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Julio Zaguini: IA generativa, como ChatGPT, amplifica capacidades humanas

Dados dos economistas do Goldman Sachs estimam que a inteligência artificial afetará 300 milhões de empregos em todo o mundo

É provável que nos próximos anos muitas atividades profissionais sejam realizadas por máquina   (Oli Scarff/Getty Images)

É provável que nos próximos anos muitas atividades profissionais sejam realizadas por máquina (Oli Scarff/Getty Images)

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Publicado em 12 de junho de 2023 às 12h12.

Por Julio Zaguini*

A sensação de que a inteligência artificial (IA) generativa, como o ChatGPT e o DALL-E, passe feito um tsunami sobre o planeta tem razão de ser. Entre as várias estimativas que surgem nesse momento de reavaliação do mercado, menciono os dados dos economistas do Goldman Sachs, que mostram que a IA poderá afetar 300 milhões de empregos globalmente. O impacto pode chegar a 2/3 dos empregos atuais nos Estados Unidos e Europa expostos a algum grau de automação e até ¼ de todos os postos de trabalho do mundo. Há a perspectiva de que de 25% a 50% das nossas atividades profissionais sejam realizadas por máquinas. Embora os números sejam expressivos, precisamos posicioná-los em um cenário de expansão. O objetivo aqui não deve ser instaurar uma guerra contra a tecnologia, e sim se beneficiar dessa disrupção.

Como a IA generativa afetará o trabalho?

Não é a primeira e nem a última vez que a humanidade se depara com o paradoxo de incorporar os benefícios de novas tecnologias e lidar com seus efeitos colaterais. No início do século passado, quando a agricultura começou a ser mecanizada, houve pânico geral, migração em massa para as cidades e, por fim, um crescimento vertiginoso da economia norte-americana.

No atual contexto, a realocação da força de trabalho é bem mais difícil e depende diretamente do nível educacional do país. Na Coréia do Sul, por exemplo, os efeitos da IA generativa serão, potencialmente, muito mais positivos do que no Brasil. Os sul-coreanos investem pesado em educação há décadas e estão melhor preparados para se apropriar dessa novidade ou tomar novos rumos profissionais, se necessário.

A substituição do homem pela máquina apenas acontece onde há atividades repetitivas e de baixa complexidade. Um trabalho que envolva criatividade, pensamento crítico e estratégico, olhar analítico, empatia e ética não será riscado do mapa. Na verdade, esse tipo de trabalho será otimizado com o apoio da IA generativa, que oferece soluções com alta velocidade, qualidade e profundidade, na medida das habilidades do usuário.

Possibilidades e potencial da IA para diversos profissionais

Hoje, uma plataforma de IA já pode integrar sessões de brainstorming, disparando ideias que ainda devem passar pela capacidade analítica dos profissionais. Entretanto, solicitar que a máquina escreva um código para desenvolvimento de um complexo software exige outro nível de entendimento sobre o potencial de aplicação da tecnologia. Como acontece nas interações humanas, as melhores perguntas para a IA generativa obterão as melhores respostas.

Um advogado poderá delegar ao ChatGPT a tarefa de consultar as leis, e se concentrar na compreensão das demandas de seus clientes. Um médico terá o apoio da IA para ações burocráticas, como atualizar um prontuário ou preencher uma prescrição, e ganhará tempo para um contato mais longo com seus pacientes durante a consulta. E por aí vai.

Nos últimos anos, o potencial de compreensão e de resolução de problemas da IA aumentou significativamente. Esse aprendizado contínuo e infinito libera tempo para utilizarmos propriedades humanas preciosas como valores morais e visão estratégica. Por isso, ressalto que a inteligência artificial amplifica as nossas capacidades, e não simplesmente as substitui.

Desse lado da história, as perspectivas são promissoras, pois se apoiam na parceria perfeita entre homem e máquina. Trata-se de uma inteligência assistida, onde educação, saúde, negócios, segurança, entretenimento, turismo – diversas áreas e profissionais encontrarão novos horizontes e ótimos resultados a partir dessa união.

O que é necessário para se adaptar à IA?

Tragicamente, a maioria das pessoas não teve ou tem acesso a uma formação acadêmica necessária a essa guinada. E a palavra-chave, aqui, é educação. O que vai eliminar profissões e postos de trabalho é a defasagem educacional que exclui digital, social e economicamente milhões de pessoas – e não os avanços tecnológicos propriamente ditos.

Apesar da dinamicidade que a repercussão da IA generativa tenha ganhado, o processo de implementação e acompanhamento dos resultados ainda é gradual. Os atores dessa nova realidade precisam substituir a postura mecanicista ainda remanescente por jogadas estratégicas que são intrinsecamente humanas.

Falar de IA é uma discussão relevante e que deve ser continuamente atualizada, especialmente quanto a questões éticas e legais, porém fechar o foco nos seus riscos é tapar o sol com a peneira. Ela não é necessariamente a vilã, mas pode ser a sirene que avisa que falhamos gravemente em preparar as pessoas para a transformação digital. Que esse erro possa ser corrigido quanto antes.

*Julio Zaguini é sócio e CEO da Botmaker no Brasil

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