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Berlim redescobre contracultura gay da Alemanha Oriental através da arte

A capital alemã recebe uma retrospectiva dedicada ao pintor Jürgen Wittdorf, cujas obras homoeróticas eram compradas pelo regime e decoravam inclusive os edifícios oficiais

Uma retrospectiva de mais de 250 peças do artista alemão Juergen Wittdorf coincide com o que teria sido seu aniversário de 90 anos. (AFP/AFP)

Uma retrospectiva de mais de 250 peças do artista alemão Juergen Wittdorf coincide com o que teria sido seu aniversário de 90 anos. (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 1 de novembro de 2022 às 10h44.

Última atualização em 1 de novembro de 2022 às 10h46.

Mais de três décadas após a queda do muro, Berlim redescobre a marca da cultura homossexual na antiga Alemanha Oriental e o envolvimento da comunidade gay na dissidência em relação ao regime comunista.

Desde setembro, a capital alemã recebe uma retrospectiva dedicada ao pintor Jürgen Wittdorf (1932-2018). A mostra destaca o surpreendente percurso deste artista, cujas obras homoeróticas eram compradas pelo regime e decoravam inclusive os edifícios oficiais.

A exposição recebeu cerca de 20.000 visitantes, um sucesso inesperado para um artista que morreu há quatro anos e foi esquecido após a reunificação.

O público toma consciência da "coragem" que os LGTBQIA+ tiveram para passar despercebidos pela ex-RDA comunista, explica Stephan Koal, um dos curadores da retrospectiva.

A arte de Wittdorf envolvia "acrobacias": mascaradas como imagens do realismo socialista, representações altamente sensuais do corpo masculino, como um retrato de jovens atletas se esfregando no chuveiro, eram trazidas ao espaço público.

Definir-se como homossexual na RDA era tão tabu quanto em outras sociedades da época, especialmente quando "o regime via a cena gay como uma ameaça", diz Koal.

No entanto, o regime comunista descriminalizou a homossexualidade em 1968, um ano antes da Alemanha Ocidental.

"Os homossexuais eram um componente importante da contracultura incrivelmente transbordante" em Berlim Oriental, composta por intelectuais, ativistas ambientais, frequentadores de igrejas protestantes, artistas e marginalizados.

Todos eles foram a ponta de lança do protesto contra o poder comunista até a Queda do Muro, em 9 de novembro de 1989.

Para Karin Scheel, diretora artística do Palácio Biesdorf, que acolhe a exposição de Wittdorf, as 250 obras apresentadas são como "um tesouro quase enterrado" que brinca com os limites da censura em um Estado autoritário.

O caráter ousado de algumas obras não foi percebido por muitos. Mas, "para quem percebeu, foi sensacional", lembra Wolfgang Winkler, um ex-livreiro de 86 anos que conheceu o artista.

Associado do Departamento de Cultura da cidade de Berlim, homossexual e da Alemanha Oriental, Klaus Lederer elogia os esforços para solucionar o "apagamento" que esta cena vibrante sofreu.

Desde 2021, o Orgulho de Berlim Oriental homenageia os pioneiros LGBTQIA+ que resistiram atrás da Cortina de Ferro. Essa marcha também defende os direitos homossexuais agora questionados em alguns países da Europa Central, como Hungria e Polônia.

A redescoberta da cena gay na antiga Alemanha Oriental também acontece nas telas de cinema, com o recente filme de sucesso "In einem Land, das es nicht mehr gibt" (Em um país que não existe mais, em tradução livre).

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