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Registros de vacina de filhas de Mauro Cid mostram aplicação antes de liberação em outra cidade

De acordo com as investigações, meninas realizavam atividades cotidianas em Brasília quando cartões apontam imunização em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense

Os fatos investigados configuram em tese os crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores (Alan santos/Presidência/Flickr)

Os fatos investigados configuram em tese os crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores (Alan santos/Presidência/Flickr)

Agência o Globo
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Publicado em 5 de maio de 2023 às 15h04.

Última atualização em 5 de maio de 2023 às 15h14.

As filhas do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), estavam em Brasília nas datas em que seus cartões de vacinação registraram as imunizações contra a covid-19 em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

De acordo com as investigações da Polícia Federal, a análise das mensagens de WhatsApp, decorrentes da quebra de sigilo telemático, “reforça os indícios de novas inserções de dados falsos nos sistemas do Ministério da Saúde”.

“Inicialmente causou estranheza o fato de as filhas de Mauro Cid, terem sido vacinadas na cidade de Duque de Caxias/RJ, pois Mauro Cid e sua família residem desde o ano de 2020 até a presente data na cidade de Brasília/DF. Os dados inseridos nos sistemas do Ministério da Saúde, informam que Mauro Cid e suas filhas tomaram três doses de vacina contra a covid-19, nas datas de 22/06/2021 (terça-feira), 8/9/2021 (quarta-feira) e 19/11/2021 (sexta-feira), no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias/RJ, sendo as duas primeiras doses da fabricante Pfizer e a terceira da fabricante Janssen”, informa a PF.

Inquérito sobre Mauro Cid e o envolvimento com cartões falsos de vacina

O inquérito, remetido ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aponta que as meninas estavam em Brasília nas duas primeiras datas. As conversas analisadas pelos investigadores demonstram que elas realizaram atividades cotidianas, “sem qualquer referência a viagem para o Rio de Janeiro, tampouco conversas sobre imunização contra a covid-19”.

Os dados registrados nos cartões de vacinação demonstram ainda que as filhas de Cid tinham 4, 13 e 17 anos ao receberem as três doses da Pfizer e da Janssen em 22 de junho, 8 de setembro e 19 de novembro de 2021. A Anvisa, no entanto, só autorizou a aplicação em adolescentes, a partir de 12 anos de idade, em 11 de junho daquele ano.

Além disso, Caxias só iniciou a vacinação de grupos que atendem as filhas mais velhas do ex-ajudante de ordens em agosto de 2021, dois meses depois da suposta primeira dose. Já a dose de reforço do laboratório Janssen só foi autorizado pela Anvisa em maiores de 18 anos e, nas datas registradas nos cartões das jovens, nenhuma delas era maior de idade.

Alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante

Ainda segundo a Polícia Federal, as inserções falsas, que ocorreram entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a covid-19 de Bolsonaro, seus parentes e funcionários. Com isso, tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes imposta pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos) destinadas a impedir a propagação de doença contagiosa, no caso, a pandemia de covid-19.

“A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a covid-19”, informou a PF. As ações ocorrem dentro do inquérito policial que apura a atuação do que se convencionou chamar “milícias digitais”, em tramitação perante o STF.

Os fatos investigados configuram em tese os crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores. Durante a operação, na última quarta-feira, foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão e seis de prisão preventiva contra pessoas ligadas ao ex-presidente, Mauro Cid.

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