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Faço ioga há 20 anos. E sou um péssimo praticante

Não tenho disciplina nem flexibilidade para fazer uma posição como se deve. Mas decidi parar de me sabotar

Postura adho muka, ou "cachorro olhando para baixo" (RossHelen/Getty Images)

Postura adho muka, ou "cachorro olhando para baixo" (RossHelen/Getty Images)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 2 de janeiro de 2023 às 12h37.

Última atualização em 3 de janeiro de 2023 às 09h25.

Dois mil e vinte e três marca uma efeméride pessoal. Faz 20 anos que comecei a praticar ioga. Duas décadas. E ainda assim, pelo tempo de estrada, sou um péssimo praticante.

Não sei cantar nenhum mantra, a não ser o básico om do início e do fim da prática. Confundo os nomes dos ásanas, as posições da ioga, em sânscrito. Tive de recorrer ao Google para citar alguns deles aqui. Minha flexibilidade é sofrida.

Não sei nem o gênero da prática, se o certo é a ioga ou o ioga. Se a pronúncia certa é iôga ou ióga. Sempre que comento com alguém sobre meu tempo de prática é de forma envergonhada, tom de voz baixo. Tenho síndrome do impostor com a ioga (ou o ioga).

Para quem conhece menos ainda do que eu, existem várias modalidades de ioga. Ou seriam estilos? Hata, iyengar, ashtanga… e existem alguns modismos ocidentais, como hot ioga, em que se pratica em uma sala fechada, com todo mundo suando em bicas.

Já fiz todas, ou quase todas. Ainda não tentei hot ioga, apesar da insistência de uma amiga (alô Lia Bock). Fiz aulas guiadas, práticas de iyengar pendurado por cintas na parede, sessões no parque, na praia, com ajuda de aplicativos como Down Dog durante a pandemia.

Pratiquei com excelentes professores. Um indiano chamado Upendra Arya, em Barcelona; o alemão Kalidas Nuyken, em sua antiga escola na Vila Madalena, antes de ele se mudar para o Rio de Janeiro; e um punhado de outros ótimos mestres.

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Veja bem, 20 anos é quase o dobro de tempo que os Beatles tocaram. É também praticamente o período de carreira de um craque como Lionel Messi. Imagine quanto dinheiro Abílio Diniz ou Jorge Paulo Lemann ganharam em 20 anos.

Aí entra o segredo do meu fracasso, a disciplina. Nos últimos anos tenho praticado sozinho, esporadicamente, uma vez por semana e olhe lá. Mas já tive fases de praticar quase diariamente, de manhã em jejum, como manda o manual do bom iogue.

Cada ásana tem mil detalhes de posições, dos dedos dos pés aos dedos das mãos, passando principalmente pela coluna. Para quem acha o tênis um esporte técnico recomendo uma prática de ioga.

Tudo isso sempre prestando atenção na respiração ujjayi, em que o ar passa raspando pela garganta, ajudando a esquentar e flexibilizar o corpo.

Para ficar em um dos ásanas mais básicos, o adho muka, esse da foto que abre este texto. Parece simples. Mas vá esticar a coluna, estender as pernas, abrir mãos e pés no tapete, abaixar a cabeça e ainda respirar pela boca e encolher a barriga (sim, em toda posição deve-se contrair o abdômen e respirar com os pulmões).

Para um truqueiro como eu, uma posição de ioga oferece dezenas de possibilidades de auto-engano. Afrouxar aqui e ali um movimento, dar uma respirada mais funda pela boca, fingir contração de músculos, soltar a barriga.

Quem perde sou eu. Sempre que volto a fazer uma aula com um bom professor faço uma promessa para mim mesmo de começar a praticar direito. Quando isso acontece na virada de ano essa resolução ganha mais força.

Nas minhas férias deste começo de ano tenho praticado com uma ótima professora chamada Indiana Marques. Mas desta vez está sendo diferente. Estou refletindo sobre minha relação com a ioga. Tentando entender porque, depois de duas décadas de prática, não consigo fazer um utkatasana decente.

Entre as minhas metas para 2023 quero parar de me enganar com a ioga. E me conformar. Não tenho a flexibilidade que gostaria. Também não vou começar a praticar horas por dia. Não tenho esse tempo e nem essa disposição.

Mas tenho sempre muito prazer em praticar ioga. Me sinto bem durante e principalmente depois. Ganho tônus muscular, maleabilidade física e mental. Vou continuar praticando, mas com mais consciência. Com mais disciplina e aceitando melhor minhas limitações. E menos vergonha.

Pode ser que daqui a outros 20 anos consiga fazer um trikonasana, a posição do triângulo, como se deve. O mais provável é que não. Paciência.

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