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Danilo Maeda: Descompassos e contradições

Nunca se falou tanto sobre ESG, mas 93% dos líderes empresariais estão enfrentando dificuldades para manter as metas de sustentabilidade

Mapear como as decisões impactam o futuro é o primeiro passo para lidar com um mundo complexo (Stock/Getty Images)

Mapear como as decisões impactam o futuro é o primeiro passo para lidar com um mundo complexo (Stock/Getty Images)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 2 de fevereiro de 2023 às 13h00.

Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 20h50.

Trazer o longo prazo para decisões do dia-a-dia. Esse é provavelmente um dos maiores desafios para implementação da sustentabilidade, seja em organizações, políticas públicas ou empresas. O desafio se dá tanto pelo fato de que nossa forma de pensar e tomar decisões tem vieses que subestimam o que está temporalmente mais distante quanto pela imperfeição dos mecanismos de gestão tradicionais em avaliar impactos e resultados que se concretizam no futuro.

Ou seja, temos uma incapacidade natural que não é compensada ou corrigida pelas ferramentas que costumamos utilizar. Talvez seja por isso que a agenda do desenvolvimento sustentável apresenta tantas contradições. Alguns exemplos: sabemos o que é preciso para conter o aquecimento global em um nível seguro, mas não conseguimos compromissos suficientes para isso e caminhamos para a produção de catástrofes climáticas; produzimos alimentos em larga escala e temos malhas logísticas que conectam todo o planeta, mas a insegurança alimentar é uma realidade para grandes parcelas da população.

A lista segue e também se aplica ao mundo corporativo. Nunca se falou e investiu tanto sobre ESG, mas a implementação é desafiadora: 93% dos líderes empresariais estão enfrentando dez ou mais dificuldades para manter as metas de sustentabilidade de seus negócios. Pesquisas com consumidores mostram um interesse crescente no tema e uma demanda cada vez maior por engajamento de empresas em causas sociais e ambientais relevantes, mas o nível de tradução dessas mudanças em termos de comportamento e decisão de compra ainda é restrito por limitações econômicas.

Resolver esses descompassos é fundamental. Afinal, mapear, classificar e estudar como as decisões de hoje podem impactar o futuro de negócios, organizações e sociedade é o primeiro passo para lidar com um mundo cada vez mais complexo. Mas é preciso ir além e investir na preparação para os diversos cenários possíveis, especialmente em relação aos riscos de longo prazo. Em alguns casos, será necessário fazer escolhas que, ao contrário do senso comum, não maximizam o retorno de curto prazo – mas que, em contrapartida, preservam recursos e promovem sustentabilidade.

Para falar de futuro como algo mais tangível, vale lembrar que o presente é o futuro do passado. Com isso, quero enfatizar que os desafios de hoje foram constituídos ao longo dos anos, a partir de decisões, ações e omissões. A conta sempre chega e a história tende a registrar mais o resultado final e de longo prazo do que os números satisfatórios de um aspecto em um único trimestre.  As perspectivas para nossas sociedades e organizações dependerão da capacidade de analisar, se preparar e se responsabilizar pelo futuro. Precisamos - com urgência - enfrentar as contradições que nos impedem de promover um modelo de desenvolvimento inclusivo, regenerativo e sustentável.

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