Mario Vargas Llosa: autor é o primeiro em língua não francesa a ingressar na instituição (Oscar J.Barroso/Europa Press/Getty Images)

Mario Vargas Llosa: autor é o primeiro em língua não francesa a ingressar na instituição (Oscar J.Barroso/Europa Press/Getty Images)

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AFP

Publicado em 9 de fevereiro de 2023 às 16h49.

O escritor peruano Mario Vargas Llosa afirmou, nesta quinta-feira, 9, à Academia Francesa, que "o romance salvará a democracia" ou perecerá com ela, em seu discurso de ingresso na instituição, no qual criticou a "Rússia de Vladimir Putin".

"O romance salvará a democracia ou afundará com ela e desaparecerá", disse o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, de 86 anos.

Ele afirmou que "países totalitários" só podem produzir romances que foram "mutilados" pela censura, citando "o exemplo da Rússia de Vladimir Putin".

"Vemos como ele ataca a infeliz Ucrânia e como se surpreende quando esta nação resiste, apesar de sua superioridade militar, de suas bombas atômicas e de suas enormes tropas", acrescentou.

Seu discurso de posse, na presença de acadêmicos e do rei emérito espanhol Juan Carlos I, foi ao mesmo tempo um inflamado elogio à cultura francesa.

Mario Vargas Llosa foi eleito em novembro de 2021 como membro da Academia, fundada pelo cardeal Richelieu em 1635. É o primeiro escritor em língua não francesa a ingressar na instituição.

Fim de um ciclo

Ele lembrou que quando estudava em Lima, “desejava secretamente me tornar um escritor francês. Estava convencido de que era impossível ser escritor no Peru, um país sem editoras e com poucas livrarias”, acrescentou.

“Militei por um ano no partido comunista peruano. Acredito que os existencialistas franceses (...) me salvaram do stalinismo”, disse.

Ao chegar a Paris em 1959, garantiu Vargas Llosa, se surpreendeu ao descobrir que na "capital cultural do mundo" autores como o mexicano Octavio Paz eram lidos há muito tempo.

"Foi, portanto, graças à França que descobri outra América Latina", disse.

Jovem escritor e jornalista em formação, Vargas Llosa comprou um exemplar de "Madame Bovary" de Gustave Flaubert assim que chegou à capital francesa.

Trabalhou como tradutor, como professor de línguas, e também "na Agence France Presse, na Place de la Bourse", recordou o autor de "A Festa do Bode".

"Foi em Paris que me tornei escritor", acrescentou. “Sem Flaubert eu nunca teria sido o escritor que sou, nem teria escrito o que escrevi. Graças a ele vocês me recebem hoje”, reconheceu.

"A partir dos anos 1970, foram os escritores sul-americanos que ajudaram uma nova geração de escritores franceses a não se desesperar com a literatura de ficção", disse o acadêmico Daniel Rondeau em seu discurso de réplica.

Último sobrevivente da geração do "boom" latino-americano, Vargas Llosa é autor de romances que marcaram as letras hispânicas do século XX, como "Conversa no Catedral" e "A Cidade e os Cachorros".

Com esta recepção histórica, a Academia deixa de lado o fato de Vargas Llosa se expressar na língua de Cervantes e as críticas de alguns meios de comunicação franceses às posições políticas de quem foi candidato à presidência do Peru.

"Esta é sua casa, esta tribo de obstinados e efêmeros imortais", concluiu Rondeau.

Juan Carlos I

Vargas Llosa já é membro da Real Academia Espanhola e da Academia Peruana da Língua, além de sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras.

Em declarações posteriores à imprensa, o escritor expressou sua ambição de dividir seu tempo entre as academias espanhola e francesa.

"Vir 15 dias para a Academia Francesa e depois 15 dias para a Academia Espanhola", disse.

A "instalação" pública do autor, como é conhecida no jargão da Academia, contou com um convidado excepcional: o rei emérito espanhol Juan Carlos I, acompanhado de sua filha Cristina.

Nomeado marquês por Juan Carlos I em 2011, o escritor convidou pessoalmente o ex-monarca, que mora nos Emirados Árabes Unidos desde sua polêmica saída da Espanha, em 2020.

"Acredito que o rei tinha que ser reconhecido de forma efetiva, como nós, espanhóis, somos reconhecidos pela liberdade que desfrutamos hoje”, opinou.

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