Carreira

Por mais mães no mercado e menos pobreza menstrual: veja as apostas da Kimberly-Clark para este ano

Companhia investirá R$ 250 milhões no Brasil, sendo parte destinada para programas de RH

Sueli Thomé, diretora de RH da Kimberly-Clark: Acreditamos muito no autodesenvolvimento e autogestão, tanto para o bem-estar quanto para a própria carreira (Juliana Parisi;/Divulgação)

Sueli Thomé, diretora de RH da Kimberly-Clark: Acreditamos muito no autodesenvolvimento e autogestão, tanto para o bem-estar quanto para a própria carreira (Juliana Parisi;/Divulgação)

Publicado em 5 de março de 2024 às 07h30.

Última atualização em 12 de março de 2024 às 16h31.

É possível conciliar maternidade com o trabalho? Para a Kimberly-Clark, multinacional norte-americana de produtos de cuidados pessoais e bem-estar, recrutar mães que pararam as suas carreiras por causa da maternidade se tornou um dos desafios do departamento de RH.

Conhecido como Working Mom’s, o programa que vale para toda a América Latina foi criado no último ano e é voltado para a admissão de mulheres que escolheram ficar fora do mercado por um tempo e que desejam retornar para a vida corporativa.

“Hoje temos cinco mulheres no Brasil que foram recrutadas por meio deste programa e que estavam fora do mercado entre 1 e 4 anos. Temos alguns vieses que queremos acabar e esse é um deles. Temos visto como essas mulheres têm performado de verdade em suas áreas”, afirma Sueli Thomé, diretora de RH da Kimberly-Clark.

O processo seletivo acontece por meio de um banco de talento específico no LinkedIn que destaca na vaga o nome do programa..

“Priorizamos as mulheres mães para estas vagas e consequentemente estamos atraindo novas lideranças femininas”, afirma a diretora de RH.

Em um dos processos seletivos, uma das mulheres contratadas ficou surpresa de voltar para o mesmo cargo após 4 anos cuidando de dois filhos, afirma Thomé.

“Por conta dos vieses ela já tinha uma expectativa de ser contratada para um cargo menor, mas acabou sendo admitida com o mesmo cargo para a área de qualidade da fábrica de Suzano, com 80 pessoas abaixo dela”.

Além da busca focada por profissionais mães, a Kimberly busca oferecer um ambiente de trabalho propício para que essas mulheres possam ser produtivas dentro e fora da empresa. Entre alguns programas, a executiva destaca:

  • Acompanhamento materno: serviço de acompanhamento com uma enfermeira dedicada para a funcionária gestante, com o objetivo de prestar apoio do início ao fim da gestação;
  • Viagem programada: em viagens a trabalho, mães com criança de até um ano de idade podem viajar com o acompanhante da família e o bebê.
  • Women Mentoring Women: tem o propósito de conectar mulheres líderes de nível sênior com gestoras de outros níveis, visando, a partir desse acompanhamento, o desenvolvimento da próxima geração de lideranças femininas, em todos os setores.
  • Salas exclusivas de amamentação no escritório e na planta de Suzano;
  • Jornada flexível (com sexta-feira mais curta);
  • Licença maternidade é estendida de quatro para seis meses (os pais podem ampliar para 20 dias a licença paternidade) e isso se aplica para casos de adoção;
  • Há licença adicional para filhos prematuros: no caso de bebês nascidos até 28 semanas, a prorrogação é de dois meses, para nascidos entre 28 e 37 semanas, a prorrogação é de um mês.
Com esse olhar para as mulheres, a Kimberly-Clark já soma 569 mães, das mais de 1.146 mulheres do time geral de funcionários no Brasil.

Sobre liderança, a companhia segue forte com a sua meta. Na fábrica de Camaçari, 43% das posições de liderança são femininas. Já na Fábrica de Suzano, interior de São Paulo, pelo menos 20% das posições de liderança já são ocupadas por mulheres e a companhia já segue com projetos para igualar os números nas operações. “A nossa meta é de chegar a 50% de mulheres líderes até 2030 em todas as áreas. No administrativo, já temos 46,9% das mulheres na liderança”, afirma Thomé.

O combate à pobreza menstrual

Há um ano a Espanha se tornou o primeiro país do Ocidente a aprovar uma licença menstrual para funcionárias que sofrem com fortes dores no ciclo menstrual. No Brasil essa lei não existe, mas se caso existisse, iria contrapor a cultura da companhia de autogestão e autodesenvolvimento, segundo a diretora de RH da Kimberly-Clark.

“Como já temos o ambiente híbrido e flexível, não temos uma política voltada para a menstruação, porque já temos isso no dia a dia. Acreditamos muito no autodesenvolvimento e autogestão, tanto para o bem-estar quanto para a própria carreira. Já no caso das mulheres que trabalham na fábrica a dispensa é considerada.”

A companhia tem como meta global impactar 1 bilhão de pessoas em situação de vulnerabilidade até 2030, sendo que no Brasil a meta é promover o bem-estar de 50 milhões de vidas por meio de programas de educação.

Um dos programas que ajuda a combater a pobreza menstrual é o “Ela Pode”, iniciativa global que, por meio da marca Intimus, apresenta como base três pilares: questionar os estigmas da menstruação, garantir acesso à educação e abrir portas para meninas e mulheres realizarem seus sonhos.

"Nenhuma menina ou mulher deve colocar seu progresso em espera por causa de sua menstruação", diz a executiva. 

A companhia também segue com o projeto de doações. Em 2022, mais de 1,3 milhões de produtos como fraldas, lenços umedecidos, absorventes íntimos e roupas intimas descartáveis foram entregues em instituições, como  Mesa Brasil SESC e Plan International.

Outro projeto relacionado à educação é o "Escola de Liderança" voltado para meninas em Salvador (BA) e Teresina (PI). "Essa iniciativa visa apoiar o empoderamento das meninas para a prevenção de violências baseadas em gênero."

A aposta na carreira não linear

O aprendizado na Kimberly-Clark acontece em três fases que a executiva chama de 70:20:10 - no qual 70% se dão a partir de experiências de trabalho, 20% por meio de exemplos e trocas entre as pessoas e 10% por educação formal e cursos em geral.

Com essa visão, a companhia desenvolveu o "Programa Growth” que é global e que engloba ações de desenvolvimento profissional, possibilitando experiências de interação entre áreas, considerando pessoas desde o início de carreira até os cargos de alta liderança.

“Por exemplo, o funcionário de RH que quer conhecer como funciona a área de vendas, ele pode se inscrever em um projeto paralelo no nosso sistema interno. Você não abandona o seu trabalho, mas dedica parte do seu tempo para um novo projeto de uma área diferente”, afirma Thomé que reforça que existe uma diferença com o programa job rotation, em que é possível trabalhar em uma área por um tempo específico.

Outro programa que permite a troca entre as áreas é a “A week in a life”, em que você pode ficar uma semana em uma área avaliando como funciona os processos. “Alguns funcionários estão apostando neste programa para saber se deve colocar essa área como um próximo passo de carreira, inclusive em outros países”, diz Thomé. “É uma transição de carreira interna e vemos cada vez mais isso acontecer, afinal as carreiras não são mais lineares.”

A possibilidade de transição interna é um dos fatores que está ajudando a companhia a reter seus talentos, segundo Thomé, que afirma que na KC 30% dos funcionários têm 10 ou mais anos de casa, incluindo o presidente que tem 24 anos de companhia, passando por diferentes países.

“Observamos que as pessoas estão construindo suas carreiras por meio do autodesenvolvimento e essa possível transição de área ajuda muito no processo. Não queremos pessoas estagnadas, queremos pessoas que evoluem na área que mais se encontram”.

O investimento em novas práticas de RH promete avançar neste ano, uma vez que a companhia prevê alavancar suas operações no Brasil com um investimento de 250 milhões reais, considerando ações do RH. O valor veio do bom desempenho da companhia no último ano. A Kimberly-Clark atingiu vendas líquidas de 20.4 bilhões de dólares a nível global em 2023, 1% acima do ano anterior, com crescimento orgânico de vendas de 5%.

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