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A mulher da casa abandonada: quanto valeria a mansão de Margarida Bonetti?

Engenheiro comenta valor histórico e monetário da mansão abandonada em São Paulo, do podcast "A mulher da casa abandonada", no Spotify

A casa "abandonada" de Margarida Bonetti. (Google Maps/Reprodução)

A casa "abandonada" de Margarida Bonetti. (Google Maps/Reprodução)

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Julia Storch

Publicado em 5 de julho de 2022 às 17h16.

Última atualização em 8 de julho de 2022 às 16h53.

Se você costuma escutar podcasts, sabe qual é o assunto do momento. A mulher da casa abandonada e Margarida Bonetti, a única habitante da residência do bairro de Higienópolis, em São Paulo. Com quatro episódios publicados até então, o podcast produzido pelo jornalista Chico Felitti é o mais escutado no Spotify desde seu lançamento em junho. A investigação, porém, contagiou os ouvintes, que passaram a pesquisar mais sobre a mulher do rosto pintado de branco que habita a casa, o crime cometido e, é claro, a casa.

LEIA TAMBÉM: Chico Felitti revela spoilers dos próximos episódios

Na rua Piauí, próximo à praça Vilaboim, está um prédio icônico. O edifício Louveira, construído em 1946 pelo arquiteto Vilanova Artigas, é um dos pontos turísticos do bairro, devido à importância arquitetônica. O prédio foi tombado em 1992, porém, logo ao lado, a casa de número 1.111 se tornou o novo ponto de interesse do bairro.

Construída entre as décadas de 1920 e 1930, a casa de 20 cômodos possui um estilo eclético. "Há colunas coríntias, arquitrave e frontão, por exemplo, que são de momentos arquitetônicos diferentes. O ecletismo foi um movimento que aconteceu no final do século 20, então a casa não pertence à época do movimento, mas tem características deste estilo", comenta Octavio Pontedura, engenheiro civil e sócio da imobiliária Refúgios Urbanos.

A casa está localizada em uma das áreas mais nobres do bairro, onde passam poucos carros, tem aspecto residencial e proximidade a parques e shoppings.

Porém, ainda que seja uma das poucas casas remanescentes em um dos bairros mais valorizados da cidade, dois pontos são notáveis: a casa não foi vendida para nenhuma incorporadora e continua habitada, mesmo em uma situação de descuido.

Segundo o especialista em imóveis, o metro quadrado em Higienópolis custa entre R$ 12 mil e R$ 15 mil. Entretanto, o metro quadrado de um edifício novo pode ter valores mais altos, entre R$ 18 mil e R$ 20 mil. Mas, a casa pode ter perdido parte do valor, devido ao tombamento do entorno.

"A casa ainda vale muito em relação ao mercado. Se fosse colocada à venda, poderia ser demolida [para a construção de um novo edifício] dentro das restrições". Para Pontedura, entretanto, é preciso entender mais sobre o valor do terreno do que a casa em si. "É raro morar em uma casa de rua em Higienópolis, pois não tem aderência de mercado. O lote vale mais que a casa", diz.

Em 2018, Maria de Lourdes de Azevedo Tarnoczy, irmã de Margarida Bonetti, e também herdeira da casa, junto a um escritório de arquitetura e outros moradores do bairro, manifestaram-se contra o tombamento dos lotes no entorno da Praça Vilaboim, tombada em 2007. O grupo pediu a revisão da alteração de altura máxima permitida dos imóveis do entorno. Além da casa na Rua Piauí, as filhas do Dr. Geraldo de Azevedo possuem mais duas propriedades em uma rua ao lado. O processo, que pedia a revisão equiparando possíveis novas construções à altura do edifício Louveira, foi indeferido em 2019.

"Imagine quanto o terreno seria valorizado se pudessem construir um prédio de sete andares, com dois apartamentos por andar, com 200 metros quadrados cada um, com o metro quadrado avaliado em até R$ 20 mil", questiona Octavio sobre o protesto do tombamento do entorno.

Pelo estilo da casa, não há razões para o tombamento do imóvel, diferente de palacetes que ainda existem no bairro. "Em Higienópolis havia diferentes tipos de casas, com lotes muito grandes, como a Vila Penteado, que ocupava uma quadra inteira, e residências de volumes menores, para o padrão da época", comenta Octavio.

Para ele, outro ponto é a tipicidade, trata-se de uma casa que representa o "morar da elite nos anos 1920 e 1930". "A casa é típica do bairro, sem grande suntuosidade. Mas que tem interesse na história", comenta.

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A casa abandonada pode ser tomada pela prefeitura?

Segundo o podcast, houve denúncias dos moradores vizinhos sobre possíveis focos de dengue na casa, além do descarte indevido de lixo e excrementos.

O confisco de propriedade é algo difícil de acontecer, segundo Pontedura. "São necessárias diversas justificativas, pois subvertem a ordem da propriedade privada". Ainda que haja notificações de reclamações, a casa possui herdeiros e existe um proprietário.

No último final de semana, o Instituto Luisa Mell entrou na casa para o resgate de dois cachorros. Os animais estão passando por perícia para entender se há maus tratos.

Além disso, a mureta da casa foi grafitada com o inscrito "Escravocrata", em alusão ao crime cometido por Margarida Bonetti, e seu marido, Renê Bonetti.

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